03. Como aliviar o tédio

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4º Dia

Acordamos cedo no dia seguinte, como de costume, e fomos para a varanda ficar olhando o nada. Até que eu entendia o motivo dos meus avós terem saído da antiga casa na cidade vizinha, para irem morar em Guaraciaba do Norte. Era realmente um local muito tranquilo e silencioso, ouvia-se apenas o som da vegetação quando o vento batia contra as folhas, o canto dos passarinhos, as risadas das crianças que vez ou outra corriam pelo chão de areia, e de algum vizinho que aparecia para conversar.

Além do verde da região serrana, era possível avistar uma estrada no horizonte onde os ônibus de viagem sempre apareciam, sendo aquela a nossa única distração visual relevante. Eu não sabia o que existia para além da casa da minha vó em nenhuma das quatro direções.

Todos pareciam muito conformados com a vida sossegada que levavam, e eu respeitava isso. O ritmo da cidade grande era diferente, e de toda forma eu só estava naquela viagem para fazer um favor à minha mãe, que queria passar um tempo com o pai adoentado. Contudo, ainda era extremamente entediante não ter absolutamente nada para fazer, além de olhar o meu celular, que agora tinha a internet compartilhada com Taehyung, então eu mal podia usá-lo direito.

Talvez a minha única opção mesmo fosse deitar na rede e dormir até chegar o dia de ir embora. Pelo menos o clima no alto da serra era fresquinho, e eu não estava sofrendo com o calor de 40° que certamente fazia no Rio.

Sentado no muro da varanda, Taehyung se distraia com um jogo no celular que consistia em encontrar 5 palavras com determinadas letras. Impaciente, me pediu que o ajudasse a completar o jogo, alegando que eu deveria conhecer mais palavras do que ele.

— Uma palavra com "BOFAALRE"? — Questionei a mim mesmo, obstinado a ajudar o meu primo e mostrar que ele não estava enganado quanto ao meu conhecimento. Fiquei pelo menos uns 20 minutos tentando encaixar algo ali, mas nenhuma das minhas respostas eram aceitas pelo jogo. — Foda-se, desisto. — Entreguei o celular de volta.

Ele cutucou por mais algum tempo, até que sorriu animado, me mostrando a tela do aparelho.

— Consegui, era "abléfaro!"

— Que? Essa palavra nem existe, esse jogo tá roubando! — Bufei, me escondendo com o pano da rede, fingindo estar enrolado num casulo enquanto ele ria.

Passaram-se mais alguns minutos de puro silêncio, eu já estava quase pegando no sono quando ele voltou a falar.

— Quer fazer alguma coisa, Jimin? — Perguntou, com uma expressão desanimada, cansado de cutucar os dedos dos pés e contar quantos passarinhos pousavam perto de nós.

— Querer eu quero né... — Continuei de olhos fechados e enrolado, sem muita esperança de que Tae fosse ter uma ideia brilhante.

Minha mãe estava na cozinha preparando o almoço, e até lá talvez eu pudesse ocupar a minha cabeça tentando adivinhar qual seria o prato do dia.

— Vou chamar o Hoseok pra levar a gente pra andar.

— Hum, pode ser...

Uma meia hora depois, finalmente ouvi os barulhos de chinelos arrastando no chão de terra, e imediatamente Tae voltou a falar, dessa vez com quem estava do lado de fora da casa e não comigo.

— Ei, bora ir ali no rio? — Falou alto.

— Oxi, agora? Tá quase na hora do almoço. — Pela voz, só podia ser Hoseok. Continuei deitado, esperando que se resolvessem.

— Bora lá, Jungkook! — Taehyung insistiu.

O nome de Jungkook soou como um feitiço sobre o meu corpo, que me fez erguer o tronco e procurar onde estava o dito cujo. E lá estava ele, com os seus cabelos atrapalhando os olhos, vestindo uma camiseta do homem de ferro, uma bermuda azul com bolsos nas laterais, e as havaianas sempre sujas de terra. Nada combinava, mas em Jungkook tudo ficava perfeito.

10 Dias para conquistar Jungkook | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora