Cap. 2

32 4 2
                                    

10 anos depois...

-Eu ainda não entendo como você é a escolhida. -Ela rosna jogando os cabelos pretos encaracolados para trás.

-Eu também não. -A outra, loura, concorda enquanto roe as unhas.

-Eu nunca quis isso e vocês sabem.

-Podia ter dito não.

-Como se fosse fácil... -Ela para de mexer a panela. -Eu pedi a mamãe por todos os dias da minha vida, mas ela nunca me deu ouvido.

-Não seja mentirosa.

-Não é mentira. Eu odeio ter que fazer essas coisas ruins com as pessoas.

As duas bruxas mais velhas gargalham.

-Você é uma piada, Lavínia.

Aquela noite, Lavínia não conseguiu dormir, imaginando que teria que fazer seu primeiro sacrifício.

"Por que?" Ela pensava. O seu sonho era ter uma família, mas não poderia, pois era a escolhida.

Na manhã seguinte, ela teve que acordar bem cedo. Teria que fazer o café da manhã de suas irmãs e depois se arrumar para o grande dia.

Ela suspirou, exausta por não ter dormido por toda a noite.

Exausta... Exausta... Exausta.

Seu cérebro a lembrava em cada segundo que ela estava exausta.

-O que preparou? -A irmã do meio pergunta fazendo ela se assustar.

-Mingau.

-Eu não gosto, faz outra coisa.

-Não temos outra coisa.

-O que? É o dia do sacrifício e não temos outra coisa? Que besteira. -Ela levanta e começa a revirar os armários.

-Pare com isso, está bagunçando tudo.

-Argh! Eu odeio isso! -Ela empurra a mais nova em cima do fogão.

Lavínia perde o equilíbrio e derruba a panela quente em sua mão.

-O que você fez? -A mais velha loura pergunta, enquanto a do meio apenas sorri satisfeita.

-Ela está jogando na nossa cara o tempo todo que é a bruxa escolhida.

-E, daí?! Por isso temos que matá-la, agora?

-Deveríamos.

A mais nova e a mais velha se olham.

-Não seja ridícula!

-Eu estou sendo ridícula?! Então está me dizendo que você não mataria para ser a escolhida?

-Óbvio.

-Então...

-Mas não a nossa própria irmã.

-Ela é só uma fedelha, ninguém vai sentir falta.

A mais velha olha para a do meio e sorri.

-Não, por favor. -Lavínia segura a própria mão e levanta do chão.

-Não se preocupe, não queremos ser amaldiçoadas.

-E é só por isso que não irão me matar?

-E você acha pouco? Nós podemos... -Ela pega uma faca e pressiona na garganta de Lavínia. -... esquecer da maldição e acabar com isso agora mesmo. É o que você quer?

-Ela engole a seco. -Não.

-Ótimo. -A irmã mais velha passa a ponta da faca na garganta da mais nova de leve, o suficiente para fazer sangrar.

Lavínia põe a mão na garganta e sente o quente do sangue, enquanto suas irmãs saem da cozinha rindo.

ANAOnde histórias criam vida. Descubra agora