Nunca

229 16 4
                                    


— Quer ir ao cinema? — perguntou April e colocou uma batatinha na boca.

Um convite. April estava me convidando para sair com ela. E também colocando batatinhas na minha boca já que minhas mãos estavam com luvas de limpeza.

— Quando? — perguntei.

— Sexta? — propôs.

— Ahn, é acho que pode ser. Sua mãe concordou com isso?

— Ainda não perguntei a ela. Mas não é nada demais, é só cinema. Ela me deixava ir com a Holly. Então... — ela deu de ombros.

Ficamos em silêncio, mas o silêncio já não era estranho entre eu e April. Ela olhava para o teto distraída e comia as batatas. Enquanto eu continuava a passar pano na quadra de basquete. Já fazia uma semana desde o primeiro dia de detenção, e Jason tinha feito o que disse, eu limpava o vestiário masculino por último quando ninguém mais estava lá.

— Seria mais rápido se eu ajudasse você. — insistiu April.

— Seria. Mas ai você iria para detenção se alguém nos pegasse. — argumentei.

— E então ficaria com você.

— Ou até tarde na sala da Sra. Molusco. — era o apelido da professora Burns, por ser uma ranzinza. Ela era quem sempre ficava com os alunos na sala de detenção.

April juntou as sobrancelhas e franziu os lábios em aversão.

— Além de que, como me entregaria batatas se estivesse com as mãos sujas? — disse óbvia.

— Nós comeríamos elas depois.

April havia ficado até mais tarde na aula para me ver nadar, achou incrível que eu tenha me escrito. Pensei que tivesse perdido a chance assim que me deram detenção, mas a treinadora conversou com ele e insistiu que eu deveria entrar para a natação pois esportes era um bom meio de resgatar alunos levados, pelo menos foi o que ela disse, e me avisando que se eu quisesse permanecer na piscina não deveria acertar mais ninguém. Mas obviamente havia uma condição, enquanto estivesse na detenção não poderia ir ao treino mais de uma vez por semana ou participar de qualquer competição mesmo da escola. O que era ótimo, a temporada só começava na primavera e até lá não estaria em detenção.

— Nada disso. — disse.

April deu ombro e me deu mais batatas na boca.

Meia hora depois eu havia terminado e estava me vestindo para entrar na piscina. A água estava morna quando estendi a mão para toca-la. Sem demora subi na plataforma, baixei os óculos de mergulho, me posicionei e assim que ouvi o apito soar, me atirei na água. Meu braços se moviam rápido, eu sabia disso, não demorei a tocar orla da piscina e depois a do outro lado. Repeti outras vezes o mesmo trajeto, e depois fizemos alguns exercícios dentro da água, e enfim, depois de quase uma hora e meia a treinadora se deu por satisfeita e eu pude relaxar dentro da água.

Os minutos se passaram enquanto April e a treinadora conversavam lá em cima, não sei quanto, mas quando o apito soou pela terceira vez, soube que era hora de voltar.

— Pensei que fosse ficar por lá — disse April.

— Eu bem que gostaria — disse sonhadora — mas morreria afogada. — repensei.

— Ainda poderia voltar a superfície e respirar. — disse April.

— Mas em algum momento eu morreria da fome. — argumentei. April concordou comigo. A treinadora estava com a sobrancelha direita arcada, se perguntando se estávamos mesmo levando aquele papo a sério.

Beertown a cidade divididaOnde histórias criam vida. Descubra agora