Love at first sight

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Era inverno de 1972 quando eu o vi rapidamente na tv enquanto estava distraído no sofá, era tentador, Sempre que eu o via na mídia era difícil disfarçar o quanto eu o desejava, era notável eu não conseguia tirar os olhos da tv, David Bowie era o que mais havia de quente naquele momento e isso me enlouquecia.

- Que gosto peculiar você tem- disse Keith meu grande amigo em tom de deboche
- Não entendi.- respondi meio nervoso
- Eu sei que você gosta do Bowie, mas eu não vejo nada demais.-

Fiquei aliviado por ele estar falando do trabalho dele, eu não queria causar nenhuma confusão a respeito dos meus sentimentos por alguém. Eu nunca gostei da forma como Keith se referia ao Bowie mas eu tentava evitar demonstrar isso ao máximo, mas certa vez eu acabei soltando sem querer um comentário comprometedor, estávamos no estúdio quando ele disse algo sobre uma de suas músicas não ser nada impressionante ao ponto de receber tanto reconhecimento assim, e eu acabei ficando de saco cheio e respondi de forma levemente hostil.

- Da pra parar? Qual é o seu problema com ele? - perguntei
- Ei, calma não precisa tomar as dores pra você- respondeu não dando muito a mínima
- Eu realmente não entendo qual o seu problema com ele, vocês nem se conhecem-
- E você pelo visto não vê a hora de conhecer...-

Fiquei quieto por um instante.

- Tudo bem você ter uma paixão estranha por esse cara, eu só não sou obrigado a concordar com tudo o que você pensa- disse ele ainda sem dar muita atenção.

Eu decidi continuar em silencio entretanto, expressando tanta indiferença quanto ele.
Eu evitava tocar no assunto, até que dois meses depois em fevereiro de 1973 acabamos encontrando Bowie em uma festa de um amigo em comum em um pub, eu estava conversando com duas garotas quando Keith esbarrou comigo apontando pra esquerda, Bowie estava rodeado de alguns amigos me olhando a cada dois segundos, (talvez na cabeça dele ele estava sendo discreto).

- Eu vou buscar uma bebida- falei pras gatotas

Puxei Keith de canto e falei mais a respeito.

- Acho que você devia falar com ele- disse Keith - Ele não tira os olhos de você...-
- Mas é claro que eu vou falar com ele- respondi.

Apesar de eu estar interessado, eu não tinha pressa, fui até um sofá que havia perto da mesa onde ele estava e me sentei após pegar um drink. Ele continuava me olhando sem parar, modéstia à parte eu sabia que aquilo não seria difícil. Não demorou nada pra uma das garotas com quem eu conversava minutos atrás me encontrar.

- O que faz aí?- perguntou - Achei que o drink que você foi buscar fosse pra gente-
- Que pena- respondi olhando pro Bowie
- Vocês já se conhecem?- perguntou ela olhando pra ele também.

Eu não respondi, mal dei ouvidos.

- Vamos lá eu conheço bem o amigo dele- disse ela com olhar malicioso se referindo a um dos caras da mesa.

Eu não precisava de ajuda, mas não iria negar a oportunidade, fomos até a mesa e eu conhecia uma pessoa ou outra, entre um cumprimento divertido e outro eu o via me olhar com os olhos brilhando, engolindo a seco e bebendo algo na intenção de disfarçar.

- Como vai?- perguntei estendendo a mão pra ele.

Com um copo na mão e as bochechas redondinhas cheias de bebida ele me olhou engolindo de uma vez e estendendo sua mão de volta.

- Oi... Eu vou bem obrigado, é um prazer conhecer você- disse ele deixando o olhar mais leve e o aperto de mão mais suave - E como vai você?-
- Eu estou muito bem agora- falei ainda segurando sua mão.

Keith me olhava do outro lado da festa virando um drink e fazendo um sinal de "não" com a cabeça em forma de deboche. Me sentei ao lado de Bowie e em meio ao barulho da falação começamos a conversar e logo notei um ar de timidez da parte dele.

- Finalmente conheci você - falei chegando mais perto.
- Queria me conhecer?- retrucou imediatamente com olhar doce.
- Eu mal podia esperar-
- Ah, meu deus eu não sei o que dizer -
- Não? Por que?-
- Bem, você é o Mick Jagger- falou com um sorriso tímido.

