A Face Do Amor | Trilogia: Faces | Livro III

Capítulo 19 - Novas Coisas Velhas

AYLA AMETISTA

Fernando não estava em casa, Raquel também não estava aqui, essa era a primeira vez que eu acordava naquele apartamento sozinha, eu não estava assustada, só achava um pouco solitário, porém, estava na hora de eu aprender a me virar, eu não podia ser dependente para sempre, o peso disso caiu em mim desde que saí de casa

Caminhei pelo corredor devagar, eu podia até ter caminhado muito por aqui, entretanto, não tinha uma certeza total de que eu havia decorado cada canto, o cuidado era importante, eu escutei isso minha vida toda e mesmo agora discordando de muitas coisas que minha mãe disse ou fez, eu concordava plenamente com ela

Imagina só o Fernando chegar do trabalho e me encontrar desmaiada no seu apartamento porque caí? Seria um trauma para o homem, eu precisava me cuidar, mas isso não afetava somente a mim

- É a cozinha - murmurei, eu sabia que não podia chegar perto do fogão ou de coisas perigosas, contudo, ontem a noite, Fernando me mostrou onde deixaria alguns "alimentos fáceis", o que era muito gentil da parte dele

Me aproximei do balcão e achei o bolo que o Lucca generosamente tinha me mandado, era de cenoura, um dos meus preferidos, agora, ainda mais

Encontrei o copo já no balcão, ao lado de uma caixa de suco, com muito cuidado eu me servi, eu não queria sujar nada, se eu fizesse tal coisa, teria que tentar limpar, o que significa correr perigo

Voltei a sala e me sentei no sofá, sem ninguém ali comigo eu não sabia bem o que fazer, minha vida sempre foi acordar, tomar café e andar pela livraria o dia inteiro, escutando as melhores palavras para guardar, nesse momento, tudo estava tão calado e quieto

Senti Virgínia subir no meu colo, então sorri imediatamente, ela me faria companhia, era tudo que eu precisava, ela tinha a mania de aparecer repentinamente, então miava cada vez que eu parava de acaricia-la, era uma gata bem folgada, mas eu já amava

- Você quer escutar uma história? - perguntei, enquanto afagava seu pelos  - Eu a criei faz um tempo, é sobre uma garota que mora em uma caixa, seu maior sonho é poder entender o que se passa no mundo do lado de fora, mas o medo não permiti que ela tente sair dessa caixa, entende?

Virgínia então se levantou e saiu do meu colo, talvez ela não quisesse mais carinho ou eu a assustei com meu enredo, as duas opções me pareciam tristes, já que ela era a minha única companhia

- Volte Virgínia - pedi em vão, a felina simplesmente me ignorou, não deu nenhum sinal de vida

Eu não deveria ter contado a história

Pensei que ficaria parada no sofá como uma estátua, sem saber o que fazer ou para onde ir, mas então eu escutei o que parecia ser o telefone, Fernando me levou várias vezes até ele, para que eu entendesse que se tocasse eu deveria ir rapidamente atender, então me levantei, animada por ter algo para fazer, coloquei o aparelho no ouvido e falei:

- Olá - minha voz parecia incerta, eu nunca havia feito isso antes, na minha casa tinha um, mas eu não podia atendê-lo

- Ayla Ametista - era o Fernando, a voz dele soava um pouco diferente no telefone, me fez pensar se a minha também mudava

- Oi Fernando - sorri - Como você está?

- Estou bem - ele respondeu - Você está bem, sozinha? - ele parecia preocupado

- É... Sim, eu estou - menti, eu não queria deixa-lo preocupado, ele já estava fazendo muito por mim

- Não minta para mim, Ayla Ametista - a voz dele mudou, seu tom se tornou imperativo