Prisioneiro dela

Capítulo 6: Conversa com o lado humano

Quando retornaram à mansão, Débora questionou uma das empregadas se a tia estava em casa e ficou muito satisfeita com a resposta sem sentir remorso por se contentar com o longo hiato que se prolongava cada vez mais nos encontros entre elas. Com o lugar livre, ela se dirigiu à biblioteca e usou a internet em seu celular para entrar em contato com a empresa da família no exterior. Poderia ter feito isso antes e lamentou pela ideia não ter surgido em sua mente logo de início. Dessa forma, teria evitado presenciar aquela cena entre o advogado e a garota de programa, as mortes e a destruição. Agora só restava tentar contato diretamente com os representantes da família no exterior. Essa seria sua última chance de conseguir informações sobre seu pai.

Utilizando uma chamada de vídeo, ela conseguiu conversar com um dos advogados e teve dele a garantia de que a conversa não chegaria aos ouvidos de Mariah. Era um advogado novo que parecia trabalhar para a família Blake sem a mínima empatia pela tia de Débora, o que facilitou as coisas para a garota. O advogado lhe pediu o prazo de uma semana para lhe enviar por e-mail um dossiê completo sobre Adam Winter assim que Débora prometeu que a tia não saberia de sua identidade.

Tão logo ela se despediu e finalizou a ligação, Rodrigo entrou na biblioteca. Ele ainda vestia o uniforme, com exceção do paletó, e parou diante da mesa em forma de lua. Débora o encarou por alguns instantes, concentrando-se no que conseguira fazer quando perdeu o tio e nas frases ditas pelo rapaz que tanto mexeram com ela no estacionamento do edifício. Ela podia ver a essência da alma das pessoas materializada em cores e, assim, talvez pudesse descobrir algo sobre os poderes de Rodrigo e o porquê daquela atitude possessiva. Entretanto, nada, nenhum brilho foi visto ao redor do rapaz. Não conseguiu se concentrar o suficiente, pois algo em sua cabeça lhe dizia que fazer aquilo não era certo. Seria algo como uma invasão. Se fosse para saber de algo, que fosse questionando.

Ele também ajudou a cortar a concentração, dizendo:

– Dé, o que está pensando? Não mude comigo por causa do que aconteceu hoje. Eu realmente não sei como eu fiz aquilo.

Ela desfez o semblante sério. Sorriu levemente e foi até ele.

– Eu não vou mudar com você. Só quero entender o que aconteceu – ela o abraçou por cima dos ombros. Falou como se estivesse se referindo apenas ao que ele tinha feito contra o demônio do fogo, mas, no fundo, querendo saber mais. Pela primeira vez, não sabia como questioná-lo sobre um assunto. – O que você sentiu naquele momento?

– Foi uma mistura de raiva pelo demônio e desejo de protegê-la. Mas não como das outras vezes. Eu queria poder para lutar, ser mais independente – ele a abraçou pela cintura, puxando-a para si não com carinho, mas possessivo como naquele momento anterior. – Pra mim é difícil ter que depender daquele irritante do Aratz. Eu não o suporto. Não o quero perto de você.

Ele tocou sua testa na dela e fechou os olhos. As sobrancelhas desenhavam inquietação em sua face.

– Dé, eu te amo.

– Eu também te amo – ela realmente o amava, mas algo estava diferente.

Ambos buscaram os lábios um do outro em meio a um abraço forte. Foi um beijo cheio de carícias; ele subiu as mãos pelas costas dela, passou pela nuca e enroscou os dedos nos cabelos castanhos. Ele adorava senti-los envoltos por toda a maciez dos fios e sabia o quanto isso a deixava cheia de paixão. Ele pressionou o corpo dela contra a mesa com o dele e ela sentiu a rigidez de seu desejo. Queria senti-lo em seu corpo novamente, mas subitamente a imagem do demônio a chamando de rainha lhe veio à mente. Ofegante, ela afastou o corpo de Rodrigo do seu. Agiu delicadamente, dizendo:

– Desculpe, eu estou um pouco preocupada e...

– Tudo bem – ele mexeu nos cabelos dela, ajeitando uma mexa atrás da orelha e beijando os dedos da mão direita da garota. – Mas eu vou poder ficar com você está noite?