Capítulo 11: Mostre-me Quem Você É!

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- O quê, tá ficando louco? Do que você está falando? – Liam ficou muito confuso com a resposta de Raúl.

- Estou mais lúcido do que nunca. Agora já descobri quem eu sou e quero viver a minha história. – ele disse se levantando e virando de costas. – Aquele é o meu povo, são os meus súditos, que estão sofrendo. Eu não posso ficar aqui, sem fazer nada para salvá-lo, é minha responsabilidade.

- Eu entendo que é muita coisa para você processar, mas tenta raciocinar. Como você vai chegar até lá? – Indagou Liam. – Até onde eu sei, você não tem passaporte, sem falar que lá é uma ditadura, não deve ser tão fácil entrar. E esse é o menor dos seus problemas. Já parou para pensar no quê vai acontecer se você pôr um único pé em Mônaco? Vão acabar com  a tua raça e eu não posso permitir isso.

Raúl respirou fundo e suspirou.

- Liam, olha, eu sei que você está tentando me ajudar, eu sei que você só quer o meu bem, mas nessa vida temos que correr riscos – ele pegou nas mãos de Liam e o levou até a janela, o sol estava se pondo no horizonte. – Mesmo que seja perigoso, é meu dever como Príncipe Herdeiro proteger o meu povo, é isso que significa ser um herói. Colocar a segurança dos outros acima da da sua – nesse momento, Liam viu um arco-íris se formando no canto do olho esquerdo de Raúl, essa era a segunda vez – Dessa vez eu tenho que ser inflexível. Eu vou até Mônaco, e eu preciso de você. Sozinho eu não consigo.

- Sabe Raúl, você tem o arco-íris nos olhos. É um sinal de que está destinado a grandes coisas. Bem, eu continuo achando loucura o que você quer fazer, o que descobrimos é muito sério. Mas vejo que nada do que eu disser vai te convencer do contrário, fora que  seria irresponsável da minha parte deixar você ir sozinho. Ok, eu vou com você, mas precisamos de um plano. Esta noite vamos pensar num e amanhã resolvemos.

- Obrigado amigo – Raúl abriu um sorriso de orelha a orelha.

Liam gostava quando ele sorria, talvez fosse o que mais gostava no garoto. O coração dele batia forte no seu desejo de contar a Raúl o que sentia.

- Raúl, eu preciso falar com você. Eu... Eu sou...

- Oh Meu Deus! - o Garoto-da-Torre olhava para o relógio - Já é essa hora? Você precisa ir amigo, Evandro já deve estar perto.

- Mas... Mas eu... – gaguejou o garoto.

- Depois você me conta o que você quiser, mas agora é muito perigoso, ele pode te descobrir!– Raúl olhou pra ele com uma expressão de terror no rosto.

Liam suspirou.

- Tudo bem então. Pensa naquilo que eu falei, amanhã nos vemos. Tchau Garoto-da-Torre.

Liam desapareceu pela corda de lençóis e cobertores. O jovem príncipe se sentiu mal de tê-lo deixado ir sem dizer o que queria, parecia ser algo importante. Ele foi embora meio cabisbaixo.

Mas agora não tinha tempo a perder, tinha que voltar ao quarto de Evandro e arrumar aquela bagunça que tinha feito. O tutor não poderia nem desconfiar que Raúl já sabia a verdade.

Tão rápido quanto uma flecha de uma princesa escocesa ruiva, Raúl arrumou os papéis dentro da caixa de Evandro e a colocou de volta no comodo secreto. Quanto ao resto do quarto, ele tinha boa memória, então sabia exatamente onde cada coisa estava. Somente o que foi quebrado que ele teve que jogar no lixo. O quarto estava um brinco quando o menino fechou a porta. Já era de noite. Exatamente nesse segundo a porta da frente se abre. Era o dito cujo.

Raúl estava com vontade de jogar tudo na cara de Evandro, tinha vontade de pedir uma lista inteira de explicações, mas aquele não era o momento certo. Por isso ele tratou de fazer sua melhor cara de "Raúl chateado com a discussão do fim de semana" e tentou agir como se ainda estivesse assim. Mas, por dentro ele estava queimando de raiva e ódio.

- Oiê, meu querido! – Perguntou Evandro, entrando em casa, com sua bolsa na cintura.

Era hora do show.

- Oi – o menino disse secamente. A cara de Evandro murchou.

- Ainda não quer falar sobre o que aconteceu? – perguntou o tutor.

O pupilo respondeu com um sonoro “NÃO”, mas aí voltou atrás. – Pensando bem... Quero sim. Vem, sente-se.

Evandro deixou a bolsa na mesa de jantar e se sentou ao lado de Raúl, no sofá da sala.

- Eu queria pedir desculpas por ter passado dos limites com você – Raúl disse, de cabeça baixa – Não foi legal ter te pressionado daquela maneira. Pode me perdoar?

- Claro, pequeno príncipe! Também peço desculpas se aquilo que eu disse te magoou. Mas você precisa me entender. Eu já vivi muita coisa nessa vida e vi como a humanidade é de verdade. Eu só quero o melhor para você, te quero como o filho que eu nunca tive. Você foi o melhor presente que a vida me deu. Só quero te proteger.

- Eu te perdôo Evandro, é que às vezes eu sinto que você está me escondendo alguma coisa. – Raúl queria dar uma última chance de Evandro dizer toda a verdade. Ele pegou nas mãos do tutor e olhor bem fundo em seus olhos. – Você realmente não tem nada para me dizer, não está escondendo nada de mim?

Silêncio.

Realmente tinha esperança de que Evandro fosse fazer a coisa certa. Mas, para a decepção dele, isso não aconteceu.

- Não, não estou escondendo nada.

A cara de Raúl desabou em uma expressão cética.

- Ok então. – foi só o que conseguiu dizer.

Evandro levantou e foi para a cozinha. – O que vai querer para o jantar? - Perguntou o tutor.

- O que você fizer está ótimo – respondeu Raúl, estirado no sofá, olhando para o teto.

                 *    *    *    *    *    *   

Liam voltava para casa meio decepcionado consigo mesmo. O céu acima de sua cabeça estava rosa com azul e roxo. Ele adorava quando o céu ficava assim mas, naquele momento, nem isso o deixava alegre.

- É Liam, você fracassou de novo – ele falava consigo mesmo – pelo menos você tentou. Eu não posso ficar enganando o Raúl por muito mais tempo. Ele precisa saber quem eu sou de verdade... – ele olhou para o céu e suspirou - ...e o que eu sinto de verdade.

Então Liam, ou melhor, Lírio se lembrou de quando Raúl o abraçou, no quarto de Evandro.

- Jesus, eu sei que não deveria estar sentindo isso, mas eu não posso evitar. Quando eu vi o Garoto-da-Torre sem...daquele jeito, eu já fiquei besta mas aí, quando ele me abraçou e eu pude sentir a pele dele junto a minha... – Lírio sentiu um arrepio e um êxtase subindo pela espinha. Porém logo balançou a cabeça, como se seus sentimentos pudessem sair pelos ouvidos – Ahhhh...Chega! Não posso sentir isso, não é certo. Desculpa meu Deus.

E seguiu seu caminho, de cabeça baixa e coração ardendo.

O Garoto da TorreOnde histórias criam vida. Descubra agora