Capítulo 03 - Descobertas Inesperadas

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FERNANDO ALENCAR

- O que você gosta de fazer no seu tempo livre, Fernando? - Ayla estava apoiada na mesa, eu estava de frente para ela, observando seu belo rosto

- Eu amo assistir filmes - falei

Droga!

Instantaneamente me senti envergonhado por ter usado a palavras "assistir", eu ia me retratar quando Ayla sorriu docemente e me surpreendeu dizendo:

- Eu posso escutar a sua respiração acelerada - ela riu - Você parece nervoso, Fernando, não se preocupe, você pode ver, qual é o problema de gostar de assistir?

- Eu sei - sorri aliviado - Tem razão, eu estou agindo estranho

Pareço ridículo

- Você tem que ser normal - ela riu - Eu não posso ter um amigo estranho

- Você quer mesmo ser minha amiga, Ayla Ametista?

- Sim! - ela ficou empolgada - Eu estou muito feliz por ter um amigo, você é meu amigo né?

- Eu sou - sorri - Mas me diz, por que toda essa empolgação? Aposto que você tem muitos amigos

- Eu não - ela balançou a cabeça

- Como não? - fiquei confuso

- Aposto que você tem muitos amigos, Fernando, você é incrível, seus amigos devem te amar muito

A empolgação dela é contagiante

- É... Eles amam - ri

Ás vezes não parece, mas...

- Vocês se divertem muito?

- Com certeza, eles são muito brincalhões

- Sério? - ela ficou empolgada - Fale mais sobre eles

- São... Engraçados, às vezes... Malucos - sorri

- Malucos? - ela ficou confusa - Eles... Tem algum problema?

- O que? - franzi o cenho - Como assim?

- Minha mãe me disse que pessoas malucas são internadas em um hospital psiquiátrico, é uma doença, não é?

- Eles não são esse tipo de malucos - ri - É uma expressão, você nunca escutou?

- Não - ela balançou a cabeça

- Na escola ou... Sei la, é impossível não ter escutado

- Eu nunca fui a escola

- Como... O que? Sua mãe sabe que isso é crime né?

- Eu aprendi em casa, professor particular

- O seu pai deixou? Ele não reclamou?

- Papai morreu quando eu era muito pequena, então é só eu e minha mãe

- Isso não está certo, Ayla Ametista - respirei profundamente - A escola é a melhor época de nossas vidas, sair com os amigos, se divertir...

- Eu só fiquei dentro dessa biblioteca desde que me entendo por gente - ela riu, como se isso fosse normal

- E sua casa? - perguntei incrédulo

- Nossa casa é um andar abaixo, você não notou? - ela sorriu

- Você não nota a gravidade disso tudo?

- Do que você está falando, Fernando?

- Ela não pode te manter prisioneira, Ayla Ametista

- Eu não sou uma prisioneira - sua expressão ficou séria - Mamãe diz que é para o meu próprio bem, eu não posso ficar por aí, eu não vejo, eu só atrapalharia

- O que? Não! Isso não está certo, eu...

- O que está tentando fazer? - me virei e vi a senhora Camila, ela parecia estar bem irritada - Está na hora de voltar Ayla, para casa

- Mas mãe... - ela tentou contestar

- Ayla, não me desobedeça, vá

A menina se levantou, sussurrou um "tchau" para mim e saiu, andando com cuidado, se distanciando cada vez mais de mim

- O que pensa que está fazendo? O que estava dizendo para minha filha? - a mãe de Ayla se direcionou a mim

- A senhora não pode mante-la presa para sempre, ela já é uma adulta, eu só estava...

- Você não sabe nada em relação a minha filha - ela disse séria - Quero que saia da minha livraria e não volte mais a perturbar Ayla e isso não é um pedido, é um aviso

- Não percebe o que está fazendo com ela? - me levantei - Ela não entende as coisas, não conhece o mundo

- O mundo é cruel, eu prefiro que ela continue assim... Ela é boba, acredita em qualquer um que fale com ela, Ayla não pode ver, Fernando

- Ela não é boba por sua condição, isso é culpa sua - apontei para ela

- O que pensa que está fazendo? Você nem a conhece, não me conhece, não se intrometa em assuntos que não te dizem respeito

- Não pensa no que será dela depois que a senhora se for? - questionei

- Vá embora - ela virou o rosto

- Me responda - insisti

- Eu perdi alguém, Fernando, isso mudou minha vida, eu não vou perder Ayla também

- Eu entendo - falei baixo

- Não, você não entende, não sabe o que é ter aquela pessoa ao seu lado, pensar que terá ela para sempre e a perder de uma hora para outra, a dor é profunda, ele me deixou de repente, eu não esperava - ela se aproximou, sua expressão dura - Essa dor não é fácil de ser compreendida, então não finja que sabe, o vazio, a saudade, elas não me deixam, eu nunca mais vou vê-lo, eu poderia estar no lugar dele, eu queria ter dito adeus, eu daria qualquer coisa por isso, uma oportunidade de estar ao seu lado naquele momento... - ela fechou os olhos e respirou fundo

Eu tive essa oportunidade...

- Com licença - passei por ela, sem olhar para trás, suas palavras tinham me atingido em cheio, meu peito estava apertado

Do lado de fora praticamente corri até meu carro, eu não queria que ninguém visse a minha fragilidade, o que eu estava sentindo, o quanto eu queria chorar

Ela não sabe nada sobre mim

Entrei no meu carro e finalmente deixei as lágrimas caírem, as lembranças da minha irmã invadindo minha mente, a sensação de solidão, o medo por nunca mais vê-la. Eu não podia acreditar que minha fiel companheira tinha me deixado, todos os dias eu tentava apagar isso da minha mente, eu pensava que estava progredindo, até escutar aquela mulher

- Droga! - soquei a janela - Por que me deixou, Joice?

Encostei minha cabeça no volante e chorei, até parecia que eu tinha voltado no dia em que a perdi, quando recebi a noticia na Europa e me culpei por não ter ficado ao lado dela

Por que não fiquei ao lado dela?

As pessoas sempre dizem que passa com o tempo, mas o tempo passa e a saudade só aumenta, cada dia sem ela, é um dia pior

A Face Do Amor | Trilogia: Faces | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora