Eu com Marcelo ainda parece estranho comentar. Tudo ainda bem verde e fresco, mas em compensação com um sabor delicioso. Como um kiwi. Doce e azedo. Irresistível quando aberto ao meio à ponto de expor sua beleza escondida por uma casquinha charmosa e peluda.
Para um cara acostumado à ficar mais livre e sem tanto grude durante a semana, até que me adaptei bem a esse tipo de relacionamento. É inevitável comparar. Faço isso de maneira inconsciente e ao máximo me vigio nas palavras para não fazer comentários, mesmo aqueles que deixariam ele todo faceiro porque há vários pontos positivos. Entre os negativos é claro... mas não quero focar nisso.
Foco nas coisas que nos levam pra frente, vamos lá...
Marcelo é sensível. Às vezes chora fácil e isso me fez segurar um pouco da minha acidez quando conversamos com mais tranquilidade. Só não freio quando ele é malcriado. Aí o pau pega. Eu respondo no mesmo tom e isso esquenta bastante as coisas. Vamos combinar que as pequenas discussões por divergências são um tesão. Ambos temos gostos e opiniões totalmente diferentes as quais defendemos fortemente e dali as faíscas se desprendem.
Mas para que falarmos em brigas quando o romantismo dele acerta em cheio?
— João, posso dormir aí? Já tô com saudade do teu cheiro... — isso em menos de 24 horas de afastamento. — Não quero ficar sozinho hoje que é sexta.
É sempre assim, caso ele não me convide eu o convido e caso eu não o convide, ele pede pra dormir na minha casa.
— Ah... vem sim. — Adoro ficar com ele. Meu bicho romântico adora ficar abraçado no sofá vendo filme, falando o tempo inteiro, não prestando a atenção nas cenas e me perguntando o que aconteceu ou o que vai acontecer, quando nem eu sei. — Eu também nunca vi esse filme. Shh...
Shh... eu falo direto. O homem não fecha a matraca.
Gosto de abraça-lo tanto quanto ele ama ser abraçado. Não demora ele me enlaça, procura beijos, ganha carinho, fala safadeza, me assanha, aperta meu peitoral com força, se esfrega e pega no sono de repente. Deve ser o cansaço devido ao fato de ser comerciante. É puxado e nisso eu creio.
Mas como nem só de doçura vive um homem...
Ocorreu a ele, há poucos dias a oportunidade de adquirir outro apartamento num bairro em troca do seu imóvel bem localizado no centro que valia muito mais que o dobro e que não estava dando conta de pagar. Fora o condomínio que caiu quase pela metade. Eu achei ótimo o negócio e acredito que mais pessoas achariam, porém com ele não foi muito bem aceito.
Foi ouvir choradeira, meu Deus. Ele reclamou que seu padrão de vida tava mudando e me acusou de te-lo influenciado, depois pediu-me desculpas quando falei para que mencionasse em que momento eu havia feito aquilo. Sendo que seu amigo Bruno que é advogado e um puta conselheiro, que respeito, foi quem mais influenciou o Marcelo sobre essas mudanças.
— Eu pedi o que tu achavas, aí me disse que ia ser bom pra mim, porque ia me desafogar muito com a prestação baixa. Praticamente troquei um apartamento de quase oitocentos mil reais por um apartamentinho de duzentos e cinquenta e num bairro.
— Essa foi só minha opinião. Não fui o único que te disse o que pensava e se tu já me conhece um pouco, sabe que não consigo dever pra ninguém. Ia preferir morar num quarto/sala próprio do que pagar um aluguel de dois mil e quinhentos reais.
— Tipo o Giancarlo disse que eu não devia ter feito esse negócio, porque daqui uns anos vou me arrepender quando eu tiver super bem...
— Ou daqui uns anos, pode estar se lamentando ainda mais endividado.
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Dois Escorpianos
RomansFinalizado! Antes da leitura deste conto, posso sugerir a leitura de Amor Capricorniano, pois é proveniente daquela história. Mas se preferirem, também podem ler apenas este. Dois corações que foram partidos apoiam-se e tentam construir uma nova r...