Capítulo 4

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 "Olha o palhaço." ouvi a Elizabeth a responder rapidamente. Wow, ela estava mesmo bêbada, normalmente ela não fala. Olhei para o intruso e reparei que era o mesmo grupo da discoteca.

 Do nada reparo que o loirinho está à minha frente. Sinto o meu braço a ser agarrado fortemente e o meu corpo a ser levantado. "Au isso dói!" choraminguei. "Também aleijaste o meu amigo. Acho que é justo." ri-me "Tu agora não me escapas Mia..." olhei para os olhos dele, enquanto sorria, "Como é que sabes o meu nome?". Porquê que ele está aqui? Até é giro... olhei à minha volta e já só estavam dois rapazes, a Rita e a Elizabeth tinham desaparecido.

 Apesar de estar longe de sóbria e o meu raciocínio lento, finalmente percebi que algo estava errado. "O-Olha Ó loirinho, as minhas amigas?" parecia uma criança assustada a falar. Um sorriso malicioso apareceu no rosto desenhado dele. "Não interessa, tu é que interessas." dito isso começou a arrastar-me pelo braço. "Não, deixa-me em paz!" tentei soltar-me, mas o meu cérebro e os meus membros não falavam a mesma língua. Só conseguia atrapalhar-me mais, necessitando da ajuda dele para me equilibrar. "Deixa-me em paz!" comecei a entrar em pânico, ele estava a levar-me para um beco.

  "Ó loirinho, não foi por mal. Mas vocês estavam a ser chatos. Nós só queríamos ir embora. Vocês não deixavam. Desculpa." comecei a desbobinar, só queria as minhas amigas. Ele agarrou-me nos pulsos e encostou-me contra uma parede (outra vez, muito clichê), "Au, pára de ser tão bruto!" gritei, chorei, sinceramente não sei. O deus grego olhou para mim, com ternura. Os dedos dele limparam uma lágrima que caía do canto do meu olho, lentamente sem quebrar o olhar, levou o dedo à boca. "Hmm, Mia gosto tanto de te ver assustada, pareces um bambi." senti as mãos geladas dele a descerem lentamente para o meu pescoço e a fazerem uma ligeira pressão. "Não-o , a sério para! Deixa-me ir por favor!" implorei, não queria morrer.

  "Minha linda, isso é impossível. Mas, tu agora vais fazer pouco barulho e entrar no carro." não sei se era do álcool, da pressão no meu pescoço, dos nervos ou do medo. Mas, comecei a sentir as pernas a ficar bambas e o meu corpo a perder força. O Loirinho, levantou-me e pôs-me no ombro dele. Não tinha forças para lutar.

  "Lucas!" ouvi o Salvador. O Salvador? Devo estar mesmo bêbada. "Põe-la já no chão!" não conseguia ver a cara dele, mas tenho a certeza que era ele e que estava zangado. Deduzo que o Loirinho se chame Lucas, porque senti-a as costas dele a vibrarem-se como se estivesse a rir.

  "Não."

  "Lucas, tu tens 3 homens, eu tenho o triplo. Quem é que achas que sai daqui vivo?" senti-o a engolir a seco. "Aí, Salvador. Mesmo com tudo o que se passou não consegues esquecer um rabo de saias..." a voz dele estava carregadíssima de sarcasmo. "Sabes que ela não é um rabo de saias." ele estava cada vez mais agressivo. "Okay eu ponho-a no chão." Senti o meu corpo a rolar do ombro dele e cair no pavimento. Senti um líquido quente na minha testa e uma dor tremenda no meu pulso. Começaram a aparecer pontos negros na minha visão, pestanejei várias vezes, mas eles não se iam embora.

  Ouvi o barulho de um carro, a passar rapidamente perto da minha cabeça. Logo a seguir, estava a ser segurada por dois braços fortes, como se fosse um bebe. Ele tinha um cheiro forte de perfume. Olhei para cima e vi o Salvador, os olhos brilhavam com preocupação. "Cheiras bem." constatei enquanto me aninhava nos braços dele. Sentia os pontos pretos a multiplicarem, os meus olhos a fecharem. "Não podes fechar os olhos Princesa" entramos num carro. Eu tentei fixar o meu olhar no dele, ele parecia preocupado, juro que tinha os olhos a lacrimejar. "Isto pode arder, mas é preciso Mia." sorri, até sentir água na minha cara, a minha visão voltou. Mas o meu ferimento na testa ardeu imenso.

  "Auuu" chorei. "Desculpa princesa." vi a cara dele aproximar-se da minha testa, presumo para me dar um beijinho. Mas, parei-o. Afastei a cara dele da minha. Vi as feições dele a franzirem, o olhar preocupado desapareceu quase completamente e voltou aquela aura possessiva. "Tás a ver o que acontece, deixo-te 5 minutos sozinha e tu fazes merda!" gritou. Afastei-me dele, as minhas costas já estavam junto da porta do carro. Não havia para aonde ir. "Eu não fiz nada." sussurrei.

  "Mia, tu não fazes ideia da confusão que criaste! Quem é que te deu permissão para sair à noite!? Ainda por cima com essa roupa! O pior de tudo é que bebeste!" berrou tão alto que parecia que os meus tímpanos iam explodir. Apesar de ainda estar frágil, senti uma bolha de raiva a crescer dentro de mim. Mas eu agora sou uma criança de 5 anos? Além disso, não o conheço de lado nenhum para ele andar a dizer o que posso e não posso fazer.

  "Tu não tens o direito de falar assim comigo. Eu não fiz nada de mal, fui divertir-me com as minhas amigas e aquele gajo estragou tudo." ao dizer isso lembrei-me que não sabia aonde é que elas estavam "Sabes delas, diz-me que sim Salvador." implorei, pois neste momento era a única pessoa que me podia ajudar. Ele riu-se, secamente. "Sei, elas estão bem. O Diogo e o Martim levaram-nas a casa."

  O meu coração acalmou. Agora que o álcool começava a sair do meu sistema, milhares de perguntas apareciam na minha mente. Não percebi nada do que aconteceu hoje. O Loirinho parecia conhecer-me, sabia o nome; e conhecia o Salvador também. Eles ambos falaram de mim, mas não percebi o porquê. A única coisa que sei é que eles são perigosos. Por mais que me tente afastar de problemas, eles parecem que me perseguem. Estes seres humanos são a definição disso.

  Olhei lá para fora, o sol já começava a nascer, deviam ser cerca de umas seis da manhã. O movimento nas ruas era praticamente nulo. Só as padarias é que já estavam abertas. Voltei a virar-me para o Salvador, ainda não percebi o que ele queria de mim ou quem ele era. Fechei os olhos e memórias daquela noite assombraram-me a mente.

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  "Olha aquele não é o teu irmão?" ouvi a Rita a perguntar. Virei-me e realmente ela tinha razão. Lá estava ele na outra carruagem do comboio. Levantei-me e fui ter com ele. Só lhe queria cumprimentar, ambos tínhamos ido sair, por isso era normal estarmos no mesmo comboio.

  "Então mano está tudo bem?" perguntei enquanto lhe dei um beijinho na bochecha. Ele empurrou-me. Achei estranho. "Então?" questionei outra vez. Desta vez olhou para mim. Ele não parecia estar bem, sentia que estava nervoso, que algo não estava bem. Finalmente respondeu-me "Sim, não te metas."

  Continuou a andar e entrou na carruagem em que eu estava com as minhas amigas.

  Mal sabia eu que aquele momento ia ser o último que tinha com ele.

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  "Princesa, acorda já chegámos." abri os olhos e vi que me encontrava outra vez nos braços do Salvador. Estávamos à frente de uma vivenda gigante, com uma piscina enorme. Tinha um ar moderno e bastante caro. "Estamos aonde? Pensava que ia para casa." "Achas? Depois do que aconteceu hoje, não te largo outra vez. Estamos em minha casa." agarrou-me com mais força.


AbandonadaWhere stories live. Discover now