Capítulo 2 - Gurizinho

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Ainda na sequência do dia/noite/madrugada anterior...

Por acaso troco algumas palavras com Raul durante o almoço e comento sobre o Marcelo, cobrando-o sobre responder o cara.

"deixa o chato na dele, sem paciência (emoji irritado)". Raul comenta.

Como não tenho nada com a situação, eu não comento mais. Depois, Patrick me perturba sobre minha solidão versus sua preocupação com meu bem estar psicológico.

"estou bem, vou entrar numa reunião." 

Mentira. Desculpa clássica para se livrar de chateação. Eu respondo afim de cortar o cara. Porém, é só eu entrar no carro às dezoito e dez, ele me telefona. Fácil de ignorar. Ele insiste. Deixo no mudo. Aí quem me liga? A mãe.

— Filho, fiz comidinha. Polenta com frango, passa aqui.

Minha mãe é engraçada ao telefone. Só faltou dizer: "câmbio" para eu falar.

— Passo sim. Guarda um pouco que trago de almoço amanhã. Ó vou dirigir.

— Ah tá... vem né?

— Vou sim. Xau, dona mãe, beijo.

Depois é o Patrick. Pior que atendo só pra dizer:

— Tô no trânsito. É alguma coisa urgente? Ligou...

— Liguei, né. Tu some e todo mundo fica preocupado, te procurando.

— Quem é todo mundo? Eu trabalho, cara. Não sumi coisa nenhuma.

— Hoje quero sair um pouco, vou passar na tua casa.

— Já tenho compromisso.

— Quem?

— Depois te ligo. — desculpe, mas desliguei. Eu nunca fui cobrado assim nem pelo ex, até parece que aceitaria esse cara me perturbando. Nem ele, nem ninguém. Pior que eu sempre quis que o Carlos fosse assim durante a semana. Que fosse um romântico, que falasse todas as manhas que eu adoraria ouvir... e quando me dou conta, pensei nele outra vez.

Na casa da mãe, eu janto e me culpo. Embora não tenha problemas com sobrepeso, eu sempre me cobrei muito. Não consigo sair da linha. A auto disciplina é uma das minhas torturas.

— Meu Deus, que irritante esse cara. Oi. — demonstro desânimo ao atender o Patrick. — Não tô em casa.

Minha mãe fica gesticulando para saber quem é. Meu pai sai do banho e levanta a mão pra me cumprimentar. Fala alguma coisa comigo e eu lhe peço licença para atender o cara ao telefone.

— Porra, quem é? — Patrick me cobra.

Eu seguro a língua para não mandar o cara se fuder. Ele demonstra um ciúme que não me interessa. Eu já quis isso, mas não dele. Nunca dele.

— Meu pai. Patrick não quero sair não.

— Ei, não pode ficar em casa trancado. Não vou ficar olhando tu entrar em depressão.

— Eu tô bem de verdade.

— Raul, vem jantar aqui. Fiz polenta. — minha mãe passa por mim e quase grita perto do telefone, crendo que falo com Raul. Pior que ela não ouviu quando falei o nome do alemão.

— Raul? Pô sacanagem. Tá rolando?

Eu começo a rir do absurdo.

— Mãe, é o Patrick, não é o Raul.

— Ah... bom.

Ela responde, mas não estende o convite ao outro.

Finda a conversa. Finda a janta. Finda a quinta-feira.

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