Capítulo 4 - Rancoroso

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Para enfeitar ainda mais os dias cinzentos daquela semana chuvosa e chata...

...Carlos liga para minha casa todo cheio de razão. 

Eu esculacho, pois meu humor estava sombrio.

— Me bloqueou no celular? Me bloqueou no seu facebook? Quer parar de criancice!

— Meu Deus. Eu não acredito na sua cara de pau. Parece que nunca te conheci direito. Se bloqueei, tu não entendeu que não quero contato?

Desligo na cara.

O telefone fixo toca incessante.

Meu celular toca. Número desconhecido.

Porque esse homem faz isso?

Quem já saiu de um relacionamento muito longo, pode ou não, sentir aversão dependendo do motivo da separação. Têm pessoas que ficam com a sensação de vazio e deslocamento. Sou honesto em dizer que senti tudo isso. Senti a coisa ruindo depois de voltamos em 2015. Senti deteriorar minha relação. Não queria ficar solitário. Agora é minha realidade.

No primeiro final de semana a seguir, fui honesto com Cauê sobre a bagunça que estava na minha cabeça. Ele não ficou tão chateado. Falou que queria curtir, mas que tinha que ser legal para nós dois. E o alívio dessa pressão me fez algum bem.

Fui convidado para um churrasco na casa do Jonas e Tiago. Aceitei e quando cheguei lá, fui puxado para o canto por um Tiago cabreiro comigo. Jonas e Marcelo se dão bem e pelo jeito, se doeu quando soube que discutimos. E ainda aconteceu do Marcelo não aceitar ir quando descobriu que eu tinha sido convidado. Achei o cúmulo.

— Tá, Jonas, se quiser, eu vou embora e tu chama o Marcelo. Só não quero um clima pesado por causa da discussão.

— Eu só fiquei chateado contigo porque tu fosses dizer que o Raul tinha feito certo em chutar o Marcelo. Poxa, tu sabe que ele tá sofrendo.

— Perguntou o que o Marcelo me disse antes? Disse que mereci o chifre que tomei. Isso ele contou?

Pelo silêncio, ele não contou.

Pela falta de amigos, tipo, alguns tinham outros compromissos, só eu tinha aceitado ir para o almoço, ficou um lance mais aconchegante e com isso, passou o clima ruim. Jonas depois convenceu o entojo para ir à tarde tomar um café.

— Eu vou embora. Não vou esbarrar nesse cara.

— Ai, por favor, João, deu trabalho convida-lo. Tu precisa descansar essa cabeça. Esquecer o Carlos e viver um pouco. Marcelo tá sofrendo...

— Tá, tá... mas chega de falar do Carlos e do Marcelo sofrendo.

Aceito a oferta do quarto de visitas para tirar um cochilo depois do almoço. Não preciso falar muito, apenas que o barulho da chuva foi um presente do Criador naquelas horas. Devo ter apagado completamente. Aí escuto uma voz do lado de fora da janela do quarto onde estava. Justo de quem...

— Jonas, posso levar um pouco desse limão? Eu bebo muita água com limão.

— Não beba tanta assim. Vai te baixar a pressão, guri. E o carro?

— Semi, né... precisei eliminar um pouco dos impostos que deixei atrasar... fazer o que né.

— É, complicado. Mas não pensa nisso. Devagar tudo se ajeita. Só cuida pra não fazer isso outra vez. Deixar de pagar imposto vira uma bola de neve. Viu o que te aconteceu por não depositar o FGTS e o INSS daquela tua ex empregada? Tá sentindo o reflexo disso.

Dois EscorpianosOnde histórias criam vida. Descubra agora