Capítulo 22 - Quando A Gente Ama

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FERNANDO ALENCAR

Entreguei a última folha assinada para a moça de branco na minha frente, ela sorriu para mim e disse que estava tudo certo

Ela está errada, não está tudo certo

Eu me sentia aflito por saber que Ayla passou todos esses anos com um maldito coágulo na cabeça, correndo o risco de morrer, ela esteve em perigo, todo esse tempo, mesmo com sua mãe super-protetora ao seu lado

Mãe... Super-protetora...

Camila não é protetora coisa nenhuma, na verdade ela é uma... Que Deus me perdoe pelos meus pensamentos

- Senhor, Fernando - a recepcionista chamou minha atenção - Está tudo certo

- Ok, obrigada - assenti e fui em direção as cadeiras que estavam dispostas pelo lugar

Apoiei os cotovelos nas pernas e juntei as mãos, respirei fundo, sentindo um aperto no peito, abaixei a cabeça e fechei os olhos, eu tinha vontade de chorar por tudo isso, Ayla podia não entender a gravidade da situação, mas eu sim

Meu celular começou a tocar e eu rapidamente o tirei do bolso, pois já estava chamando atenção, atendi sem olhar a tela e escutei a voz desesperada:

- Fernando, como está minha filha? O que o médico disse?

Respirei fundo antes de responder, eu não queria gritar com ela ou ser mal educado, entretanto, também não havia como segurar meus impulsos humanos, então eu a faria escutar o que fez, pelo celular mesmo, eu não me importava com ela naquele momento

- Parabéns, senhora Camila - falei sarcástico - Protegeu Ayla tão bem, que até guardou uma grande recordação de alguns anos atrás na cabeça da menina

- O que? Do que você está falando?

- Ayla tem um coágulo na cabeça, causado pelo acidente, ela poderia ter morrido, sabia? A senhora quase matou sua filha pela sua negligência - acusei, mesmo sabendo que o médico da época também poderia ter sua parcela de culpa

- Não! - foi a única palavra que ela disse

- O doutor já internou Ayla - falei cortante - A senhora estava errada, saiba que as chances dela diminuíram, então se algo acontecer, a culpa é só sua, sinta isso - desliguei o celular sem dar tempo para respostas, respirei fundo, tentando controlar os batimentos do meu coração, olhei ao redor e vi que algumas pessoas me olhavam, talvez eu não tivesse conseguido controlar o meu tom de voz como queria

Deus! Por que isso está acontecendo?

Me levantei e fui até a recepção, eu precisava saber onde Ayla estava, eu havia ficado muito tempo assinando papéis, só de pensar que nesse momento eu era responsável por ela

Meu Deus!

- Com licença - falei em um tom totalmente diferente do que eu usava há alguns minutos - Ayla Ametista, onde ela está nesse momento?

- Só um minuto - ela mexeu em seu computador e sorriu para mim - Ela está em processo de internação

- Já? Eu posso vê-la?

- Ela já está instalada no quarto, vou chamar uma enfermeira para leva-lo, pode sentar e esperar, não vai levar muito tempo

- Tudo bem, obrigada - voltei para o meu lugar e me sentei, eu queria dizer que estava calmo, entretanto não era bem assim, eu temia por Ayla, se ela estava com medo ou sozinha, queria fazer companhia para ela, sorrir e dizer que tudo ia ficar bem, que eu estaria sempre ali, que eu a amava

- Senhor - alguém tocou meu ombro, levantei a cabeça e encarei a moça de pele negra e voz doce - Eu vou leva-lo para ver Ayla Ametista, sou Gabriela

- Obrigada, Gabriela - me levantei - Sou Fernando

- Muito bem, Fernando - ela sorriu - Pode me seguir - a moça caminhou tranquilamente pelos corredores até entrarmos em um elevador, ela me encarava de vez em quando e mostrava seu belo sorriso, como se quisesse me confortar, confesso que surpreendentemente funcionou - Por aqui - fui atrás dela, pelo longo corredor, até que paramos em uma porta, Gabriela entrou me deixando ir com ela - Olá, Ayla, estou de volta - ela disse

- Gabi - Ayla sorriu, ela já vestia as roupas do hospital e estava sentada confortavelmente na cama

- Trouxe o Fernando comigo - ela fez um aceno de cabeça para que eu me aproximasse o que eu fiz quase que imediatamente

- Oi Ayla - me sentei na poltrona ao lado da cama - Como você está?

- Nervosa - ela respondeu

- Eu estou aqui - falei, como se eu fosse algum tipo de super-herói

- Eu fico feliz, muito feliz por isso, Fernando - ela me presenteou, mais uma vez, com seu sorriso - Gabi, ainda está aqui? - ela perguntou

- Sim, Ayla - a enfermeira se aproximou da cama

- Nós somos amigas agora, Fernando - Ayla parecia feliz - Gabi é muito legal

- Sim - sorri para a enfermeira, eu queria abraça-la por não deixar Ayla se sentir sozinha - Você faz amizades com facilidade, Ayla

- Isso é muito bom - ela parecia orgulhosa de si

- Ayla, eu tenho que resolver algumas coisas, mas logo eu volto para você - Gabriela disse - Eu vou ajudar o Dr. Eduardo, serei sua enfermeira

- Vai vir aqui todos os dias? - Ayla parecia animada

- Com certeza - Gabriela respondeu - Não se preocupe, vai ficar tudo bem - a mulher já parecia completamente encantada por Ayla - Até mais

- Até mais, Gabi - Ayla respondeu

- Fico feliz que já tenha mais uma amiga - toquei o rosto dela

- Eu também - ela colocou sua mão por cima da minha - Não é legal? Eu tenho tanta gente comigo agora

- Sim - me aproximei e deixei um beijo em sua testa

- Fernando, posso te pedir uma coisa?

- O que quiser

- Você pode chamar nossos amigos? - ela tirou minha mão do seu rosto e a segurou - Eu queria todos por perto, nós não sabemos o que... Pode acontecer

- Vai ficar tudo bem - apertei a mão dela

- Mas eu quero ver todos eles, inclusive minha mãe, por favor, traga eles aqui, antes que o Dr. Eduardo me leve para a cirurgia - seu olhar perdido mais uma vez me chamou atenção, ele transmitia tantas emoções

- Tudo bem - me aproximei mais, até nossas testas estarem unidas - Eu vou buscar todos, vou chamar o Lucca, a Rafa, Raquel, todos

- O Léo - ela riu

- O Léo, claro - ri - Com certeza

- Minha mãe, preciso muito ver ela - ela fechou os olhos

- Sua mãe também - suspirei - Eu farei o que você quiser - fechei meus olhos também

- Fernando, eu amo você

- Eu também amo você, Ayla - abri meus olhos e me afastei, foi no segundo perfeito, pois um lindo sorriso estava se formando em seu rosto

- Obrigado por dizer isso, Fernando

- Eu que agradeço por me deixar fazer parte da sua vida - eu tinha vontade de beija-la, mas não iria cometer essa loucura, Ayla era diferente, eu precisava do momento certo, então eu a conquistaria, porque não havia mais como negar, era ela, eu tinha certeza, não havia dúvidas que Ayla Ametista era o amor da minha vida

A Face Do Amor | Trilogia: Faces | Livro IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora