Prólogo

98 13 0
                                    

O incômodo silêncio perdurou sem que houvesse perspectiva de quebra. Dentro da sala, William encarava seus companheiros com os olhos semicerrados. As mãos, entrelaçadas, estavam na altura do queixo e abafavam sua respiração lenta.

Hector, Bela e Aubrey não ousaram perguntar o motivo de tanta preocupação, não até que o último convocado se apresentasse. Os três encaravam o vazio enquanto aguardavam com paciência.

O som da porta se abrindo ecoou de repente e todos se atentaram para o homem que entrava no local.

- Desculpem a demora – disse Zarius, ofegante. – Vim o mais rápido que pude assim que o corvo mensageiro me entregou a carta.

O comandante dos Cavaleiros Reais assentou-se na única cadeira disponível ao redor da mesa. De onde estava, era possível conversar com William frente a frente.

- Bom, acho que podemos começar a nossa reunião de emergência – anunciou o rei.

- Diga-nos o que aconteceu, pai – pediu Hector, falando pela primeira vez desde que chegou.

- Mais cedo recebi uma carta vinda de Pandorn – William mostrou um pedaço de pergaminho aos demais. – Ela relata que a região passa por uma grande crise civil.

- Crise civil? – Zarius repetiu o termo com clara confusão. – O que exatamente aconteceu?

- Um membro da Guarda Provincial foi assassinato por um feral.

- O quê? – Todos questionaram em uníssono.

- Por favor, me diga que existe uma justificativa minimamente plausível para isso – interveio Hector com os olhos arregalados.

- Todas as características levam a crer que foi algo premeditado – o rei explicou em tom baixo, olhando diretamente para o pergaminho que estava na sua mão.

- Então estamos falando do primeiro registro desse tipo em 87 anos – constatou Bela, preocupada.

- Isso com certeza gerou um clima de revolta na população contra os ferais – Aubrey emendou, reflexivo.

- Por que sinto que isso ainda não é a pior parte? – Zarius olhava diretamente nos olhos de William.

- Por que essa carta não foi enviada pelo regente ou por algum oficial de Pandorn – o rei redarguiu cruzando os braços com insatisfação. – Ela foi enviada sob sigilo por um amigo de confiança que tenho lá.

- Quando foi a última vez que a Regência da província enviou algum relatório para nós? – Hector inquiriu curioso.

- Há uma semana – William respondeu com um olhar distante. – E nada nele indica algo dessa natureza.

- Então temos dois grandes problemas – Bela ponderou, olhando para todos no recinto.

- O primeiro é o assassinato e as inevitáveis consequências que isso já deve estar causando entre humanos e ferais – Zarius apontou enquanto cruzava os braços.

- O segundo é por qual motivo o regente resolveu ocultar algo tão importante da Coroa – Aubrey complementou com expressão séria.

- E foi por isso que chamei vocês aqui. – William levantou-se da cadeira e apoiou as mãos sobre a mesa, inclinando levemente o tronco. – Quero que vocês se desloquem até Pandorn e investiguem o que está acontecendo. Precisamos saber porque um feral assassinou um Guarda Provincial de maneira premeditada e porque o regente ocultou isso de nós.

- Quando partiremos? – Quis saber Hector.

- Em três dias. Você, Bela, Zarius e Aubrey estarão encarregados disso.

- Os Cavaleiros Reais estarão sem seu comandante e subcomandante por tempo indeterminado. Você acha mesmo prudente enviar nós dois para essa investigação? – o Talentoso ponderou. – Aubrey poderia ficar aqui e me substituir como líder do grupo.

- Admiro sua ideia, mas Aubrey deverá ir com vocês – o rei reafirmou seu posicionamento. – Ele é o guerreiro mais furtivo que possuímos e isso certamente será fundamental para o sucesso da missão. Você pode escolher outro membro para liderar os cavaleiros durante esse período.

- Resolverei está questão em breve – Zarius informou acenando para William. – Mas por que então enviar Hector e Bela? Não que eu duvide de suas capacidades. Hector é um espadachim formidável e muito bom no corpo-a-corpo; Bela tem evoluído no seu treinamento de combate à distância, mas ambos são os futuros governantes do reino. Suas presenças lá atrairão toda a atenção que não queremos para investigar sem percalços.

- Você se engana, meu caro – disse William sorrindo pela primeira vez. – Hector e Bela irão justamente para atrair a atenção do regente e da alta cúpula. Assim, você e Aubrey poderão trabalhar com mais tranquilidade, sem precisar lidar com as burocracias da nobreza.

- Me parece um bom plano – Bela admitiu olhando para Zarius.

- Eu só espero não ter de lidar com uma nova insurreição – o Cavaleiro Real confessou dando um longo suspiro.

Floresta SetentrionalOnde histórias criam vida. Descubra agora