Capítulo 17

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David

Ao fazer aquela pergunta a minha irmã deixou-me completamente atrapalhado. Será que é assim tão visível que eu gosto dela? Porque será que é tão difícil esquecê-la? Já não bastava ser difícil esquecê-la e  agora tenho aqui a minha irmã a perguntar-me isto. Eu e a minha irmã sempre fomos muitos próximos, sempre contámos tudo um ao outro e sem dúvida ela é a pessoa que me conhece melhor e eu sou a pessoa que a conhece melhor. Ela é mais nova do que eu quatro anos e já passou por tanto que a vida dela já dava para escrever um livro. Os meus pensamentos são interrompidos pela a minha irmã que diz:

-David, estás aí?

-...Sim. 

-Então...vais responder à minha pergunta ou vais ficar aí parado a olhar para mim?

-...Você conhece-me melhor que ninguém, não tenho dúvida disso. É uma história complicada. 

-Pois imagino, afinal pelo que eu vi ela tem dezoito anos. Não que isso seja um problema mas é nova, não sei se quer algo sério. Mas como vocês se conheceram? As histórias complicadas deixam-me sempre mais curiosa. 

-Tens mesmo a certeza que queres saber a história?

-Claro que sim. Eu já fiquei curiosa e agora ainda estou mais. 

-Ok. Bom tudo começou na noite que eu mais odeio à face da terra, a noite em que faz anos que a minha pequena morreu, neste caso fez quatro anos. Eu como sabes costumo sempre ir beber nesse dia e eu fui ao bar da praia do costume, mas quando lá cheguei fiquei surpreendido. Nesse dia estava a acontecer uma festa de verão e como tal aquilo com muita gente. Eu fui para o balcão, comecei a beber mas depois como tinha calor decidi ir para fora do bar. Ao ir para o exterior fui contra uma mulher, que era ela, e entornei a minha bebida em cima dela. Eu pedi desculpa e depois ofereci-lhe uma bebida e convidei-a a ir lá para fora para fazer-me companhia...

-Mas ela faz dezoito anos hoje...isso significa que ela era menor. 

-Sim, eu sei. Mas eu não sabia a idade dela. Para além disso ela tinha uma bebida na mão por isso eu pensei que ela tivesse mais que dezoito anos,  achava que era mais nova que eu como é óbvio, mas não tanto. 

-Ok, podes continuar.

-Nós conversamos durante muito tempo, mas depois ela disse que tinha de ir embora. Mas ao levantar-se ela desequilibrou-se e nós nos beijámos...

-Oh meu deus. Isto está a ficar cada vez mais interessante, até vou beber mais um pouquinho de vinho. 

-Deixa de ser engraçada, isto é sério e tu nem imaginas o quanto.

-Então conta-me mais.

-Depois dessa noite eu confesso que tive momentos em que pensei nela, não digo que estava apaixonado mas houve ali uma certa química. Contudo eu acreditava que a probabilidade de vê-la novamente era muito mínima. E aí foi o meu erro. Não há outra maneira de dizer isto, eu vou ser direto. No primeiro dia de aula eu voltei a vê-la porque ela é minha aluna. 

A minha irmã engasga-se, eu tento ajudá-la. Ela fica muito surpreendida e depois diz:

-Desculpa, mas eu definitivamente não estava à espera disto. 

-Eu compreendo, como eu disse anteriormente, é uma história complicada.

-Mas e depois o que tu fizeste? 

-Eu tinha que deixar de pensar nela por isso quando ela confrontou-me eu fingi que não me lembrava dela. Custou-me muito fazer isso mas teve de ser. Só que com o tempo eu fiquei, de uma forma não intencional, a conhecê-la melhor e depois aconteceram umas coisas que me fizeram aproximar dela e eu acabei por começar a gostar mais dela. Até que cheguei à conclusão que estou apaixonado por ela. Como eu sei que isto é errado eu decidi esquecê-la mas a verdade é que eu não consigo. Eu não vou negar, saber que ela tem dezoito anos deixou-me feliz, mas isso não muda o facto dela ser minha aluna. 

-Mas que história complicada. E se queres saber a minha opinião pela maneira como ela olhou para mim quando me viu e não sabia quem eu era e pela forma como ela sorriu para ti eu acredito que ela possa gostar de ti. 

-Achas mesmo?...Mas não importa mesmo que ela gostasse de mim, isto não está certo, ela é minha aluna, se nós tivéssemos algo isso iria trazer-me problemas a mim mas sobretudo a ela e eu não quero isso. 

-Olha eu realmente acredito que ela gosta de ti. Em relação ao resto, segue o teu coração e não te preocupes com o resto. Para além disso vocês conheceram-se antes de saberem que eram aluna e professor por isso não penses no resto e o que tiver que acontecer, acontecerá porque na minha opinião foi o destino que vos uniu. 

-Sempre foste uma romântica mas eu não posso seguir o meu coração. Tenho que esquecê-la.

-Tu é que sabes. 

-Mas obrigado. 

-Pelo quê?

-Tu sabes. Obrigado por me ouvires. 

-Eu sempre vou estar aqui. 

Nós continuamos a jantar e eu confesso que depois de falar com ela senti-me muito melhor. Isto tudo que estava a consumir-me e eu precisava de desabafar com alguém e não poderia ter arranjando melhor pessoa para desabafar. A minha irmã é melhor irmã que eu poderia ter. Ela aconselhou-me a seguir o meu coração mas eu não posso fazer isso não está certo. Durante a continuação do jantar eu reparo que a Beatriz olha de vez em quando para mim tal como eu para ela. Passado um tempo, a Beatriz e as suas amigas deixam o restaurante e, provavelmente, devem ir a um bar. Com a sua partida eu volto a concentrar-me no meu prato e na minha irmã. 








Bastou um olhar e tudo mudou (versão portuguesa)Onde histórias criam vida. Descubra agora