Capítulo 3

4K 484 42
                                    

Bela

Fazia nem uma semana que eu havia voltado e parecia que tinha sido meses.

No primeiro dia eu tive não só o pedido de perdão da minha mãe, como grandes revelações e o encontro com a minha irmã, e como isso tudo não me esgotasse emocionalmente, eu ainda fui convencida a ficar em casa. A minha casa da infância.

O que mais poderia acontecer?

- Você é muito pessimista, pensei que tinha te criado melhor do que isso. - Minha avó resmunga baixinho enquanto eu a ajudo a sentar na cama do hospital.

Ela estava acordada, mas ainda não estava cem por cento, mas já estava resmungando e falando o quanto podia. Eu tentava não fixar a imagem abatida dela - ela me mataria se eu começasse a chorar ao vê-la tão magra e abatida - então, engoli tudo e resolvi fazer o que sempre fazia, desabafar.

- Já encontrou co-m com e-le? - Vovó tossiu enquanto falava isso e eu ignoro. Não estava aqui em Paraíso para isso. Para ele.

Então, não falaria dele.

Eu estava prestes a mudar de assunto quando minha mãe entra no quarto.

- Mãe? Tem alguém aqui que gostaria de vê-la. - Minha mãe parece envergonhada e não me olha nos olhos, e uma centelha de curiosidade é mau pressentimento passa por mim.

Ah, não.

Eu o senti antes mesmo dele entrar no quarto. Como isso podia ser possível? Como depois de todos esses anos, o meu corpo ainda sentisse ele assim? Depois de tudo? E eu o odiava ainda mais por isso.

Caio entrou no quarto olhando diretamente para a minha avó na cama, com um olhar dócil no rosto, e quando eu penso que posso suspirar porque ele não me viu lá, ele para e congela, antes de virar e me encarar.

Parecia que ele tinha me sentido assim como eu o havia sentido.

- Bel.

Me endireito e engulo com força, como se a voz rouca e grava dele, não tivessem afetado em conjunto com o apelido.

- Isabela, meu nome é Isabela. - Me viro para a minha mãe. - Eu vou tomar um ar, comer alguma coisa e já volto.

Eu não espero uma resposta e saio de lá o mais rápido possível.

Droga, vovó. O que diabos ele estava fazendo ali?

E outra coisa, como diabos deixou isso de fora durante nossas ligações?

Assim como deixou sua doença. Pensei tristemente.

Corrijo o que eu tinha dito mais cedo para a vovó, o que mais falta acontecer?

Suspiro e procuro uma sala vazia, algum quarto vazio onde eu estaria escondida e teria privacidade o suficiente para desabafar.

Já que não seria nada bom beber tão cedo, ainda mais na minha carreira.

Pego o celular e assim que desbloqueio a tela, percebo que tenho vários e-mails não respondidos e sei que se eu abrisse um deles, aceitaria algum trabalho e teria que abandonar minha avó, mesmo que temporariamente. Decido enviar todos para o Marlon e apago o resto deles.

Eu precisava ficar focada, mesmo que nesse momento eu quisesse fugir só de encontrar ou ter a menção do Caio, eu tenho que agir como uma pessoa madura. Eu sou mais forte do que já fui qualquer outro dia da minha vida. Eu não era mais a menina que tinha que lutar todo dia pra não se deixar abalar.

Eu não precisava lutar mais.

Ou assim eu pensava.

- Alô?

- Marlon! Quando você vai chegar?

- Eu chegaria mais cedo do que o previsto, mas como eu acabei de receber quase trinta e-mails da minha melhor amiga barra cliente, e todos eles são a respeito de contratos e propostas antigas, eu acho que vou demorar mais um pouco.

- Eu sinto muito, mas é que...

- Eu sei, eu sei, eu conheço a minha amiga workaholic que eu tenho, que se abrisse um e-mail sequer, acabaria fugindo de qualquer conflito da infância que ela tinha jogada só pra fazer um trabalho e depois voltar como se nada tivesse acontecido.

- Droga, por que você me conhece tão bem?

- É isso que melhores amigos fazem, eles se conhecem melhor do que ninguém, choram as mágoas juntos, festejam as boas novas e fazemos uma fogueira e queimamos as injustiças, e por injustiças a gente fala sobre qualquer evidência de uma infelicidade.

Eu rio.

- Só você pra me fazer rir nesse momento crítico.

- Crítico? O que aconteceu agora? Usava-as atacou novamente? Vó Adele piorou?

Não posso deixar de sorrir pelo "vó Adele". Minha avó sempre odiou o nome Adelaide, mas como não queria deixar a mãe dela triste, ela não mudou quando podia e deixou, mas disse que seu apelido era Adele.

E quando eu mostrei pra ela a cantora Adele, ela começou a falar que ela tinha copiado o apelido dela.

- Ele está aqui.

- Ele quem?

Reviro os olhos. Só tem um ele a quem eu poderia me referir e ele sabe disso.

- Para de se fazer de maluco.

- Talvez eu só queira ouvir você dizer o nome dele com alguma voz masoquista.

- Marlon!

- Tá ok. Eu sei a que ele você se refere, e aí, ele disse algo? Você falou algo?

- Não sei se daria tempo de dizer alguma coisa, eu apenas meti o pé o mais rápido possível porque não aguentaria ficar mais um minuto ali com ele e você sabe disso.

Meu melhor amigo suspira.

- Você sabe que isso tem que parar, não sabe? Você não pode mais guardar todo esse rancor, Bela, e você sabe disso.

- Não é rancor!

- É o que então?

- Não sei explicar, talvez eu não seja a pessoa evoluída que pensei que eu era, talvez seja rancor e eu não sei, mas não é tão fácil dizer pra mim esquecer, sabe? Meus sentimentos foram machucados de uma forma que me mudou, Mar, que me moldou.

- Eu sei, mas ainda assim acho que você se moldou na melhor versão de si, e pode ser ainda melhor se você deixar de lado todo o negativismo e focar nas coisas boas. Que quando você conquistar algo, você não pense que venceu eles, mas que você venceu por você, por ser incrível como você é.

Quando a primeira lágrima cai, eu tento muito controlar as outras, mas antes que eu perceba, eu estou soluçando e segundos depois a porta abre e eu sou confrontada com o meu maior pesadelo se tornando verdade no momento.

Caio me encontrando em um canto chorando.

E peraí...

Isso brilhando no cinto dele é uma...

Ele é o xerife?

___________________________________________

VOTE! COMENTE!

ESCRITO NAS ESTRELAS (NA AMAZON!!!)Onde histórias criam vida. Descubra agora