S E L I N A
Eu vivo numa crise existencial constante todos os dias em minha casa, uma família grande com três irmãos + uma irmã gêmea. Desde pequena eu nunca tive uma coisa só minha, meus bens eram sempre compartilhados com minha irmã Susana, ela é idêntica à mim, a única coisa diferente entre nós são as nossas diferenças. Mas mesmo com todas as nossas igualdades físicas parece que ela é a mais privilegiada entre nós duas, todos os garotos acham ela a mais bonita. Talentosa. Charmosa. Radiante. Simpática.
Enquanto eu, vivo na sombra dela. Sempre vou ser a segunda em tudo, sempre vou ser a ovelha negra da família e ela o cisne branco."De vocês duas sempre te achei a mais inteligente, querida. Isso é a verdadeira dádiva" — comentou minha doce vó Marie, a única pessoa que me entende nessa família.
"Concordo plenamente, beleza é uma coisa que se perde com o tempo." — digo enquanto sinto a brisa da varanda se misturar com o cheiro das rosas que minha vó estava regando.
"Você deveria estar na aula, não?" — ela para de regar as plantas e me repreende com um olhar.
"Vó, eu já tenho notas o suficiente para passar de ano" — disse.
"Se seu pai souber que você anda faltando aula, ele tira a sua moto de novo" — ela disse enquanto retirava suas luvas.
"Sabe o que eu acho injusto? Eu que tiro notas altas sempre saio com o pior dos castigos quando cometo uma simples coisa errada e já Susana que fica mais se olhando no espelho do que prestando atenção na aula, a única coisa que ela ganha é apenas uma cortada de 1% da mesada" — falo me levantando impaciente.
"Se uma simples coisa errada for faltar uma semana de aulas, não tiro a razão de seu pai"
— diz minha vó indiferente."De que lado você está? Ah claro da Susana! Eu cansei de me esforçar tanto pra encontrar meu lugar nessa família, não importa o quanto esforço-me sempre vou ser a ovelha negra." —minha vó tentou debater mas apenas a corto— "Vou sair, não vou ficar para o jantar, diz para a Susana que parabéns pelo namorado do mês!" — digo seriamente e me retiro dali indo até a sala onde encontro um dos meus irmãos, Simon jogando videogame.
"Era para você está na escola, Si." — falo indo a cozinha e logo em seguida abrindo a geladeira pegando o vinho tinto da minha mãe. Dou um gole sem fazer careta apesar do gosto amargo depois o coloco de volta a geladeira.
"Você também, Selina. Mas estou doente" — ele finge uma tosse sem tirar a atenção do jogo que parecia ser de origem japonesa.
"Sei." — ergo as sobrancelhas e vou em direção à porta da frente.
"Para onde vai?" — ele grita do sofá.
"Não interessa, dá um oi ao namorado do mês da Susana por mim e diz para ele que não precisa economizar dinheiro para comprar flores para ela dia 12 do próximo mês já que ela vai ter acabado tudo com ele."
"Você não vai ficar para o jantar? Mamãe disse que..." — fecho a porta antes dele falar qualquer coisinha sobre aquele jantar estúpido.
Tenho mais oque fazer, o que não deixa de ser verdade. Eu escondo da minha família sobre no que eu trabalho, gosto de pensar que tenho pelo menos uma coisa só minha e que eu não precisasse compartilhar com ninguém, sem querer ser egoísta. Trabalho em um restaurante mas não de garçonete, claro, mas de pianista. Toco piano toda terça e sexta, das 18:00 até às 21:00 no restaurante do hotel Wayne. Apesar de ser um trabalho incomum, amo muito o que faço e fazer isso me ajuda a acalmar meu distúrbio de ansiedade. Hoje resolvi fazer hora extra pois tinha faltado a aula. Pego minha moto e não demoro muito para chegar ao local."Olá Butch, como vai essa força?" — cumprimento o segurança do prédio e dou um leve soco em seu ombro o fazendo rir.
"Srta. Kyle, chegou bem cedo hoje, você não faltou aula de novo, não é?" — ele cruzou os braços e me repreendeu com um olhar.
