prólogo;

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[/tyler-joseph]

Estava frio demais no lado de fora para se dizer que estávamos em Outubro. Havia uma única e enorme árvore no estacionamento que indicava isso, deixando suas folhas laranjas caírem pelo chão e se espalharem por cima de todo aquele cinza que tomava conta. Tudo parece escuro demais, mesmo com o sol brilhando no céu azulado e cinzento. Pela janela, conseguia ver que uma família cheia de bagagens se instalava em um dos quartos no lado, a mãe carregando um bebê enrolado em alguns panos roxos e as outras duas crianças carregando mochilinhas nas costas. O pai, atolado de malas, caminhava logo atrás. Eles provavelmente ficariam durante algumas semanas até o fim de Outubro, conheceriam os parques da cidade e depois iriam embora para a cidade natal, se deliciando com o sol caloroso e com os sorvetes derretidos nas casquinhas.

Dei mais um gole na lata de refrigerante que estava bebendo, podendo ver, ainda pela janela, que a pequena e ranzinza Sra. Grayson estava vindo até meu quarto. Em um pulo, corri até a porta antes que ela batesse, esboçando um sorriso enorme ao vê-la. Ela usava um suéter com estampa de folhas e uma calça jeans.

— Sra. Grayson, oi!


— Tyler, meu querido. Como soube que eu estava vindo aqui?

— A vi pela janela, eu estava conferindo se estava chovendo.


— Espero que o barulho no telhado não lhe incomode, nós ainda não tivemos tempos de arrumá-lo.

— Acho que isso não vai ser problema. —  a respondi, ainda sorrindo. — Gostaria de entrar?

— Não quero incomodá-lo.

— Estou sozinho e entediado, acho que uma presença a mais aqui pode me fazer bem. Entre, por favor.

Observei a senhora entrar, fechando a porta logo em seguida. Elizabeth - ou Betty, para os íntimos — se tornou uma grande amiga quando cheguei aqui pela primeira vez, totalmente desnorteado por estar sem saber o que fazer.

Eu não era novo na cidade ou coisa do tipo, mas procurei algum lugar onde pudesse dormir depois dos gêmeos. Nas primeiras noites, o choro de Madison e Jay ecoou pelo quarto vazio e o ventilador barulhento se tornou assustador em meio ao escuro, o choro ficava cada vez mais e mais alto. Era a primeira vez que eu estava tendo irmãos, e Kelly havia se tornado completamente impaciente, enquanto Tony só a ajudava quando queria e raramente largava os jogos de basquete na televisão para fazer os bebês dormirem. A babá procurava fazer o que podia, e eu resolvi dar um tempo de casa até que a choradeira parasse.

Faziam três meses que eu só estava voltando para casa aos fins de semana. Nos outros dias, da escola ia para o trabalho, depois voltava para o quarto 93 e no dia seguinte a rotina se repetia. Durante as noites, acendia uma vela aromática ao lado da cama e observava a chama queimar até meus olhos se fecharem.

Me perguntava se eu poderia voltar para casa e aturar os gêmeos de novo. A cama do Pink Motel não fazia muito bem para minhas costas. Durante minha estadia, conseguia ver pela janela as famílias que chegavam para férias maravilhosas na costa oeste da Califórnia, e casais apaixonados que gostariam de conhecer a praia ou coisa do tipo. Ou, até mesmo adolescentes que adoravam fazer baderna nos quartos que conseguiam entrar escondidos. Eles pareciam legais.

Betty se sentou em uma das cadeiras diante da mesa, olhando pela janela.

— Como estão as coisas? Tudo bem por aqui?

— Na medida do possível. Eu prometo que até fim do mês eu consigo voltar pra casa, Sra. Grayson.

— Sua família ainda está na Flórida?

A Flórida. Quando Betty me perguntou o motivo de eu estar ali, sozinho, eu menti dizendo que minha família havia ido à Flórida para resolver alguns assuntos de trabalho. Não contei nada, nem mesmo como estava indo a escola ou sobre os gêmeos que, na época, haviam acabado de nascer. Não contei sobre irmãos ou sobre Tony e mamãe. As mentiras logo seriam descobertas e eu seria expulso, isso tudo em um futuro não muito distante.

— Uh, sim. Minha mãe está dando palestras e meu pai está negociando com outras empresas, acredito. Eles não tem data para voltar. — olhei a lata quase seca, terminando de tomar a Coca-Cola. — Você quer alguma coisa? Tenho doces e refrigerantes dentro do frigobar.

— Eu estou bem, querido, não se incomode comigo. — respondeu, arrumando o suéter. — E a escola, como vai?

— Puxada. Os exames finais estão cada vez mais próximos, e eu preciso dar um jeito de passar neles. A formatura vai ser no fim de Janeiro.

— Você vai conseguir, eu tenho certeza.

Dei um sorriso amigável.

— Obrigado, Sra. Grayson.

— De nada.

Ficamos mais algum tempinho em silêncio, o suficiente para que eu pegasse outra lata de refrigerante no frigobar e abrisse.

— Você sabe que tudo isso é passageiro, não é? — perguntou, tomando minha atenção.

— Desculpe, o quê?

— Isso tudo. Seja lá o que você está vivendo agora, e eu sei que não é só essa coisa com seus pais, vai passar. Tudo passa. Até mesmo os sentimentos que temos por alguém passam. Eles existem, mas um dia vão embora e só nos restam as memórias.

Sentei na cadeira em sua frente, murmurando um 'é' baixinho antes de repousar a lata na mesa.

— Por isso, meu filho, aproveite. Viva, curta a sua vida. Você é jovem, ainda vai viver e ver muita coisa. Tem que aproveitar. Porque quando a nossa hora chega, nós nos tornamos sentimentos: vamos embora e só o que resta por aqui são as memórias que deixamos.

🌸🍒📌🏹💖✨

oi oi oi oi

espero que tenham gostado! 💖

late night feelingsOnde histórias criam vida. Descubra agora