Capítulo 6 - Noite de porre

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Oi Gurias...
Lia está um pouco dramática hoje. É normal. Primeiro a gente afunda e depois se levanta. Força Lia, hoje tu vais precisar.

Lia

A noite tinha sido bastante agradável, embora eu ainda guardasse dentro de mim aquela dor no peito. É claro que eu me sentia mal e triste, existia um vazio muito grande que me consumia, mas já conhecia muito bem essa dor, não era nada diferente da tortura que isso me causava todas as vezes que me dava mal nas relações afetivas.

O sentimento tanto te fere como te cura, mas onde estava a parte da cura?

A minha visão dos anos que vinha vivendo era que não existia nada de justo na vida, afinal, não eram exatamente aqueles que te machucavam os que estavam por cima? Por que raios esses todos mau caráteres estavam se dando tão bem?

Iago dando uma de gostoso no bem-bom com a baranga nos lençóis de seda que eu havia comprado para a cama dele enquanto eu me segurava para não desabar. Que justiça existia nisso?

Olhava ao redor e via que faziam o que faziam e no fim, nunca eram eles a deitar na cama com a cabeça contra o travesseiro tendo que deixar as lágrimas rolarem e sim nós, os inocentes. Quando foi que eu tinha feito mal a alguém? Nunca. Quando foi que eu me ferrei? Sempre...

Pessoas do bem não tinham como extravasar aquilo que éramos incapazes de fazer com gestos e frases não éticos. Até queria, mas jamais seria capaz de dar o troco na mesma moeda, não podia me igualar a eles.

— Vai com calma, amiga. Sei que dói, mas não tome nenhuma decisão irresponsável. Aliás, em momentos de dor é prudente evitarmos ao máximo tomar decisões, pois a chance de serem impulsivas e equivocadas é enorme.

Santa Rosana que dava conselhos para todos como se fosse nossa mãe.

— O que você acha que eu posso fazer? – Como se fosse possível eu fazer alguma c*gadinha maior do que a ter me enganado tanto com o caráter do meu ex.

— Você pode começar por não se pressionar e não se cobrar tanto.

— E tomar um porre, tudo bem? – Perguntei quando pedi outra Stella. Já tinha perdido a conta do quanto tinha bebido.

— Hoje pode, amiga. Eu estou contigo. – Ela me abraçou praticamente tentando me acolher. 

— Te fiz largar o Guto sozinho hoje, não é? – Odiava estragar os planos da minha amiga.

— Claro que não.

— Não mesmo? – Talvez eu estivesse meio alta mesmo.

— Pare com isso, Lia. Ele é só meu amigo.

Depois que ficamos sozinhas no bar, até o Junior não voltou a aparecer em nossa mesa. Eu devia era estar com uma cara tão ruim que estava afastando todo mundo. Ah... dane-se, eu tinha o direito de estar mal chorando no ombro da minha amiga, não tinha?

Na volta do bar, Rô e eu tínhamos compartilhado o táxi e primeiro passamos no apê dela para depois eu seguir sozinha até o meu, já que eu morava mais longe, mas não antes dela de certificar de que eu já estava bem o suficiente para ficar sozinha com o motorista nos dez minutos seguintes até o meu destino final.

Como a chamada tinha sido por aplicativo, o pagamento cairia direto no meu cartão de crédito, por isso, quando o motorista estacionou, desci do carro já baixando a adrenalina dos bons momentos que tinha passado com ela e começando a encarar um lado escuro dentro de mim, tão escuro quanto estava a noite.

Segui em direção à portaria e notei o segurança um pouco mais alerta do que o normal, vindo em minha direção. Isso não me parecia ser um procedimento normal. Só me faltava estar acontecendo alguma coisa...

— Lia... – Essa chamada não foi do segurança, conhecia muito bem a voz que veio atrás de mim e não tinha certeza se podia chamar este fato de dura realidade ou um pesadelo.

Por quê?

Oras, eu não queria lidar com tudo isso nunca mais. Tem gente que nasce de bunda virada para a lua, estava parecendo que esse não era mesmo o meu caso. Bem, não para tudo, mas para o amor, a minha bunda estava era virada para o inferno.

Acenei ao segurança para dizer que estava tudo bem, mas será que estava mesmo 'tudo' bem? Os meus sentimentos não estavam não. Dentro de mim, sentia que estava muito pior que um caco.

— O que você quer, Iago? – Perguntei ao dar meia volta e o segurança entendeu que eu não ia mais entrar. — Achei que tivesse sido bastante clara quanto a minha posição sobre o que houve.

— Precisamos conversar.

— A gente não tem mais nada para falar, entenda isso. – Eu não tinha energia nem para falar qualquer coisa, só sussurrava, exausta, quanto mais levar uma conversa dessas adiante. Não queria passar por tudo isso outra vez, principalmente a troco de nada.

— Você não vai me convidar para entrar? – Ousou perguntar.

— Não. – Acho que esse era o tipo de pergunta que nem resposta merecia.

— Tá bom, eu entendo. Então, vamos ali. – Ele apontou para o veículo estacionado em uma das vagas de visitantes. — Podemos conversar dentro do carro, aqui no meio da rua, de madrugada, não é legal.

Respirei fundo, ainda um pouco contrariada, mas eu não queria começar um escândalo. Fiz um gesto para o segurança mostrando que eu ia entrar no carro do Iago e ele me respondeu com um sinal de positivo, mas não voltou para o seu posto, permaneceu ali onde estaríamos ao alcance dos seus olhos.

Caminhamos em silêncio até a vaga onde ele tinha estacionado e quando o Iago destravou a porta, entrei no lado do passageiro e ele do motorista. Senti até um pouco de repulsa de pensar sobre quantas outras mulheres já tinham sentado naquele banco no mesmo período que eu.

— Você não atende minhas ligações, bloqueou minhas mensagens. Eu achei que existia algo entre nós, não precisava ter feito tudo isso.

Será que não mesmo? Se ele tinha vindo me esperar na porta de casa, o que não faria se eu estivesse atendendo às ligações ou respondendo as mensagens? Qual a dificuldade de um paspalho como ele não entender a minha posição quanto ao que tinha acontecido?

É óbvio que eu não era insensível, estava sofrendo como ninguém, só que, sempre fui uma mulher decidida.

— Pois é Iago, eu também achei que existia algo entre nós, mas vi que estava errada. – Respondi com a voz baixa e pausada, em um misto de cansaço e tristeza.

Ele ficou em silêncio, depois pegou um pacotinho que estava em cima do banco traseiro e me entregou...

Afinal, o que esse Iago sem noção está fazendo de volta? Sai prá lá idiota, deixe a nossa mocinha em paz!
Bjks

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