Ele me contou que era um grande fã do meu trabalho, e que havia me visto anos antes em um show, também me disse que eu era uma grande inspiração pra tudo o que ele fazia. Eu fiquei feliz em saber disso porque eu também era um grande fã do trabalho dele, mas no fundo a minha intenção ali era puramente sexual, então no começo eu acabei não dando a mínima pra algumas coisas que ele dizia, mas logo estávamos tão próximos que parecíamos grandes amigos de longa data, rimos por umas duas horas e ele já estava bem mais à vontade.
Em meio a bagunça seu amigo acabou derrubando bebida em seu casaco, ele caiu na gargalhada ao invés de se preocupar, ele tirou o casaco e continuamos rindo como se nada tivesse acontecido, era impressionante o seu bom humor.

- Você não ta com frio?- perguntei
- Não muito...- respondeu sem olhar pra mim
- Eu tenho um casaco no carro...-
- Não, não se preocupe- interrompeu -Ta tudo bem-
- Tem certeza de que não quer um casaco? Você vai congelar - perguntei mais uma vez.

Ele demorou pra demonstrar alguma reação, mas logo disse sim.

- Talvez não seja uma má ideia- falou.

Fomos até o carro que estava do outro lado da rua em um estacionamento ao ar livre, ainda rindo de tudo que fosse possível.
Entramos no carro, fechei a porta e puxei um pequeno cobertor que estava no porta malas.

- Você não me disse que tinha um cobertor aqui- falou rindo.
- Eu gosto pra quando preciso ir pra longe e está frio, é bem aconchegante- falei.
- Isso é bem inteligente, mas... Então você não tem um casaco não é?-
- Não, mas eu tenho um cobertor- falei levantando uma parte do cobertor o convidando a se juntar a mim.

Ele aceitou o convite e logo começou a fazer piadinhas.

- O que mais vocês levam nesse carro?- brincou procurando por coisas estranhas.
- Apenas o necessário- completei ligando o radio em volume baixo.

Percebi que haviam algumas pessoas no estacionamento próximas ao carro em que estávamos, meu plano de começar a passar as mãos nas coxas dele por baixo do cobertor foi por água a baixo, mas o dele não, ele estava cada vez mais perto de mim, até que colocou uma de suas pernas por cima da minha enquanto falava sobre uma revista que tinha encontrado por baixo do banco da frente, apesar de tudo isso, nada aconteceu, entretanto, ele já estava deixando bem claro que estava interessado e flertamos bastante, ele mexia em minhas mãos enquanto olhávamos a revista e ele a lia em voz alta, eu só prestava atenção em sua mão leve, macia e quentinha tocando meus dedos, e sua perna balançando por cima da minha.

- Não acha que estão sentindo nossa falta la dentro?- perguntou fechando a revista
- Não - falei me virando de frente pra ele olhando diretamente em seus olhos
- Bem, okay!-
- O que houve com seu olho?- perguntei.

Ele me contou que havia levado um soco na cara anos atrás e que seu olho ficou permanentemente assim, ele disse isso com tanta tranquilidade que eu não soube o que responder.

- Você tem olhos lindos- disse ele olhando diretamente em meus olhos.
- Você acha?-
- Sim-

Keith chegou batendo no vidro do carro do lado de fora, eu me segurei pra não xingar ele bem ali na frente do Bowie.

- O que foi?- perguntei ao abrir a porta.
- Temos que ir embora, o pub já fechou- disse
- Mas já?!- falei surpreso com o quanto a noite havia passado rápido.
- Oi Keith... é um prazer ver você - disse Bowie sem resposta.

Keith foi falar com um cara que estava próximo ao carro, foi proposital pra eu me despedir do Bowie, é claro que eu não ia deixar ele sair no frio então eu emprestei o casaco que eu estava usando pra ele, o amigo dele estava logo do outro lado da rua na porta do pub o esperando.

- Tchau, foi muito bom conhecer você - disse ele formalmente com sua carinha séria me estendendo a mão.

- Tchau- falei o puxando em meus braços.

Foi um grande abraço sincero, ele soltou um leve riso e eu dei um beijo em sua bochecha, ele se foi... Keith voltou sem perguntas, apenas fomos embora e no caminho me lembrei de que eu não havia pego o número de telefone do Bowie, e eu mal podia esperar pra vê-lo de novo.

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