Uma carta...

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Reverendíssima dona de mim,

   Meu coração salta de alegria ao poder escrever-te novamente.
   Ficar alguns dias "distante " foi, acima de tudo, importante. Creio que não só para mim.
   Meu coração está sempre naquele mesmo estado descompensado de um tambor de carnaval ao pensar em ti. Foi engraçado durante o fim de semana, quando, como um raio, tu vinhas em meus pensamentos,  principalmente nos momentos engraçados onde certamente eu riria com vossa presença... quando na hora do banho onde eu te encheria o saco, para brincar de sermos casadas e eu esquecer a toalha de propósito só pra te pedir... ou nos momentos frequentes em que eu ficava sozinha no quarto, imaginava-te comigo para que eu pudesse saciar minha sede da tua presença diante dos meus olhos.
  Óh amada minha, como é difícil não te ter presente,  te tendo tão presente em mim.

   Também pergunto-me se tudo isso é real ou estou ainda perdida em meus devaneios, quimeras,  viagens exuberantes dentro do teu amor...

   Confesso que por momentos achei melhor sem ti ali, talvez eu não estivesse preparada para lidar com a presença de certas pessoas ao teu lado enquanto meu coração gritaria pelo teu calor perto do meu corpo.

   Não escreverei por demais, Srta. Rodrigues, pois estou com um cansaço desumano, capaz de fazer reder-me ao sono antes mesmo do que planejo.
   Hoje acordei às 5 horas da manhã,  pois não estive com alarme, mas meu cérebro ficou em alerta durante as madrugadas passadas para que eu não perdesse a hora (o cérebro é uma máquina extremamente surpreendente! ), levantei às 5:30... tomei banho, e por volta das 6:10 fui esperar o sol aparecer. Do segundo andar da casa fiquei olhando para o horizonte a espera de uma luz capaz de me trazer bastante vitamina D... mas ele me trouxe algo a mais, trouxe-me inspiração e saudade, estava com o caderno em mãos, pois ia deixá-lo logo na sala de estudos, e ... eis o que os primeiros raios do dia me sussuravam ao ouvido:

"Por detrás do horizonte
Vem o sol nascente
Com seus raios suaves
Nem frio, nem quente...

Desencadeia em mim
Aquela intensa vontade
De ter acordado ao teu lado,
De ter dedicado a ti
O meu primeiro 'bom dia'
Para começar feliz
Mais um hoje que inicia.

Olho ao meu redor
Em busca de um traço teu,
Nada me chama atenção...
Não vejo nada além do breu.

Te busco nos raios que vêm do sol
Sinto-me atraída por ti
Como um simples girassol.

As árvores que me impedem
De inteira por ti ser possuída,
Dão-me logo liberdade
De por ti ser consumida.

A saudade baila no meu peito
Como se de mim fosse parte
Não tenho outra alternativa,
A minha única saída
É transformar tudo em arte.

Os raios que clareiam o corpo meu
Aquecem minha pele gelada
Que de frio tanto tremeu.

Continuo a buscar qualquer coisa
Que traga-te até mim...
Penso até em desistir...
Mas agora é impossível
Cogitar possível fim..."

Fiz também um pequeno desenho de como era mais ou menos a imagem a minha frente. Era linda, exuberante,  pomposa! Foi toda aquela beleza idílica que me fez ter-te tão presente, pois linda como vossa pessoa, óh amada... ah! só um momento tão surreal como aquele pode comparar-se a ti.

O sono impede-me agora de continuar.
São palavras simples, mas carregadas de amor para contigo.

Para minha amada.

Com amor
Seu amor.

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