Prólogo

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A neve caia suavemente salpicando os cabelos claros, o rosto corado e as volumosas vestes cinzentas que Robb Stark utilizava naquela manhã. Sua égua baia trotava calmamente na Mata de Lobos enquanto a espada de aço vivo balançava contra sua coxa. Era a manhã do primeiro dia de outubro e faltava exatamente uma quinzena para o décimo oitavo dia de seu nome, porém o rapaz não se sentia muito inclinado à comemorações naquele ano em especial. Era já um homem feito, sabia bem disso, seu pai o havia preparado para este momento durante anos e o fizera muito bem, Robb sabia tudo sobre a história de seu povo, sobre o comercio, a politica, sobre as batalhas e, principalmente, sobre honra. Mas, por mais que quisesse e tentasse não conseguia se sentir preparado, ainda não sabia se tinha o conhecimento necessário para governar sem seu pai ao seu lado, o verdadeiro Protetor do Norte. Aquele lugar pertencia à ele por direito enquanto vivesse e Robb bem sabia que o lugar de sua família era ali, no Norte.

Ninguém precisava lhe dizer o real motivo da visita do Rei, que fora anunciada naquela manhã, apenas um tolo não perceberia. Jon Arryn, a mão do rei, estava morto e Ned, além de melhor amigo de Robert era, de longe, o homem mais competente e justo para o cargo, todos sabiam. Porém isso acarretaria em sua mudança para o Sul e em Robb assumindo o título de Senhor de Winterfell e Protetor do Norte. E não era apenas a grande responsabilidade que o perturbava, mas também o fato de que não queria ficar longe do pai. Sabia que depois de sua partida levariam anos para que o visse novamente, levando em conta a distancia que Winterfell ficava de Porto Real, e poderia apostar quantos veados de ouro quisessem de que ele não iria sozinho, provavelmente levaria algum dos irmãos com ele, se não todos. Seu coração se apertou no peito ao pensar na risada de Bran, nas brincadeiras de Rickon, que enchiam o castelo de vida, nas implicâncias de Arya e Sansa... Não queria que sua família se separasse daquela forma, não era certo, deveriam ficar juntos. Sabia que seria uma grande honra para os Stark, mas por mais que tentasse não conseguia esquecer-se do que seu pai lhe dissera quando não era mais que um garoto: "Quando as neves caem e os ventos brancos sopram, o lobo solitário morre, mas a alcateia sobrevive. No inverno, devemos proteger uns aos outros, devemos nos manter unidos." E o inverno estava chegando, ele bem sabia disso, mas como poderiam? Como poderiam se manter unidos e se protegerem quando o Rei viria a ordenar que o pai partisse para o sul com ele? Não sabia, mas sabia que, apesar do seu descontentamento, precisaria ser para todos o governante o qual ele havia sido educado para ser. Precisava ser o Senhor de Winterfell que todos esperavam que ele fosse, quando seu pai partisse não haveria mais espaço para medo ou incertezas.

Quando deu por si o sol já estava alto e provavelmente já estariam perguntando sobre ele no castelo, mas não sentia vontade alguma de regressar. Gostava do frio, do ar gelado contra o rosto, do cheiro das arvores e dos sons que a floresta fazia. Quando chegou ao riacho que cortava a região se aproximou para que a égua pudesse beber um pouco d'água enquanto descia para esticar as pernas. Assim que saltou de cima do lombo do animal seu lobo gigante se juntou a ele, com o focinho manchado de sangue.

– Por onde andou? - Questionou, com um meio sorriso quando Vento Cinzento se aproximou dele para ganhar um afago entre as orelhas.

Sabia, pelo menos, que o grande lobo sempre estaria com ele, para o animal não havia autoridade alguma capaz de tira-lo de onde ele pertencia, e esse lugar era o Norte, ao lado de Robb. Sua próxima missão era convencer Jon a permanecer com ele também, que fosse para o inferno com a Muralha e o Castelo Negro, Robb não se importava se o irmão era ou deixava de ser um bastardo, em seu coração eram irmãos tanto quanto os outros e ele precisava de Snow ali onde era seu lugar, em Winterfell.

– Vamos, Vento Cinzento, a mãe já deve estar perguntando por mim. - Chamou o lobo com a voz cansada, enquanto montava novamente em sua égua.

Andar sozinho na floresta sempre o ajudava com seus conflitos internos, era um hábito que tinha desde mais novo, quando suas saídas passaram a ser permitidas. Enquanto trotava de volta para casa pensava que deveria conversar com o pai, não podia demonstrar fraqueza nem hesitação em assumir o posto que lhe era direito e dever, porém cabia a ele tentar fazer Lorde Eddard enxergar que os Stark pertencem ao Norte. O sul, onde todos os represeiros foram tombados e os olhos dos antigos deuses não alcançam, não é e nunca será lugar para um lobo.

SunriseWhere stories live. Discover now