Com um último suspiro, Aaleyah acumulou a energia em um tiro mais poderoso e desferiu contra o irmão. Mileyah absorveu e manteve-se firme. O esforço foi demasiado e Aaleyah tombou. Sem o comando de seu líder a horda dispersou. Mileyah aproximou-se e o encarou ainda deitado.
Antes de qualquer medida intempestiva, o Segundo-Ejaro parou alguns instantes diante de seu irmão:
— Irmão, rogo que aceite a derrota e volte comigo.
— Mileyah, meu irmão, sim, eu percebo o quão enganado estava. Peço-te que me ajude a conquistar a benção de nosso Pai. — Aaleyah toma uma postura submissa.
Mileyah é tomado de compaixão. Até então não se conhecia a falsidade, logo não havia motivos para suspeitar da repentina mudança de atitude. Mileyah estende o braço para apoiá-lo.
Assim que suas mãos se tocam, Aaleyah solta uma gargalhada estrondosa. A força de Mileyah foi sugada pelo irmão. O Segundo-Ejaro dobra os joelhos e cai ao chão. Pela expressão do rosto podia-se perceber a força se esvaindo para a renovação de Aaleyah. Imediatamente, uma nuvem de Ejaros-Menores encobre a cabeça de Mileyah, com muito esforço ele tenta se reerguer, soltando a mão do irmão, mas Aaleyah o impede segurando firmemente.
Os golpes dos Ejaros-Menores dessa vez, surtiam efeito, Mileyah pouco a pouco parecia dobrar-se cada vez mais. A horda não diminuía a fúria do ataque. Com a iminente derrota os gritos de euforia soavam mais ensandecidos. Muitos Ejaros-Menores, por causa da energia dispersada para bater e festejar, acabaram tombando esgotados. Enquanto isso Aaleyah via com satisfação a queda do irmão.
Como já o tivesse dominado completamente, Aaleyah desvia a atenção por um instante para comandar seus criados a construírem um cativeiro que pudesse conter Mileyah e não permitir que ele recuperasse as forças. Essa distração foi suficiente, o Segundo-Ejaro num último esforço se livra do irmão saltando para longe dele.
Bastou apenas uma fração de tempo para que Mileyah retomasse as forças e recomeçasse a investida, ao chegar próximo do irmão para atacá-lo ficou paralisado....
* * *
Quando Gialeyah contou tudo o que ouviu, Mileyah pediu que ele fosse ao encontro do Supremo. Destemido, o Ejaro-Menor voou com a velocidade do pensamento. Porém, em sua jornada acabou encontrando com um dos bandos que havia sido enviado por Aaleyah. Ao vê-lo sozinho, o líder estranhou e impediu que ele prosseguisse. Gialeyah tentou disfarçar alegando que havia sido enviado para encontrá-los. Acabou sendo obrigado a integrar o grupo e seguir com eles.
A busca durou muito tempo, os grupos não conseguiam encontrar o Supremo. Ox Vyndeboh é muito vasta e os Ejaros-Menores vasculhavam incessantemente grandes áreas sem sucesso. Gialeyah também estava preocupado porque sabia que seu amigo enfrentava sozinho um perigo inimaginável. Quanto mais demorasse pior seria. O ódio dos Ejaros-Menores pelo Segundo-Ejaro era notório. Dentro do grupo não cansavam de provocar escárnios para humilhá-lo.
Alguns Ejaros-Menores ficavam cansados e paravam, uma Ejara-Menor tombou no chão. Gialeyah aproximou-se para ajudá-la. Esse movimento chamou a atenção do grupo, o líder aproximou-se dele.
— O que é isso irmão, o que fazes aí?
Nesse instante, o grupo forma uma roda. Ele tem absoluta certeza de que se condenará se disser a sua intenção. Os Ejaros-Menores fecham o cerco ao redor de Gialeyah. "A verdade é a única palavra que merece ser dita. Só os fracos temem a Verdade." Foi o que aprendeu de seu amigo. Embora em seu interior a vontade gritava para que ele enfrentasse o grupo, a prudência indicava que não é a hora para revelar-se.
Os Ejaros-Menores são obstinados em seus propósitos, veem malícia em todos os lugares, a relutância de Gialeyah em respondê-los diretamente despertou a desconfiança. As provocações são imediatas, alguns suscitam o suplício do referido. Gialeyah permaneceu impassível. Pela primeira vez percebeu a diferença entre si e seus companheiros, por alguma razão ele entendeu o porquê do seu altruísmo natural ser superior à conduta mesquinha que normalmente os Ejaros-Menores praticam. Eles obedecem ao seu criador sem questionar não por uma visão de perfeição, mas justamente pela limitação e medo com que Aaleyah os domina.
Ao ser nomeado, Gialeyah viu-se curado dessa adulteração e aprisionamento. Não conseguia mais disfarçar sua aversão ao comportamento do grupo, não se sentia superior a ninguém, apenas pensou que pudesse trazê-los a luz da Verdade.
Gialeyah preferiu ignorar o grupo e, num gesto de compaixão ergueu a mão a Ejara-Menor que estava caída. A atitude tomou de assombro o líder que o atacou antes que pudesse tocar na Ejara. Seguido pelo restante do grupo Gialeyah foi dominado rapidamente, como era de se esperar o aprisionamento do Ejaro-Menor não bastou para satisfazer a ânsia do grupo, não houve sequer um minuto de descanso para Gialeyah. A todo instante ele recebia socos e pontapés, alguns Ejaros-Menores o atacavam com pedras e lamas, sem a resistência dos Ejaros originais, Gialeyah diminuía a cada roubo de sua energia.
Percebendo que sua busca era infrutífera, o líder determinou que o grupo retornasse para Aaleyah a fim de saber como deveriam proceder. O prisioneiro não teve descanso sendo tratado com escárnio e rebocado por dois Ejaros-Menores ele procurava resistir, pois tinha em mente que deveria cumprir a sua missão, ainda que parecesse impossível naquele momento.
Acredito que seja difícil entender quando digo que os Ejaros foram criados logo após a luz e a eternidade, antes do tempo e da própria morte. Porém, foi a primeira criatura a ganhar vida, dádiva do Ser Supremo e tudo foi criado com as mesmas características para durar na eternidade.
* * *
Os Ejaros não conhecem a morte, mas sofrem dores atrozes. Por isso, quando Aaleyah puxou a corrente que prendia Gialeyah aquela imagem consternou o Segundo-Ejaro de tal forma que ele se pôs de joelhos e chorou.
A satisfação de Aaleyah diante da submissão do irmão foi tão grande que irradiou uma luz avermelhada em torno de seu corpo. Essa luz criou uma chama tão ardente que alguns Ejaros-Menores foram tragados para dentro dela sofrendo queimaduras intensas. As chamas se multiplicavam no ambiente, alimentavam o calor causando aflição em todos, até Aaleyah, mas esse não se incomodava com a dor, pois o sofrimento dava-lhe prazer.
Mileyah não sabia mais o que fazer. Não que elese entregasse a derrota, mas sofria pelo estado do amigo e pela dor daimpotência de libertá-lo.
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Ox Vyndeboh, Mundo de Luz e Sombras
FantasyTrago-vos um mundo novo, belo e perfeitamente harmonioso, porém, mais antigo do que qualquer coisa que possa ter existido. Mais terrível do que qualquer mente humana seria capaz de imaginar. Deixe-me contar-lhes as histórias desse paraíso, que dever...