Antes que o sol tivesse se levantado no oriente sons metálicos de aço contra aço já reverberavam no silêncio da madrugada. Robb não obtivera sucesso algum ao tentar pegar no sono naquela noite e, depois de algumas horas encarando o teto de pedra, decidira se levantar. O dia de seu nome havia chegado e havia partido, mas ninguém, nem mesmo ele, se apegara muito à data, afinal todos os criados se ocupavam em organizar os insumos e preparar todos os mínimos detalhes para a chegada da corte real, que deveria ocorrer no decorrer daquele mesmo dia e prometia deixar algum rombo financeiro depois que partisse, o que também o preocupava um bocado, já que agora aquela seria sua responsabilidade. Não havia espaço ou vontade para comemorações.
Para a surpresa do rapaz, que vagueava pelos estábulos procurando algum afazer que desanuviasse sua mente das preocupações, seu irmão, Jon, parecia sofrer do mesmo problema de insônia, já que se encontrava ali, tão acordado quanto ele.
– Caiu da cama, Stark? - Indagou o moreno, com um meio sorriso, enquanto escovava a crina de um grande garanhão cinzento.
– Sequer fui capaz de pegar no sono, se quer saber. Você parece sofrer do mesmo problema, irmão. - Sabia que a chegada do Rei também preocupava o outro, mas a suas próprias razões.
– É mais fácil clarear as ideias longe da inquietação que anda o castelo nos últimos dias, a madrugada é boa. - Respondeu o bastardo, de modo simplório, enquanto deixava a escova cair dentro do balde. – Além disso, a madrugada também pode ser ótima pra eu chutar esse seu traseiro lá no pátio. - Um sorriso sacana cobriu o rosto de Snow enquanto ele afivelava a bainha da espada no cinto. Robb percebera que o rapaz andava evitando algum diálogo com ele nos últimos dias, já que sabia o que viria: Robb o pediria, com todo coração, que ficasse em Winterfell, ou que pelo menos se demorasse um pouco mais ali.
– Você não cansa de perder a espada pra mim, Snow? - Respondeu com um sorriso semelhante, comprando a ideia de um bom treino. Poderia adiar um pouco mais as preocupações para com o irmão e todo o resto.
Assim, aço contra aço, eles dançaram pela parte exterior do castelo até que os primeiros raios de sol apontassem no leste. Treinar com Jon era tão natural para ele quanto respirar, seus movimentos pareciam ensaiados e dificilmente havia um vencedor, era mais provável que continuassem a investir um contra o outro por horas, até que ficassem molhados de suor. Os dois irmãos treinavam juntos, todas as manhãs, desde que eram grandes o suficiente para andar, e era demasiado difícil pensar que em pouco tempo poderia não te-lo mais por perto. Pensar em Jon e em todos a quem ele deveria dar adeus o fez perder o passo e a parte plana da espada do irmão se chocou dolorosamente contra seu flanco. Não era comum que ele perdesse a concentração daquela maneira e Snow sabia disso.
– Fique. - Foi tudo que disse. A essa altura o sol já se erguera no horizonte e manchava o céu com tons róseos e alaranjados.
– Não posso, irmão. Não devo. - A dor em sua resposta era quase palpável.
– Deve. Seu lugar é aqui, sua casa é aqui. - Robb embainhava a espada, o treino havia acabado.
– Aqui é a casa dos Stark. Não sou um de vocês, sou um bastardo e um bastardo não pertence a lugar algum. - Concluiu, desviando o olhar enquanto os criados do castelo começavam a ocupar o pátio e os estábulos. Robb se adiantou para ele, segurando em seu braço com alguma firmeza.
– Eu não sei qual é a sua ideia de casa ou de pertencer a algum lugar, mas a minha se resume em família, o meu lugar é onde minha família está. E a sua família está aqui, Snow. - O encarou com seu brilhante olhar Tully. – O mesmo sangue flui através de nossos corações. - E no instante em que concluiu a sentença, Catelyn Stark chamou pelo filho enquanto atravessa o pátio. O momento acabara, Jon desvencilhou seu braço e acenou para ele, indo em direção aos estábulos. Nada que o Stark dissesse poderia amenizar a situação entre o irmão e a mãe, ele não mudaria de ideia. Com um sorriso triste ele caminhou em direção a mulher, passando um braço pelo seu ombro e beijando o topo de sua cabeça ruiva.
