VIII. BDSM e o machismo.

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Há quem não goste do BDSM por acreditar que a subcultura é machista. Mas dizer que o BDSM é preconceituoso seria como dizer que, por exemplo, esporte ou música são preconceituosos. Não há nada que torne o BDSM intrinsecamente machista, pois há espaço para todas as fantasias, desde as mais certinhas até as mais escandalosas. Quem torna uma certa esfera do BDSM classista, sexista ou racista são os próprios praticantes. Assim como qualquer relacionamento em nossa sociedade, os relacionamentos pautados no BDSM também estão sujeitos à bagagem cultural e pessoal dos seres humanos.

Essa história que veio com o livro "50 Tons de Cinza" de que as mulheres estão todas louquinhas para encontrar um macho dominador não passa de pura besteira. Além das milhares de mulheres que são dominadoras, há uma infinidade de gays e lésbicas curtindo os seus fetiches.

Um dos argumentos usados por algumas pessoas é que, mesmo quando as mulheres assumem o comando, elas estão realmente tentando agradar os homens. E embora existam, de fato, muitos homens que tentam convencer suas parceiras a dominá-los, são incontáveis as mulheres que não querem nem saber o nome do cara que estão dominando.

Esqueça aquela imagem de uma moça jovem e bonita com roupa fetichista fazendo poses sensuais para atiçar o namorado. As pessoas de carne e osso, da realidade, são muito diferentes. Muitas senhoras de mais de 60 anos acreditam na supremacia feminina e disciplinam os seus maridos com roupa velha enquanto lideram suas casas.

Mas isso também não significa que o BDSM seja feminista ou subversivo. Há, sim, coletivos especialmente preconceituosos. Não espere que a galera com fetiche por pessoas gordas seja especialmente sensível com as causas contra a gordofobia. E algumas pessoas não têm muita noção de que suas fantasias são somente sexuais e realmente acreditam que isso se aplica pra todas as esferas de convívio social; o pessoal que segue o Gor, por exemplo, acha que a sociedade seria melhor se todas as mulheres fossem escravas sexuais.

No geral, as pessoas entendem que suas fantasias sexuais são só fantasias e não esperam o resto da sociedade siga as suas preferências pessoais. Esse é, aliás, um dos pontos chave para entender que a submissão feminina no BDSM não reforça valores machistas: uma mulher submissa no BDSM está fazendo uma escolha autônoma com relação a sua própria vida sexual de sair do sexo "comum" para o sexo "inconvencional", diferente de algumas pessoas que, apesar de baunilhas, acreditam que a submissão é o padrão para todas as mulheres.

O ponto é que, pro bem ou pro mal, no BDSM há espaço para todo mundo. Se você evita se relacionar com pessoas intolerantes na faculdade ou no trabalho, é só seguir o mesmo esquema e evitar pessoas intolerantes no BDSM.

"MAS POR QUE ALGUÉM IA QUERER APANHAR?"

Algumas pessoas gostam de dor simplesmente porque sentem prazer em uma sensação mais intensa na pele. Outras gostam de superar os próprios limites. Tem gente que gosta do fator psicológico, de se sentir humilhado ou subjugado por meio de torturas físicas. A verdade é que as causas dos seus fetiches são quase sempre irrelevantes: o que importa mesmo é como você se relaciona com eles.

Além disso, quando o corpo humano é exposto a muita dor, ele libera endorfinas, algo que pode causar um verdadeiro rush de prazer em alguns submissos.

Muita gente acaba descobrindo por acidente que gosta quando a mordida é mais forte ou o tapa mais doloroso. É assim que milhares de pessoas acabam descobrindo que curtem o BDSM.

Os Verdadeiros Tons (BDSM)Onde histórias criam vida. Descubra agora