"Já passei de ano, não preciso mais ir às aulas chatas daquela escola, se eu ficar mais tempo lá vou acabar tomando o lugar do professor e você não vai me ver mais!" — ele riu outra vez e balançou a cabeça negando.
"Espertinha, sempre tão modesta!— ele falou em tom irônico.
"Não tenho culpa se sou inteligente, Butch, agora se me der licença vou aquecer o meu belo piano." — ele fez um gesto me dando passagem e eu ri.
Fui até a ala dos funcionários e trajei um vestido preto da cor da noite, ele tinha pedrinhas brilhantes por toda a extensão do decote. Já vestida, faço um coque qualquer no meu cabelo deixando a franja soltar por fim calço minhas botas/tênis já que não gostava muito de usar saltos. Vou até o salão principal e me sento confortável em meu piano, comecei a tocar alguns acordes só para recepção mesmo.
Até que o vejo, estava do outro lado do salão, na parte alta, ele estava me fitando com uma expressão risonha, a princípio não liguei só podia ser mais um desses riquinhos, pensei comigo mesma. Volto a tocar o piano mas sinto uma corrente elétrica passar sobre meu corpo, efeito de um olhar penetrante, olho para a parte alta do salão e aquele garoto continuava a me encarar levando um tipo de líquido aos lábios, franzi o cenho em direção a ele e quase solto um 'oque foi?' Mas resolvi voltar a atenção ao instrumento novamente e fazer mais alguns acordes. Olho para cima outra vez e ele não estava mais lá."Para uma garota da sua idade...já toca como uma profissional." — uma voz completamente rouca soou atrás de mim, um dos meus maiores defeitos é o convencimento então não perdi a oportunidade de ser 'modesta'.
"Eu sou profissional e idade é só um número, certo?" — continuo concentrada em meu piano sem olhar atrás de mim para saber quem é o dono daquela voz boa de ouvir.
Ele deu uma risada nasalada como resposta e fez uma pausa, acho que estava bebendo algo."Tem razão, oque irá fazer depois daqui?" — é a minha vez de soltar um risada nasalada, finalmente me viro para olhar ele, e olhando de perto ele é muito mais bonito quanto de longe.
"Você nem me conhece e já está me chamando para sair? Sinto muito, mas não saio com riquinhos como você." — ele me olha com uma expressão confusa.
"Não sabia que conseguia ser rude desse jeito, gosto disso." — antes de eu falar mais alguma coisa, ele me puxa pela cintura fazendo seu corpo quente se chocar com o meu, eu quase lhe acerto um tapa no seu rosto mas só consegui focar em seus olhos escuros como a noite e seus lábios rosados que eu adoraria sentir contra os meus, e assim como se ele estivesse a ler meus pensamentos selou nossos lábios em um beijo onde pude sentir seu hálito quente e com gosto de cereja, consequência da bebida que ele havia tomado. Eu teria o empurrado por mil e um motivos mas eu não consegui, fui fraca e cai nos encantos de um riquinho estranho. Sua língua entrou em sintonia com a minha como um acorde perfeito de piano, ele apertava minha cintura vez ou outra o que me fazia arfar, nos afastamos por falta de ar mas ainda conseguia ouvir as batidas de seu coração já que minhas mãos se apoiavam em seu peitoral. Quem seria ele? Eu o beijaria por uma noite inteira.
"Te vejo mais tarde." — ele sussurrou em meu ouvido, o que será que ele quis dizer com isso?
VOCÊ ESTÁ LENDO
UNMISTAKABLE ❦ batcat (hiatus)
Novela Juvenil𝓝unca aceite coisas de estranhos, minha mãe dizia. 𝗠𝗮𝘀 𝗲𝗹𝗮 𝗻𝗮̃𝗼 𝗱𝗶𝘀𝘀𝗲 𝗻𝗮𝗱𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗻𝗮̃𝗼 𝗮𝗰𝗲𝗶𝘁𝗮𝗿 𝗼 𝗯𝗲𝗶𝗷𝗼 𝗱𝗲𝗹𝗲𝘀. ─ 'Onde Selina Kyle acaba se envolvendo com o namorado de sua irmã gêmea. ⚠️ Essa his...