Capitulo 15: Todos a Bordo!

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A luz amarelo-canário do sol passava por entre as cortinas grossas e brancas da sala de estar do apartamento de Evandro. Ele deveria estar trabalhando naquele momento. Claro, se aquele fosse um dia como qualquer outro. O que não era o caso. O seu pupilo, a razão da sua vida e, ele se sentia assim, seu filho havia fugido há mais de 15 horas e Evandro não fazia a menor idéia de onde ele poderia estar a essa altura. Mas sabia de uma coisa:

Com QUEM ele estava.

Na noite anterior, quando ele leu a carta de Raúl e bateu com a mão na escrivaninha, uma gaveta se entreabriu. Pelo vão, ele achou uma foto um tanto peculiar.

Raúl estava com uma roupa de gala, todo elegante. Cabelo arrumado, de terno e gravata, com uma linda jóia em formato de flor saindo do bolso do paletó, em um lugar que parecia uma festa. Mas isso não era tudo. Ao lado do príncipe estava um garoto. Quase da altura dele, loirinho, olhos brilhantes, cheios de vida e entusiasmo, também usando terno e gravata, só que, ao invés de uma gravata azul, como Raúl, era verde.

Evandro ficou analisando aquela foto durante muito tempo,desde que a encontrou e muitas perguntas começaram a surgir em sua cabeça, do tipo:

"Quem é esse garoto?"
"O que Raúl está fazendo com ele?"
"Como eles se conheceram?"
"Será que o meu menino já havia saído antes desta casa?"

Entre muitas outras.

O antigo Conselheiro Real levantou do sofá, onde estava e foi para a janela, observar a Dublin embaixo dele, sentir o vento no rosto e olhar para o vazio, para ver se tinha alguma idéia de como agir. Ele já tinha avisado a polícia, mas não adiantou, disseram que era preciso terem se passado 72 horas para que constasse como desaparecimento. Apenas 20 horas haviam transcorrido desde o momento em que percebeu que Raúl não estava em casa.

Uma lágrima começou a correr pelo rosto de Evandro, ele se lembrava de quando Raúl era criança, das brincadeiras que faziam juntos. O vento que soprava o lembrava de quando o menino queria ser um super-herói. O Garoto-da-Torre dizia que o vento ativava seu poder de voar. Então Evandro o pegava pela cintura e o levantava bem alto, na sacada e pedia para ele fechar os olhos por um momento.

"- Isso é incrível papai! Estou voando, estou voando!", o pequeno príncipe dizia. Nessa época ele ainda era muito pequeno para entender que Evandro não era seu pai de verdade. O tutor deixava ele chamá-lo assim. Até incentivava, as vezes.

Evandro foi para dentro e voltou a sentar-se no sofá, fitando a foto que achou na gaveta, que estava em cima da mesinha de centro. Num impulso, ele pegou a foto e pôs-se a analisá-la.

Então ele viu uma coisa que antes não tinha percebido. Atrás dos dois garotos havia uma cortina azul e púrpura, em cima dela tinha um brasão. O brasão do Colégio Leaf Clover.

Tão rápido quanto um raio, o Tutor pegou sua chave, carteira e documentos e saiu do apartamento. Ele sabia muito bem onde encontrar mais informações sobre o desaparecimento de seu filho.

* * * * * * * * * * * *

Enquanto isso, no outro lado da cidade, dois jovens estavam prestes a ouvir a sentença de seu destino.

- E o vencedor ou vencedora da prova é...

Raúl e Liam deram as mãos instintivamente, contorcendo o rosto em caretas de dor, como se estivessem prestes a receber uma injeção que, eles saibam, ia doer.

O Garoto da TorreOnde histórias criam vida. Descubra agora