Caio de joelhos para, em seguida, desabar completamente no chão. Cruzo os braços sobre minha cintura, mas nada é capaz de amenizar a dor que sinto. Tenho um furo na região do estômago por onde o sangue se esvai e meus olhos ficam embaçados, mas ainda posso ver Sehun de pé. Ele me observa e continua com a arma apontada na minha direção, talvez prestes a acabar de vez com o que começou. Porém, eu também consigo ver Baekhyun apoiado na cama e a gaveta da cômoda aberta.
Ouço os passos apressados nas escadarias, mas minha percepção prejudicada faz parecer que eles levam séculos para alcançar o pavimento superior. No momento em que vejo o primeiro policial invadir a suíte, ouço também outro tiro, e Sehun despenca na minha frente, por pouco não caindo sobre mim. Sei que ele está morto porque o sangue se esparrama como um rio sob ele e há um estouro na lateral de sua cabeça, tão feio que me dá enjoo. Alguém corre até mim para verificar o meu estado e tenho a impressão de que meu corpo está começando a ter espasmos estranhos. Não chego a convulsionar, mas me movo sem controle e preciso ser segurado por mais de uma pessoa.
Há muitas vozes no ambiente, mas não consigo manter os olhos abertos. Olho uma última vez para Baekhyun e ele está visivelmente em estado de choque. Estão retirando a arma que Junmyeon me deu de suas mãos trêmulas e é aí que percebo de onde partiu o tiro que pôs fim a tudo.
Acordo no hospital dois dias depois. Meu pai está sentado na poltrona ao lado da cama, cochilando, e a televisão está ligada num volume quase inaudível. Sinto-me fraco demais para me mover e é como se estivesse quase desmaiando de sono. Tento dizer alguma coisa, mas há aparelhos em minha boca impedindo que eu o faça, portanto apenas resmungos ecoam pelo ambiente - mas não são altos o suficiente para acordar meu pai. Tento mover meus braços, porém há coisas presas neles, então dou um puxão com o braço direito, completamente desajeitado como se eu tivesse me esquecido do modo correto de me mexer, e alguma coisa cai ao lado da cama, arrancando a agulha do soro e me causando uma dor muito incômoda na região onde ela estava enfiada antes.
Meu pai desperta num salto, corre para meu lado e começa a apertar um botão de maneira desesperada. Em poucos instantes, duas pessoas adentram o quarto e começam a mexer nas coisas à minha volta. Meu pai leva as mãos ao próprio rosto e posso ver sua expressão de alívio.
Sou tomado por uma vontade imensa de pedir desculpas porque, de certa forma, sei que seu alívio não vai durar por muito tempo. Não quando eu sinto que não tenho mais nada e há a certeza de que todas essas dores que chegam aos poucos irão desaparecer de uma vez. Sempre ouvi dizer que as pessoas sabem o momento em que irão partir porque um filme passa diante de seus olhos, e há luzes e o diabo a quatro.... Mas a verdade é que não há nada, nada que lhe prenda e é exatamente por isso que você sabe.
Fecho os olhos e penso em Yixing com seu olhar suplicante, espancado sobre a minha cama, seu sangue por toda a parte. Enquanto eu me preocupava em também ser vítima de Sehun, enquanto eu esperava pelos golpes que ele me daria, Yixing se dava por vencido, porque também não havia mais nada para ele. Quando Sehun o acertou novamente, ele já parara de se debater e já não tinha medo, porque teve a consciência de que aquele era seu fim.
Não significa que não queremos lutar para sobreviver, significa que não podemos. Mesmo que eu tente manter os olhos abertos, eles se fecham; mesmo que eu tente falar, não há voz. Mesmo que eu nade contra a correnteza da morte, ela já agarrou minhas mãos com força e não há nenhuma troca a ser feita.
Mas existe uma brecha e eu a espio com todo o esforço que posso fazer.
- Eu deveria ter sido mais rápido do que ele - Baekhyun diz e sei que está do meu lado, porque sua voz entra em meu ouvido como se eu pudesse puxá-lo para dentro de mim. - Me desculpe Jongin.
É a última vez que abro meus olhos e o vejo com sua expressão de espanto. Há mais pessoas no quarto, mas são meros borrões. Baekhyun também começa a se apagar e entendo que não tenho muito tempo.
Posso não ter deixado nada para o mundo, nada que faça valer a pena as pessoas se lembrarem de mim. Porém, tenho que dar a Baekhyun a coisa que ele mais queria.
A verdade.
- Baekhyun... - Devo ter direito à tão poucas palavras e escolher as últimas é tão difícil, mas elas saem sem o meu controle. - O t-terraço... você pode v-ver... d-do terraço... Yixing...
Você pode ver Yixing do terraço é a frase completa que sai fragmentada como um enigma, mas Baekhyun saberá, porque é o que ele deve descobrir.
Sei que vai me odiar quando encontrar o corpo de Yixing e que um novo escândalo irá afetá-lo ainda mais, mas ele vai saber por que lhe disse isso e vai entender que a verdade afinal veio de mim e não de Sehun. Ele vai saber por que eu sempre observei a paisagem do terraço como se um buraco fosse se abrir para nos engolir.
Porque é realmente assim que acontece e eu finalmente estou caindo, infinitamente, e dessa vez são os meus fragmentos que se descolam um a um, enquanto sou engolido pelo meu destino e levado ao nada.
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Terrace
Fanfiction"Yixing desapareceu misteriosamente - dizem que ele voltou para sua cidade natal na China -, mas Sehun e Jongin sabem que ele está morto. Tendo de conviver um com o outro, mesmo sendo grandes inimigos com um segredo em comum, Jongin não perde as cha...