Capítulo 15

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Beatriz

Depois de eu aceitar o convite, o David chama o empregado e nós fazemos o pedido. Ele pede um hambúrguer e eu peço uma salada e uma sopa. Quando o empregado vai-se embora, o David diz:

-Uma salada e uma sopa? Estás a fazer alguma dieta? É que se estiveres eu acho que não precisas porque estás ótima assim. 

Eu fico um pouco corada depois dele me dizer aquilo, porque significa que ele olha para mim a nível físico, ele nota a minha reação e diz:

-Espero que não tenhas levado a mal o meu comentário. 

-Não te preocupes, eu não levei. Obrigada pelo elogio. E respondendo à tua pergunta, não eu não estou a fazer nenhuma dieta mas já comi um hambúrguer esta semana e eu não costumo comer  um hambúrguer mais do que uma vez por semana. E eu pedi uma sopa e uma salada porque eu não costumo comer muito ao jantar. 

-Entendi.

-Posso fazer-te uma pergunta?

-Tu já estás a fazer uma pergunta mas sim podes.

-Porque quiseste ser professor de jornalismo e não quiseste ser mesmo jornalista?

-Bom, quando eu tinha a tua idade eu queria ser jornalista, até queria ter o meu próprio jornal ou revista mas como deves imaginar quando eu saí da faculdade eu não poderia ter logo um jornal ou uma revista minha. Arranjei um trabalho num jornal mas depois com o tempo percebi que afinal aquilo não era o que eu esperava e que por mais que eu amasse investigar para depois poder partilhar com as pessoas, eu senti que precisava de fazer algo mais e então mudei de rumo e decidi ser professor. Eu amo a minha profissão e voltaria a fazer tudo da mesma maneira se pudesse voltar atrás no tempo.

Amei a forma como ele disse que ama a profissão. É bom ver alguém feliz com o seu trabalho porque hoje em dia muitas pessoas trabalham em áreas que não lhes interessam mas que servem para pagar as contas. Ainda bem que ele mudou de rumo se não o mais provável era eu nunca o ter conhecido pois ele é um dos melhores professores da faculdade logo se fosse jornalista o mais provável era já não trabalhar em Portugal. Os meus pensamentos são interrompidos pelo David que diz:

-Beatriz? 

-Sim.

-Em que estavas a pensar?

-Estava apenas a pensar como é bom ver uma pessoa a fazer aquilo que gosta, hoje em dia nem todas as pessoas podem dizer isso. Afinal muitas não trabalham naquilo que gostam mas trabalham para pagar as contas.

-Verdade.

O empregado interrompe-nos ao trazer os nossos pedidos. Nós começamos a comer e ao mesmo tempo conversamos.

-Tu fizeste-me uma pergunta, será que agora poderei fazer-te uma pergunta?

-Sim, tu podes.

-O que levou-te a querer ser jornalista?

Ao fazer-me aquela pergunta ele me faz lembrar do meu passado, mas a verdade é que por algum motivo eu sinto-me confortável para falar com ele sobre isto, por isso decido responder.

-...A verdade é que eu quero ser jornalista desde muito pequena. Eu fui abandonada e cresci parte da minha infância num orfanato. Eu quis tornar-me jornalista para poder ajudar as pessoas a saberem a verdade. 

-Entendi, tu quiseste ser jornalista para dar às pessoas aquilo que não te deram a ti pois tu não sabes o porquê de os teus pais terem te abandonado.

-Exatamente.

-Eu lamento. 

-Não lamentes. Os meus pais abandonaram-me e pronto. Não podemos mudar o passado. Mas felizmente a dona Maria acolheu-me na sua casa.

-Que bom que tiveste a sorte de ter alguém, nem todas as crianças órfãs têm essa sorte.

-Verdade. Eu realmente tive muita sorte.

Nós continuamos a comer e a conversar, depois de terminarmos de comer, pagamos a conta, arrumamos as coisas e saímos do café. Eu sigo-o pois não sei onde ele tem o carro, mas fico surpreendida quando chegamos ao pé de uma mota e ele me dá um capacete. 

-Uma moto?

-Sim.

-Mas e o teu carro?

-Eu tenho um carro e uma moto. Hoje eu vim de moto. Há algum problema?

-...Não...eu só não estava à espera. 

-Não me digas que tens medo de andar de moto?

-Não, não tenho. Na verdade eu sempre quis experimentar andar de moto eu simplesmente não estava à espera.

-Ok. Coloque o capacete, por favor.

-Ok. 

Nós os dois subimos na moto e ele diz:

-Podes agarrar-te a mim, não tem problema.

Eu agarro-me a ele e ele começa a conduzir. Estar ali agarrada a ele, aqueles músculos provoca em mim algo que eu nunca senti antes. Neste momento começo a ficar com calor, a minha sorte é que estou numa moto e consigo apanhar ar fresco. Eu não sei se ele vai ao ginásio ou não mas a verdade é que ele tem aqui um belo tronco. Tronco esse que eu já tive a oportunidade de ver e pensar nisso só faz aumentar aquilo que estou a sentir. Como é bom estar aqui nesta moto agarrada a ele, por momentos dei por mim a imaginar como seria a minha vida se nós não fossemos aluna e professor.  Tudo seria diferente pois existia uma hipótese de nós virmos a ter algo, mas por outro lado nada me garante que se nós não fossemos aluna e professor, nós voltaríamos a ver-nos depois daquela noite. Passado um tempo ele chega à minha casa. Eu tiro o meu capacete, ele também e eu digo:

-Muito obrigada por me teres trazido a casa. 

-Não precisas de agradecer-me. Obrigada por me teres feito companhia à refeição. 

-Tu também me fizeste companhia. Bom agora eu tenho que ir, foi um dia longo e eu preciso de ir dormir. 

-Pois, eu também estou cansado. Então adeus. 

-Adeus. 

Eu vou até à porta do meu prédio e o David diz:

-Beatriz, esqueceste de dar-me o capacete.

-Desculpa. 

Eu volto até ele, entrego-lhe o capacete e quando lhe dou o capacete nós ficamos muito próximos e por momentos eu tive vontade de o beijar mas não o fiz, eu não posso, ele é meu professor.

-Aqui tens. Adeus e boa noite.

-Boa noite. Adeus.

Eu entro no meu prédio e sento-me nas escadas a pensar na vida. Eu acho que estou a começar a apaixonar-me por ele. Cada vez que o conheço mais, mais gosto dele. Mas eu não posso sentir isto e para além disso ele não seria o tipo de homem para namorar, ele nem se lembrou de mim. Pode parecer uma loucura mas há momentos em que eu acho que ele também sente algo por mim. Decido subir até ao apartamento, entro em casa e faço o menos barulho possível para não acordar a dona Maria. Decido ir tomar banho para refrescar-me. Tomo banho, deito-me na cama e adormeço a pensar na minha noite de hoje com o David.





















Bastou um olhar e tudo mudou (versão portuguesa)Onde histórias criam vida. Descubra agora