Capítulo 7 - Não vou mais me apaixonar

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Oi...
As vezes a vida te coloca em cada cilada, não é? Mas a gente busca força de algum lugar para seguir... Lia que o diga!

— O que é isso?

— Trouxe para você, sei que gosta. – Não tinha certeza se devia baixar a guarda e abrir o pacote, ou jogar aquilo na cara dele e sair correndo.

— Obrigada. – Respondi meio apática.

O desejo que eu tinha era que ele sumisse da minha frente pois a única coisa que eu via ali do meu lado era a imagem de um homem nu no meio da transa com a amante, que para constar, era uma baranga.

— Eu fiquei muito mal esses dias. Estou sofrendo com tudo isso e queria que você me perdoasse, para podermos voltar ao que éramos. Aquilo foi um deslize sem importância. Não vai mais acontecer. Eu cometi um erro e estou pagando por isso.

Um erro? Puxa, tão simples assim confessar o erro, mais simples ainda achar que é fácil consertar uma situação como essa. E ele realmente estava pagando? Quem estava pagando pelo erro dele era eu, com a minha dor.

— O seu conceito de algo sem importância não se aplica a mim, o que eu vi teve sim muita importância.

— A gente supera, Lia, eu estou aqui arrependido, te pedindo desculpas. Será que não consegue enxergar? – Tentou pegar na minha mão, mas não deixei. — Juntos somos fortes e podemos superar qualquer coisa.

Não era exatamente esse tipo de conversa que eu queria ter, muito menos com ele. Eu estava vulnerável pela situação, doze anos da minha vida tinham passado por minha mente nesses últimos dois dias, um relacionamento atrás do outro, uma chifrada atrás da outra. Onde é que estava o problema da minha vida afetiva?

Será que eu ia precisar aprender ser a mulher neurótica e ciumenta, fazendo aquela marcação cerrada sobre o homem que estivesse comigo ou precisaria simplesmente desencanar do amor e seguir a vida pulando de galho em galho, me satisfazendo como mulher de cama em cama, sem compromisso?

Ponderei um pouco e sem responder qualquer palavra ao pedido de desculpas dele, terminei de abrir a embalagem principal e vi uma segunda caixinha dentro do pacote. Eram os meus bombons favoritos, marca especialíssima da suíça, eu normalmente comprava aquelas perdições só quando sobrava muita grana do salário, isso é, nunca, porque eram caríssimos.

— São os seus favoritos. – Iago era muito astuto neste ponto, ele era tão bom em conhecer as pessoas, as conquistar. Óbvio que ele sabia que nenhuma jóia me impressionar tanto quanto um buquê de flores, um jantar preparado em casa ou... uma caixa com algo de chocolate topo de linha.

— Eu sei. – Abri a tampinha da caixa dos bombons e olhei para cada um deles.

—Volte para mim, Lia. – Ele pediu ao acariciar a lateral direita do meu rosto com a mão esquerda. — A gente vai se ajustando, eu sei que a gente vai conseguir entrar nos eixos outra vez, porque combinamos muito bem juntos, fomos feitos um para o outro.

Fechei os olhos e respirei fundo. Isso deu a brecha para que o Iago chegasse cada vez mais perto de mim e um milhão de outros momentos felizes entre nós invadiram o meu peito, intensificando a minha dor.

Será que alguma vez existiu verdade naquela felicidade? Parecíamos um casal tão perfeito.

Eu era aquela mulher durona e ao mesmo tempo não era, porque ali do meu jeito, reprimindo tudo para ninguém nunca ver, só o meu travesseiro sabia como e quando eu chegava ao fundo do poço e quantas vezes eu fraquejei, porque não era perfeita.

Quando Iago e eu ficamos juntos a primeira vez, um ano atrás, eu estava muito apaixonada por ele. Tinha vivido um relacionamento que tinha esfriado um pouco, tanto para mim, quanto para o meu ex, o Marcelo. E ao passo que vinha me preparando e buscando qual seria a melhor forma para terminar a relação sem que nenhum dos dois saísse ferido, o Marcelo estava é testando todas as alunas na cama. Ele era fisioterapeuta e personal trainer.

Sabe o pior? Todo mundo sabia pois eu malhava lá na academia dele. Foram dois anos de relacionamento, dois anos de risadinhas das vagabundas nas minha costas.

