02. Conhecendo o terreno

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2º Dia

Uma coisa estranha que notei na casa da minha vó, foi o piso inclinado da sala e toda a construção irregular das paredes e teto. Caminhava de um lado para o outro sempre com a sensação de que eu iria cair, e todos na casa pareciam pessoas com labirintite, cambaleando pra lá e pra cá. No meio da noite acordei para ir ao banheiro e por pouco não caí por cima da televisão quando o desequilíbrio se juntou com a leseira do sono.

E por falar em banheiro, esse era outro problema. A porta não tinha tranca e a maçaneta era um fio encapado improvisado. Como o vaso era em frente à porta, precisava me esticar todo e dar um jeito de manter o traseiro no vaso e a mão segurando a porta para impedir que alguém a abrisse de surpresa. Peguei todos esses problemas e guardei no fundo da minha consciência, não valia a pena reclamar de algo que eu só precisaria usar por poucos dias, então relevei.

Passada a primeira noite, o galo finalmente cacarejou, e eu já sabia que as pessoas no interior tinham o hábito de acordar bem cedo, mas não entendia como às 6 horas da manhã já estava a maior barulheira em casa, e às 10 horas o almoço estava pronto na mesa. Eu sequer tinha apetite ainda, mas acabei comendo o restante do baião de dois da minha avó enquanto ela me encarava com um sorriso enorme, sempre me elogiando e dizendo como eu era o seu neto mais bonito.

Ainda naquela manhã, fomos para uma região vizinha, conhecida como Baixa Larga, para visitarmos alguns outros parentes que moravam por lá, incluindo os meus primos Hoseok e Taehyung, filhos do tio Jae.

Jin nos deu uma carona de carro até lá, pois era impossível andar pelas estradas a pé. Algumas pessoas até se arriscavam, mas era aconselhado que não o fizessem, a não ser que quisessem disputar espaço com um caminhão. Quando chegamos, minha mãe cumprimentou várias pessoas que ficaram espantadas em vê-la após tantos anos. Ela ainda fez questão de me exibir para todos os seus conhecidos, mostrando como havia me criado bem e eu era o seu orgulho.

Caminhamos mais um pouco pelo chão de terra, até encontrarmos a casa dos meus primos, que à primeira vista era bem bonitinha e agradável. A parede vermelha da varanda era decorada por alguns desenhos de flores brancas, que se destacavam com o contraste da cor quente. O que eu achei de muito bom gosto, se comparado às casas sem graça da região, aquela era sem dúvidas a mais estilosa.

Tio Jae bateu palmas avisando que estávamos lá e então a porta da frente se abriu. Quem veio nos recepcionar foi um rapaz magrinho, do nariz arrebitado e sorriso largo. Ele usava um boné para trás, regata branca, bermuda e chinelo, como era o costume dali. Se a minha memória não estivesse equivocada, aquele era Hoseok.

— Pai! — Ele sorriu e correu para abraçar o meu tio, pedindo a benção. — Oi, tia.

— Oi, Hoseok, como você cresceu. — Minha mãe o abraçou, com toda a sua simpatia.

Em seguida foi a minha vez de cumprimentá-lo. Apesar de nos darmos bem na infância, agora éramos como dois estranhos novamente. Esperava que ele ao menos se lembrasse um pouco de mim e das nossas brincadeiras pelo quintal de sua casa, onde ele insistia em querer me mostrar uma ratazana que criava dentro de um buraco.

— Oi, primo. — Ele estendeu a mão e eu a apertei. — Cabelo top.

— Ah... Obrigado. — Agradeci o elogio inesperado com um ponto de interrogação na cabeça. A maneira estranha como ele falou "top" pareceu que foi proposital, como se quisesse me agradar.

— Bó entrar, pai, a mãe não tá em casa não.

Tio Jae fez uma careta, pensando se deveria mesmo entrar na casa que um dia já foi sua. Não se dava muito bem com a ex-esposa, mas como Hoseok jurou que nem tão cedo ela estaria ali, resolveu entrar para tomar pelo menos uma água.

10 Dias para conquistar Jungkook | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora