Quando entrámos, sentou-me em cima da mesa e foi-se embora. Examinei os meus arredores, o interior da casa combinava com o exterior. Muito bem decorada, mas havia uma inexistência de personalidade na casa. Parecia uma casa modelo, que ninguém realmente vivia lá. Mas, a existência de algumas peças de roupa e loiça por lavar, mostrava que realmente havia vida naquela casa.
O Salvador voltou com um kit de primeiros socorros. Sentou-se à minha frente e começou a limpar a minha cara. Ardeu. Conseguia ouvir a minha ferida a borbulhar com a água oxigenada. Quando acabou, olhou para mim seriamente e pegou na minha mão direita. Inspecionou-a. Com tanta adrenalina no sistema até já me tinha esquecido do meu pulso. Olhei, estava inchado, mas não aparentava estar partido.
"Tens de pôr gelo e vou te dar uns comprimidos para a dor"
"Podes me explicar, como é que estavas lá?"
Estendeu-me a mão com um comprimido e depois deu-me um copo de água. Enquanto tomava a água, ele foi-me respondendo.
"Foi uma coincidência, vi-te a entrar na discoteca." colocou as mãos na minha cintura, estava calmo bastante pensativo. "Então também entrei, fui atrás de ti, observei-te a noite toda." olhou agora para mim, os olhos dele pareciam estar mais escuros, o olhar dele desceu até às minhas pernas, para o sítio onde o macacão acabava.
"Não sabes a raiva com que fiquei, a ver os gajos todos a aproximarem-se daquilo que é meu. A olharem para ti. Mas tu sabes a quem pertences, não deste bola a nenhum deles. Só sei que quando te vi com essa roupinha, só me apetecia ter pegado em ti e levado para o carro. Devia ter feito isso, evitava esta confusão toda." as mãos dele apertavam cada vez mais a minha cintura. A cara dele estava cada vez mais próxima da minha, ele estava no meio das minhas pernas. Não conseguia respirar. Ele estava demasiado próximo, era intoxicante.
Encostei a minha mão, a que não estava aleijada ao peito dele, de maneira a tentar criar uma barreira invisível entre nós. "Eu agradeço o facto de me teres salvo, mas eu não sou tua. Não sou de ninguém." sussurrei.
Ele colocou os lábios, perto do meu ouvido e respondeu-me "Sabes muito bem que és Princesa, mas só para teres a certeza..." os lábios dele atacaram-me o pescoço. O meu ponto fraco. Não conseguia pensar em nada, só nos lábios dele. O prazer passou a dor, agarrei-lhe o cabelo. "Salvador... pára." agarrou-me a mão e puxou-a para baixo. Continuou a morder o meu pescoço. Até que finalmente parou, no fim deu-me um beijinho por cima do sítio onde há segundo os dentes dele estavam enfiados.
"Pronto, agora já todos sabem de quem és, até tu."
Ele não acabou de fazer isso... ele marcou-me. Filho da mãe.
"Tu tens de parar com esta merda! Tens a mania que mandas em mim, mas já chega, eu estou farta! Eu só quero que saias da minha vida para voltar a ter paz!" desatei a chorar
"Princesa eu tentei deixar-te em paz, mas não consegui. Além disso tu só estás em segurança comigo." limpou as lágrimas dos meus olhos
"Tu és maluco, tu conheces-me há 3 dias! Eu sei de cuidar muito bem de mim, não preciso de ti." gritei, tinha perdido completamente a minha calma.
Riu-se. O estupor riu-se. "Mia, eu conheço-te desde que tu eras uma peste de meio metro. Sabes cuidar tão bem de ti, que só te metes em confusões. Só para saberes que agora sempre que quiseres ir a algum lado, vais comigo." o tom dele era cada vez mais baixo, mas extremamente assustador. A minha pele ficou arrepiada.
Eu não me lembro de alguma vez ter visto este ser humano na minha vida. Sempre fui uma miúda calma, que tentava fazer sempre o que era o mais correto, mas que sempre deu para o torto. Parecia que era castigada por fazer o bem.
"Mas como é que tu me conheces?!" estou tão frustrada que já nem consigo controlar os meus movimentos. Ele apertava-me cada vez mais a cintura, como se assim me conseguisse controlar. Comecei a bater-lhe, só com uma mão e sem grande intensidade, mas servia para descarregar a raiva.
Quando finalmente gastei a minha energia toda, olhei para cima e olhava para mim com pena. "Se parares de me agredir eu respondo-te."
Não estava à espera que ele dissesse isso. Abri a boca para lhe responder, mas fechei imediatamente, não tinha resposta. Ele finalmente retirou as mãos do meu corpo, levou-as à cabeça e respirou profundamente.
"Como já disse, conheço-te desde pequena. Ainda eras um bebé. Peguei-te ao colo e tudo... Era muito amigo do teu irmão."
"O que? Isso é impossível! Eu não me lembro de ti, como... tu és doido!"
A minha cabeça estava à roda. Como é que ele conhecia o Miguel? Como é que eu não me lembro dele? A minha vida que há uns dias parecia estar finalmente estável, cada vez ficava pior. Parecia que se tinha tornado numa bola de neve, que cada vez ficava maior e mais impossível de controlar.
O meu rosto já estava encharcado de lágrima, era impossível ouvir uma referência ao meu irmão sem começar a chorar. Tenho tantas saudades dele.
"Deixa-me acabar de falar por favor Princesa." as mãos dele voltaram para a minha cintura e começou a desenhar padrões. Desta vez o toque dele realmente serviu para me acalmar, ainda estava confusa; mas a única maneira de ter respostas era deixá-lo falar. "Olha para mim." levantei a cabeça e olhei-o nos olhos.
"Continuando... eu sempre me dei com o teu irmão, estávamos sempre juntos. Tu é que eras uma miúda extremamente tímida, mas ao mesmo tempo respondona. Vinhas ter com ele, não falavas nem olhavas para mais ninguém O engraçado é que lhe respondias à medida." os olhos dele brilhavam enquanto falava sobre mim. Comecei a sentir as minhas bochechas a aquecer. A descrição que ele estava a fazer, realmente correspondia à minha pessoa.
"Mas ainda não percebo algumas coisas Salvador..."
"Eu sei, mas agora vamos dormir." ele agarrou-me e pôs me no chão.
Fico um pouco mais descansada por deter mais informação. Mas mesmo assim faltam demasiadas peças do puzzle. A única coisa que queria neste momento era que o Miguel tivesse aqui, ele sempre soube o que devia ser feito. A magia de ser o irmão mais velho, parece que sabem sempre tudo.

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Abandonada
RomanceMia, aos 17 anos passou por uns dos momentos mais complicados da sua vida. Do qual afinal não sabia tudo. Quando aos 18 consegue voltar a recompor-se, aparece Salvador que a desequilibra. Mia na verdade não sabe o que realmente aconteceu há uma an...