Claro que eu sofri, quem gosta de passar por uma situação assim? Mas como o sentimento já estava apagando, juntando a decepção, foi muito rápido me apaixonar pelo Iago e ele era carinhoso ao extremo, atencioso, cuidava de mim como se eu fosse tão preciosa.

Durante esse tempo todo ele me fez sentir o que é ser amada.

Nossa relação era tão intensa que vez ou outra chegamos a falar de casamento. Mas avaliando com outros olhos, acho que ele falava disso para me alegrar, pois talvez eu fosse o componente mais apaixonado da história.

Agora ele estava ali, do meu lado, arrependido de algo que ele considerava um erro, só um erro.

Iago levou a mão até a curva do meu pescoço, colou sua testa na minha e eu pude sentir, outra vez, o calor que vinha dele.

— É você que eu amo, volte para mim. – Ele sussurrou com seus lábios tão próximos aos meus, mas eles ainda não tinham se tocado e eu podia sentir seus movimentos mesmo de olhos fechados.

É incrível como nesses momentos em que precisamos das lembranças de tudo o que foi ruim em nossa vida para nos dar força, o nosso coração traiçoeiro começa a nos mostrar as coisas boas que tivemos e das quais mais sentimos falta. Ele nos prega uma peça e nos faz a mais dura provação.

Dizem para acreditarmos no coração, mas será mesmo que o coração estava sempre certo? Onde ficava a razão nessa história toda?

É claro que eu sentia muita saudade daquele beijo. Iago beijava muito bem, ele tinha aquela pegada firme e sedutora, que só de passar a mão pela minha cintura eu já sentia acender as partes mais proibidas do meu corpo.

Girei lentamente a cabeça para o lado, para tirar um pouco os meus lábios da linha dos dele, mas mantive os olhos fechados.

Eu era a Lia Mattos ou não era?

— Iago...

— Se solte, meu amor, eu sei que você também quer... – Ele estava sussurrando, deixando o clima ainda mais propício. Ah e ele era muito bom nisso.

Abri os olhos certa de que não havia nada mais importante do que a convicção que eu tinha sobre o que deveria fazer, peguei um dos bombons da caixa, uma iguaria indescritível e o enfiei goela abaixo do Iago com toda a força. Será que ele realmente achava que ia me comprar com uma caixa de bombons finos? Cretino babaca.

Enquanto ele tentava se livrar dos pedaços de chocolate cremoso que tinham caído pela roupa no momento em que o doce se despedaçou, tomei o máximo de distância dele.

"Safado, sem vergonha!"

Abri o porta luvas do carro e peguei a credencial de liberação de acesso à vaga interna da garagem. Era o último item que o permitiria aparecer pelo prédio sem ser anunciado.

— Eu acho que isso aqui é meu. – Disse ao abrir a porta com a credencial na mão. — Obrigada pelos bombons, realmente, são os meus favoritos, mas eu estou de dieta. Pode ficar com eles.

Será que ele realmente achava que eu ia ter coragem de beijar aquela boca, ainda mais sabendo que vinha beijando a Erica baranga? Sabe lá onde mais ele tinha colocado aquela língua. '100nhor', eu certamente ainda tinha um pouco de juízo na cara e muito nojo de imaginar todo o resto.

Deixei-o lá, ainda com a boca toda suja do chocolate que esfreguei a força em seus lábios. Sem conseguir dizer uma palavra, Iago estava chocado, totalmente e literalmente.

Cruzei o portão como um avião e ainda com passos rápidos e firmes, segui para o elevador sem olhar para trás e só quando me senti protegida da minha própria tentação, ainda entre os andares, percebi o quão acelerado e turbulento estava o meu coração. Recostei-me na parede lateral, com as mãos trêmulas e me pus a chorar.

Alguma coisa precisava mudar em minha vida. Eu não ia mais me apaixonar. Simplesmente não podia, aliás, eu não queria. O amor vinha me ferindo muito mais do que me fazendo feliz e concluí que esse seria o segredo da minha felicidade, viver sem sentimento.

É triste quando tu chegas nesta mesma conclusão que a Lia. Só que a vida é meio estranha, tu te apaixonas e isso te machuca, tu não te apaixonas e isso te machuca também. Lia vai aprender tudo isso, faz parte da trajetória dela, até que um dia ela será feliz... assim esperamos.
Bjks

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