Sunrise

Capítulo 8

A neve caía com força quando a pequena comitiva montada à cavalo finalmente se viu diante das grossas muralhas e torres maciças de Forte do Pavor. Joanne encarou, entre seus cabelos que se agitavam com a nevasca, os merlões triangulares que coroavam as ameias da fortaleza, sentindo um arrepio em sua nuca que não tinha relação alguma com a baixa temperatura. Forte do Pavor era grande, forte e imponente, mas visivelmente fora poupada da magia e da beleza característica do Norte que ela vira em Winterfell. Era a outra face daquele Reino, uma pequena amostra do lugar duro e frio em que se encontravam. Assim que a ponte levadiça desceu ela respirou fundo, sentindo o ar frio congelar os pulmões, e ergueu um pouco mais o cachecol grosso de lã crua que cobria metade de seu rosto em uma falha tentativa de se aquecer.

A neve havia começado a cair no terceiro dia, a meio caminho da fortaleza dos Bolton, e desde então só ficara cada vez mais forte e intensa. Naquela altura o chão já se encontrava espesso, deixando todos os buracos, raízes e outros obstáculos ocultos, tornando a viagem ainda mais perigosa, lenta e difícil. Apesar de Joanne ter consciência do que a aguardava quando chegasse ao seu destino e do mau pressentimento que teve ao encarar, pela primeira vez, seu futuro lar, o que ela mais ansiava naquele momento era a proteção e o calor que apenas grossas paredes de pedra poderiam lhe fornecer, independente de quais fossem, por isso tratou de esporear sua égua e passar rapidamente pela ponte, sentindo as águas frias e revoltas do Águas Chorosas ricochetearem em seu rosto.

Por dentro das muralhas o castelo era ainda mais desprovido de vida do que ela imaginara, não havia cor alguma além de cinza e branco e apenas pátios e descampados circundavam as torres. Olhou em volta procurando por algo, mas nada havia para ser visto, nem sequer um septo, e o Bosque Sagrado não era mais que um amontoado de árvores selvagem e assustador em meio à neve alva. Alguns homens vieram recebê-los e guiaram-nos até o saguão de entrada, levando as montarias para os estábulos em seguida. Sem trombetas, sinos ou sequer uma palavra amiga, ela e sua pequena guarda haviam sido deixados na fria cela de pedra que antecedia a entrada do castelo, e a única informação que haviam tido era que logo as criadas os levariam até seus aposentos. O futuro noivo sequer fora mencionado.

– Bom, os nortenhos nunca foram famosos pela sua hospitalidade. – Tyrion comentou brevemente, em tom ácido.

– Agora me lembro do porquê odeio esse lugar. – Jaime disse, em um tom mais baixo, tentando afastar a neve incrustada nos ombros. – Que os Outros os levem. Como alguém consegue viver com o rabo gelado dessa forma?

– Agradeço os comentários positivos, irmãos. – Foi a vez de Joanne dizer, lançando um sorriso sarcástico para ambos.

– Olá, sejam bem vindos. – Uma voz calma e baixa se fez ouvir às suas costas, interrompendo as reclamações e chamando atenção de todos para uma menina pequena que não deveria ter mais de quinze anos. Seus cabelos eram escuros e espessos e ela mantinha a cabeça baixa constantemente, como se temesse à todos. – Eu os levarei até seus aposentos, venham comigo. – E, sem esperar por alguma resposta, se virou e sumiu para dentro da escuridão do castelo, obrigando-os a segui-la imediatamente.

Assim que conseguiu se acomodar no largo cômodo que havia sido designado para si, Joanne pode enfim respirar aliviada. Ali dentro era muito mais quente do que havia imaginado, aquecido de tal forma que o uso da lareira se tornava quase dispensável. A menina pequena que a guiara até ali havia esclarecido essa dúvida quando notou seu tom de surpresa perante a temperatura do interior da fortaleza, e segundo ela Forte do Pavor fica perto de uma abertura vulcânica que mantém o castelo sempre aquecido. Diante da informação Joanne acabou se lembrando, sem querer, que o mesmo acontece em Winterfell devido aos lençóis de água quente que correm por baixo da terra, emergindo em alguns pontos, como ela mesma já havia experimentado.