Cap. 3

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O dia tinha finalmente chegado e enquanto Lavínia fazia um curativo em sua mão queimada, pensava que sua vida já estava acaba.

Todas as bruxas estavam felizes e se ela é uma bruxa... Por que não está feliz também?

Será que tinha algo de errado? Será que nasceu com defeito? É! Com certeza nasceu com defeito.

-Precisa limpar seus sapatos. -A irmã do meio chama, tirando Lavínia de seus devaneios.

-O que disse?

-Os seus sapatos precisam ser limpos e não vou limpar. Já estamos colocando as rendas no vestido.

-Já estou indo.

-É claro que está.

Ela suspira e vai até o outro quarto onde suas irmãs estão colocando rendas em seu novo vestido.

-Por que preciso de um novo vestido?

-Por que faz tantas perguntas?! Acho que não temos respostas para nenhuma das duas perguntas.

Ela senta em um banco e começa limpar seus sapatos brancos.

-Uau! -A mãe das meninas diz. -O vestido está ficando muito bonito.

-Obrigada. -A irmã mais velha agradece sorrindo.

-O que aconteceu com você? -Ela pergunta para Lavínia.

-Tive um acidente.

-Espero que não tente se matar. Lembre-se, hoje, você é imortal.

-Eu não tentei, não se preocupe.

-Ótimo!

***

Lavínia estava colocando o vestido para seu primeiro sacrifício.

-Você está tão bonita! -A mãe diz sorrindo.

-Estou parecendo uma noiva.

-Faz sentido, hoje você se casará com a floresta.

-Eu deveria pular de alegria?

-Na verdade sim, mas eu entendo.

-Mamãe?

-Sim?

-Por que eu preciso ser a escolhida?

-Já conversamos sobre isso, Lavínia.

-Eu sei, mas... as minhas irmãs me odeiam por causa disso.

-Não odeiam não.

-É claro que odeiam. Eu não sou a mais velha, eu não deveria ser a escolhida.

-Ela segura no rosto de Lavínia. -Mas a floresta quis assim. Ela te deu a marca das bruxas escolhidas.

-Lavínia olha para seu antebraço e vê a marca. -Isso não é uma marca de bruxa, é só uma mancha de nascença. Muitas pessoas tem isso.

-Não, querida, não tem. Eu... Eu não tenho.

-Mãe! Você não sentiu raiva quando a tia Dulce foi apresentada como a escolhida?

-Sim.

-E por que acha que minhas irmãs não estão com raiva de mim?

-Eu não disse isso, só que... Elas ainda são crianças e crianças não sabem controlar seus sentimos... Nós precisamos ir, querida.

-Tudo bem. -Elas se abraçam.

Elas vão até onde estão todas as bruxas.

-Lavínia Lesa Gussev, nossa bruxa escolhida. -A bruxa anciã começa a falar. -Essa noite fará seu primeiro sacrifício e poderá escolher quem será. -Ela aponta para um jaula com 3 crianças. -Venha até aqui.

Lavínia segura as lágrimas teimosas que tentavam cair, enquanto anda até a jaula.

-Escolha uma.

-Eu não consigo. -Ela sussurra.

-Ela escolhe aquela. -A mãe de Lavínia aponta para uma das crianças.

-Tem certeza? -A anciã pergunta para ela.

-Ela confirma com a cabeça. -Sim.

-Ótimo! O ritual do sacrifício será iniciado.

***

Ela não ouvia o que diziam, ela não ouvia o que ela mesmo dizia, nem ao menos percebia que se movia, tudo o que conseguia fazer era ver aquela criança chorando na sua frente.

Ela levantou a faca no alto de sua cabeça e disse a frase que a faria ser uma bruxa ou um monstro, já não sabia diferenciar.

-Sua vida agora é minha. -Ficou parada, chorando.

-Você consegue. -A mãe dela disse apenas mexendo a boca.

-NÃO! Eu não consigo! -Ela gritou, largou a faca e correu.

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