A manhã passara depressa, assim que Robb adentrara o castelo haviam surgidos os mais diversos afazeres, todos estavam ocupados com a chegada do rei. O grande salão havia sido decorado com o lobo cinzento, enquanto um grande estandarte do veado coroado havia sido estendido atrás da maior e mais elevada mesa do aposento, e abaixo dessa havia outra, tão grande quanto, porém inferior em alguns centímetros, eram os lugares de honra. O restante do salão era ocupado por pequenas mesas, inúmeras, espalhadas por toda sua extensão. Naquele dia todos seriam convidados para o banquete na presença do Rei, haveria festa, bebida e fartura. Que os deuses tivessem misericórdia de suas despesas.
Não demorou para que o sino tocasse alto no topo da torre, sendo seguido por trombetas e tambores, avisando que seus convidados haviam chegado. Sua irmã Sansa soltara um gritinho de entusiasmo, sua mãe parecia pálida e cansada e seu pai assumira o semblante do Senhor de Winterfell. Septã Mordane chegou apressada, carregando o pequeno Rickon e puxando Bran pela mão.
– Onde está Arya? - Indagou, colocando o pequeno no chão.
Robb sorriu pensando no pouco apreço que a irmã caçula tinha pelas regras, enquanto se colocava ao lado do pai e da mãe na entrada do castelo para receber os convidados reais. Sansa estava ao seu lado, seguida por Bran e Rickon. As carruagens já atravessavam o pátio e os cavalos eram direcionados aos estábulos no momento que Arya chegava correndo, empurrando Bran e se colocando entre ele e Sansa, não sem antes esbarrar na irmã também. Sorriu com a cena sentindo um furioso ímpeto de abraçar a caçula ali mesmo.
Assim que as portas da maior das carruagens douradas se abriram a figura grande e desengonçada do Rei tomara forma, descendo ao solavancos enquanto ralhava com quem tentava ajuda-lo.
– Acha que não sei descer por eu mesmo? Toma-me por um inválido? Eu matei Rhaegar Targaryen, sumam daqui. - Apesar dos maus modos sua voz era divertida e uma sonora gargalhada se seguiu. Imediatamente os Stark e todos os outros caíram sobre o joelho, reverenciando a autoridade máxima de seu reino. A rainha Cersei desembarcou em seguida, Robb nunca a tinha visto antes e se surpreendeu com sua aparência bela. Seus cabelos pareciam fios de ouro e luziam à luz o sol, porém ele logo se deu conta de que sua majestosa beleza não era nada se comparada à que se seguiu. A garota não deveria ser muito mais nova ou mais velha que ele, seus cabelos estavam soltos em caracóis dourados e seus olhos eram de um castanho profundo e intrigante, contrastando de forma sublime com a pele alva e os lábios avermelhados. Beijou as mãos do rei e da rainha repetindo mecanicamente os cumprimentos que a formalidade exigia, sem conseguir tirar os olhos dela, que estava cada vez mais próxima.
Pareceu uma eternidade até que a donzela, que ele sabia ser uma Lannister, a irmã mais nova da Rainha, se colocasse a sua frente, esperando pelo cumprimento.
– É um prazer recebe-la em minha casa, my lady. - Saboreou as palavras, encarando seus profundos olhos enquanto caía sobre um joelho e tomava suas delicadas mãos para um beijo que, sabia ele, fora uma fração de tempo mais demorado que os outros.
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Sunrise
FanfictionQuando Ned Stark é convocado para ser a Mão do Rei Robert e se mudar para o Sul, resta ao seu herdeiro, Robb Stark, assumir suas terras e títulos no Norte, se tornando o Senhor de Winterfell. Sua responsabilidade fica ainda maior com a morte do Rei...