Bela
Fazia nem uma semana que eu havia voltado e parecia que tinha sido meses.
No primeiro dia eu tive não só o pedido de perdão da minha mãe, como grandes revelações e o encontro com a minha irmã, e como isso tudo não me esgotasse emocionalmente, eu ainda fui convencida a ficar em casa. A minha casa da infância.
O que mais poderia acontecer?
- Você é muito pessimista, pensei que tinha te criado melhor do que isso. - Minha avó resmunga baixinho enquanto eu a ajudo a sentar na cama do hospital.
Ela estava acordada, mas ainda não estava cem por cento, mas já estava resmungando e falando o quanto podia. Eu tentava não fixar a imagem abatida dela - ela me mataria se eu começasse a chorar ao vê-la tão magra e abatida - então, engoli tudo e resolvi fazer o que sempre fazia, desabafar.
- Já encontrou co-m com e-le? - Vovó tossiu enquanto falava isso e eu ignoro. Não estava aqui em Paraíso para isso. Para ele.
Então, não falaria dele.
Eu estava prestes a mudar de assunto quando minha mãe entra no quarto.
- Mãe? Tem alguém aqui que gostaria de vê-la. - Minha mãe parece envergonhada e não me olha nos olhos, e uma centelha de curiosidade é mau pressentimento passa por mim.
Ah, não.
Eu o senti antes mesmo dele entrar no quarto. Como isso podia ser possível? Como depois de todos esses anos, o meu corpo ainda sentisse ele assim? Depois de tudo? E eu o odiava ainda mais por isso.
Caio entrou no quarto olhando diretamente para a minha avó na cama, com um olhar dócil no rosto, e quando eu penso que posso suspirar porque ele não me viu lá, ele para e congela, antes de virar e me encarar.
Parecia que ele tinha me sentido assim como eu o havia sentido.
- Bel.
Me endireito e engulo com força, como se a voz rouca e grava dele, não tivessem afetado em conjunto com o apelido.
- Isabela, meu nome é Isabela. - Me viro para a minha mãe. - Eu vou tomar um ar, comer alguma coisa e já volto.
Eu não espero uma resposta e saio de lá o mais rápido possível.
Droga, vovó. O que diabos ele estava fazendo ali?
E outra coisa, como diabos deixou isso de fora durante nossas ligações?
Assim como deixou sua doença. Pensei tristemente.
Corrijo o que eu tinha dito mais cedo para a vovó, o que mais falta acontecer?
Suspiro e procuro uma sala vazia, algum quarto vazio onde eu estaria escondida e teria privacidade o suficiente para desabafar.
Já que não seria nada bom beber tão cedo, ainda mais na minha carreira.
Pego o celular e assim que desbloqueio a tela, percebo que tenho vários e-mails não respondidos e sei que se eu abrisse um deles, aceitaria algum trabalho e teria que abandonar minha avó, mesmo que temporariamente. Decido enviar todos para o Marlon e apago o resto deles.
Eu precisava ficar focada, mesmo que nesse momento eu quisesse fugir só de encontrar ou ter a menção do Caio, eu tenho que agir como uma pessoa madura. Eu sou mais forte do que já fui qualquer outro dia da minha vida. Eu não era mais a menina que tinha que lutar todo dia pra não se deixar abalar.
Eu não precisava lutar mais.
Ou assim eu pensava.
- Alô?
- Marlon! Quando você vai chegar?
- Eu chegaria mais cedo do que o previsto, mas como eu acabei de receber quase trinta e-mails da minha melhor amiga barra cliente, e todos eles são a respeito de contratos e propostas antigas, eu acho que vou demorar mais um pouco.
- Eu sinto muito, mas é que...
- Eu sei, eu sei, eu conheço a minha amiga workaholic que eu tenho, que se abrisse um e-mail sequer, acabaria fugindo de qualquer conflito da infância que ela tinha jogada só pra fazer um trabalho e depois voltar como se nada tivesse acontecido.
- Droga, por que você me conhece tão bem?
- É isso que melhores amigos fazem, eles se conhecem melhor do que ninguém, choram as mágoas juntos, festejam as boas novas e fazemos uma fogueira e queimamos as injustiças, e por injustiças a gente fala sobre qualquer evidência de uma infelicidade.
Eu rio.
- Só você pra me fazer rir nesse momento crítico.
- Crítico? O que aconteceu agora? Usava-as atacou novamente? Vó Adele piorou?
Não posso deixar de sorrir pelo "vó Adele". Minha avó sempre odiou o nome Adelaide, mas como não queria deixar a mãe dela triste, ela não mudou quando podia e deixou, mas disse que seu apelido era Adele.
E quando eu mostrei pra ela a cantora Adele, ela começou a falar que ela tinha copiado o apelido dela.
- Ele está aqui.
- Ele quem?
Reviro os olhos. Só tem um ele a quem eu poderia me referir e ele sabe disso.
- Para de se fazer de maluco.
- Talvez eu só queira ouvir você dizer o nome dele com alguma voz masoquista.
- Marlon!
- Tá ok. Eu sei a que ele você se refere, e aí, ele disse algo? Você falou algo?
- Não sei se daria tempo de dizer alguma coisa, eu apenas meti o pé o mais rápido possível porque não aguentaria ficar mais um minuto ali com ele e você sabe disso.
Meu melhor amigo suspira.
- Você sabe que isso tem que parar, não sabe? Você não pode mais guardar todo esse rancor, Bela, e você sabe disso.
- Não é rancor!
- É o que então?
- Não sei explicar, talvez eu não seja a pessoa evoluída que pensei que eu era, talvez seja rancor e eu não sei, mas não é tão fácil dizer pra mim esquecer, sabe? Meus sentimentos foram machucados de uma forma que me mudou, Mar, que me moldou.
- Eu sei, mas ainda assim acho que você se moldou na melhor versão de si, e pode ser ainda melhor se você deixar de lado todo o negativismo e focar nas coisas boas. Que quando você conquistar algo, você não pense que venceu eles, mas que você venceu por você, por ser incrível como você é.
Quando a primeira lágrima cai, eu tento muito controlar as outras, mas antes que eu perceba, eu estou soluçando e segundos depois a porta abre e eu sou confrontada com o meu maior pesadelo se tornando verdade no momento.
Caio me encontrando em um canto chorando.
E peraí...
Isso brilhando no cinto dele é uma...
Ele é o xerife?
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ESCRITO NAS ESTRELAS (NA AMAZON!!!)
ChickLitSinopse: Bela Borges é uma estrela. Uma modelo famosa com uma carreira brilhante pela frente. Até que ela recebe um telefonema urgente sobre sua avó materna e tem que voltar para sua cidade natal. E aí ela volta a ser Isabela. A gordinha que passava...