XXX. Quando a submissão e a dor significam prazer (por Catarina M. Rodrigues).

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Ana e Bernardo. O que os une? O universo BDSM. Ana é submissa e masoquista, Bernardo é dominador e sádico. As festas, as dinâmicas, a sexualidade e os estigmas. O mais importante é "sentir".

"Eu comecei a gostar disto sem saber o que era isto", diz Bernardo. "Quando percebi que isto existia, pensei: afinal posso ser assim", diz Ana. Não se conhecem. Mas partilham um "isto" que os une: o mundo BDSM. O que os distingue está nas posições que assumem. Bernardo é dominador, Ana é submissa.

Ele gosta de "liderar" nas relações, de tomar as decisões, desde decidir o sítio para onde vai de férias com a parceira a decidir o caminho para onde segue a relação. Ela gosta que o seu "dominador" decida tudo por ela, recorre sempre a ele em (quase) todas as situações, seja para pedir uma opinião ou ter autorização, porque "ele decide sempre o melhor" para ela.

A dinâmica Dominação/Submissão "inclui uma variedade de comportamentos que envolvem troca de poder consensual entre parceiros (...)", como consta na tese de mestrado "Para além da dor: fantasias de prazer, poder e entrega", elaborada por Ana Mafalda Ventura Mota, junho de 2011. Mas a dinâmica (D/s) é apenas uma das três dinâmicas do universo BDSM. Outra é Bondage e disciplina(B/D), que "envolve a retenção física e/ou representações de dinâmicas de poder, podendo haver alguma punição física mas enquanto expressão de disciplina sexual psicológica e não com o objetivo de causar dor". E Sadismo e Masoquismo (S/M), que correspondem a "comportamentos e atividades sexuais que incluem experiências envolvendo dor ou ameaça de dor física ou psicológica".

Um sádico tem prazer em provocar dor. Um masoquista tem prazer em receber dor. Um switcher tanto tem prazer em provocar como em receber dor, dependendo das situações.

Alexandra Oliveira foi a orientadora do estudo e é professora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Define o BDSM, em termos gerais, como "uma forma de relacionamento sexual não convencional ou atípico, um jogo entre adultos que oferece prazer mútuo, onde pode haver restrição física e dor erótica". É um jogo "consensual de troca de poder erótico", explica. Palavra-chave. "Só aqui está quem quer e só faz o que quer e deseja a cada instante", lê-se num dos documentos entregues a praticantes a que o Observador (site) teve acesso.

Este será o único mandamento a seguir. De resto, as práticas, os objetos ou a natureza das relações ficam para cada um. Há pessoas que têm só relações sado/masoquistas, há quem goste só do controlo psicológico da dominação/submissão, há quem junte a dominação/submissão ao sado-masoquismo, há quem goste só de provocar ou receber dor, há quem goste das duas sensações, dependendo do momento e do/a parceiro/a.

Há casais que adotam as práticas sado-masoquistas na vida sexual, um com o outro, e há casais que têm um terceiro elemento para essas práticas. Os termos do BDSM funcionam como "guarda-chuvas", onde cabem um sem-número de variedades de ligações.

As relações e o sexo "baunilha" não entram no BDSM.

No BDSM cabe tudo, menos o "sexo baunilha". O termo é conhecido entre os praticantes. Designa aquele sabor comum, que não é bom nem mau, "não é grande coisa, entra em qualquer doce", explica Bernardo. Quem está no BDSM tem interesse por "algo mais do que o sexo tradicional", explica o médico, 38 anos. "Baunilha" é a ideia de "sexualidade comum". E o BDSM é mais que isso.

Os Verdadeiros Tons (BDSM)Onde histórias criam vida. Descubra agora