Com a mochila nas costas, e um semblante desanimado, a pequena Chaewon caminhava de volta para casa.
O final de tarde chuvoso fizera a loirinha azarada ter de se molhar durante todo o percurso para seu lar.
Poucas lágrimas rolavam por seu rosto, e as gotas da chuva se misturavam com estas.
As memórias de algumas horas atrás se repetiam em sua mente pela milésima vez.
- Fique longe da gente!- sentiu um empurrão repentino, que fizera seu lanche cair no chão.
- M-mas eu só queria me sentar na m-mesa.- a loira sussurrou trêmula.
- Nunca deixaríamos uma maluca se sentar com a gente! Se toca!- a voz mais rouca que a sua entrou em sua cabeça e partira seu coração em pedaços. - Não ouse se aproximar de nós de novo! Essa sua doença deve ser contagiosa!
- Droga!- praguejou, chacoalhando a cabeça para ver se conseguia livrar-se de seus pensamentos.
Ao ver sua casa, retirou um molho de chaves do bolso e correu até a varanda.
Passou a mão livre pelos cabelos molhados, soltando um suspiro cansado enquanto começava a se recompor.
Levou calmamente uma chave prateada até a o trinco, e, depois de destrancar a porta, adentrou o hall da casa, ficando um tanto pensativa.
Devia cumprimentar seus pais, que estavam na cozinha, mas seu ânimo apenas fez seus pés lhe guiarem para as escadas que davam nos quartos.
Subiu degrau por degrau, sem o menor ânimo, e, ao entrar toda ensopada em seu quarto, fechou a porta com força e jogou sua bolsa em um canto.
Sem se importar se estava molhada ou não, jogou-se na cama, afundando o rosto no travesseiro.
- Chaewon?- sua mãe abriu a porta, com a voz preocupada. - Filha, por que não esperou seu pai ir te buscar?!- correu até a loira, sentando na beira da cama.
Passou as mãos pelo uniforme, e pelo cabelo molhado da garota, fechando suavemente os olhos e respirando fundo.
Seu coração se partiu ao ver sua filha naquele estado, em uma situação que não aparentava estar boa.
- Eu só quis vir embora logo.- sua voz, apesar de sair abafada, fora audível para a mais velha.
- Vá tomar um banho, querida.- incentivara. - Algo aconteceu hoje?- arriscou perguntar, mesmo já sabendo a resposta.
- O mesmo de sempre.- apoiou-se em seus braços para se levantar e sentar-se ao lado de sua progenitora. - Tentei me enturmar, me empurraram e disseram que sou maluca.- revirou os olhos. - Eu nunca vou entender isso! Não sou maluca! Eu sou normal, não sou, mamãe?!
- Claro que é, meu amor.- mordeu nervosamente o lábio inferior, segurando o suspiro pesado que estava prestes a soltar. - Veja bem, você ainda vai fazer algum amigo. Não perca as esperanças!- abraçou-a de lado, deixando um beijo no topo de sua cabeça. - Agora apenas vá tomar banho e descanse.
- Certo.
Em um movimento preguiçoso, levantou-se e pegou uma muda de roupas em seu guarda-roupas.
Observou sua mãe sair de seu quarto, e se permitiu deixar lágrimas quentes escorrerem por suas bochechas frias.
Estava frustrada. Nunca entenderia as pessoas de sua escola, nem as de qualquer outro lugar.
Um nó se formou em sua garganta, e uma vontade imensa de gritar floresceu, mas não o faria.
Sem mais enrolações, pegou sua toalha branca e se dirigiu até o banheiro.