Entre xingamentos e decisões.

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Todos saem da casa, pássaros de fogo gigantes sobrevoam o céu e deixam suas cinzas caírem, mas o clima é frio. O horizonte é azul e estamos no que parece ser uma montanha.
-A culpa é toda sua!- Franciele aponta para mim.
-Não diga isso dela! Nós nem sabemos como viemos parar aqui ou quem realmente era aquela mulher.- Erick me defendia quando eu finalmente resolvi falar toda a verdade.
-Silêncio! Por favor, ela está certa Erick, a culpa de vocês estarem aqui é toda minha, nada do que eu ou a rainha Grenda falamos é alucinação ou inventado. Todos vocês precisam aceitar que a realidade não é como nós conhecemos, algumas coisas podem se alterar. Nem eu conheço a mim mesma, mas não quero que uma guerra entre nós acabe fazendo com que a gente fique aqui para sempre, nunca passei tanto tempo tendo que fugir da realidade assim, eu sempre atraía as coisas de um outro mundo para o nosso, mas agora nós é quem fomos atraídos. Querendo ou não, precisei sonhar para que isso acontecesse, portanto sou a única que sabe como as coisas funcionam e preciso que antes de tudo vocês entendam.
-Entender o que? O quanto você nos fodeu garota? Eu não vou ficar aqui ouvindo seu papo de boa moça, pensei que pudéssemos ser amigas antes de ver o quão suja você é, isso que você tem é o que? Uma espécie de demônio ou uma maldição?
-Calma Franciele por favor, não estou dizendo que não sou culpada o suficiente, só estou falando que quero ajudar.
-Tudo bem, e se a gente for com você, quem nos garante que não vamos morrer?
Ela olha para todas as pessoas que estavam ali, jovens que já tinham seus problemas e acreditavam estarem loucos pois nada daquilo parecia real o suficiente. E eu vi que eles acreditaram que ir comigo os mataria. Logo depois começaram a repetir as frases de Franciele, dando razão a tudo que ela dizia, quando Meredith interrompeu:
- CALEM A BOCA! Seus idiotas, vocês acham que isso aqui é brincadeira? A Helena pode ter feito o que for, mas se isso aconteceu não é culpa dela, nós também somos culpados. Quantos de nós não estávamos preocupados com a nossa vida e nem se quer conversamos com ela ou tentamos ser amigos de verdade? E agora mais uma vez, mesmo quando ela é a única que pode nos ajudar, não damos ouvidos...se querem morrer morram sozinhos, eu vou com ela.-
Nesse momento a maioria das pessoas foram para perto de Franciele e disseram que ela estava certa e eu já tinha feito muita coisa ruim.
Os pássaros de fogo foram embora, isso significava que a noite também iria e predadores perigosos viriam, eu precisava alertar a todos mas a gritaria era enorme. Franciele resolveu interferir novamente:
-Muito bem, só existe uma solução: Vamos nos dividir,  àqueles que acreditam na inocência de Helena, o que obviamente não é verdade, vão com ela para serem mortos ou coisa pior. Os que querem voltar para casa seguros vem comigo e vamos procurar àquela rainha ordenando que nos mande de volta.- Apenas Meredith, Thiago, Erick e Gisele vieram para perto de mim, outras doze pessoas resolveram que ir com Franciele seria a melhor opção, o restante que incluía duas gêmeas estavam tão assustados que nem decidiram nada e apenas olhavam para o lugar com medo e maravilhados ao mesmo tempo.
- Preciso alertá-los, quando o sol se põe e os pássaros flamejantes se vão significa que predadores estão chegando, separados ou não, é mais seguros entrarmos na casa.
-Se você pode nos trazer até aqui, com certeza pode defender seu grupo desses "predadores", não vejo o por quê de justo o seu lado ficar a salvo na casa. -Um garoto que estava decidido em ficar distante de mim pronunciou essas palavras de forma estridente.
-Por favor, fale mais baixo- Tentei acalmá-lo.
-Ora, fale baixo você. Vamos pessoal, devemos entrar na casa e ficarmos seguros principalmente dela.
Barulhos se estendiam no céu, as aves negras devoradoras estavam perto demais, elas comiam tudo que tinha vida , até mesmo outras espécies de pássaros, seus corpos pareciam apenas espíritos vazios e em meus sonhos morrer sendo comido por uma era a forma mais cruel de sentir dor.
As pessoas logo perceberam que eu falava sério e correram para dentro da casa, eu e os que me apoiaram também entramos mesmo que os outros não quisessem, apenas os indecisos ficaram do lado de fora observando.
-Ei, entrem aqui- Eu tentei falar o mais audível possível, mas nenhum deles pareceu escutar.
-Fique calada, não vê que enlouqueceram graças a você.- Disse o garoto arrogante enquanto eu tentei ignorar.
-Okay pessoal é o seguinte, as aves não atacam se tiver luz e todos devem ficar parados, estão se aproximando, xiiu.
Os grunhidos vinham de toda parte e todos ficaram imóveis na sala, as aves rapidamente carregaram os que estavam lá fora, mas eles não pareciam estar sofrendo. De repente Erick saiu da casa com uma faca:
-Venham me pegar! Andem suas aves nojentas!
- O que você está fazendo! Saia daí- Eu corri para tentar fazê-lo parar, ele foi em direção a uma pequena árvore e cortou um galho fino com a faca, quando a ave se aproximou ele subiu rapidamente em suas asas e enfiou o galho na cabeça dela, pareceu rápido e fácil, como ele sabia que isso era possível? Logo peguei um galho e fiz o mesmo com uma ave que segurava nas patas Ana Clara, uma das garotas que ficara do lado de fora, apenas ela entre todos escapou. Todas as aves fugiram e as que enfiamos um galho na cabeça sumiram como cinzas. Erick se aproximou e todos saíram da casa o aplaudindo, mas eu comecei a suspeitar muito dele.

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