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《NOTA》

Esse capítulo ficou muito maior do que eu pensei que ficaria e só depois de escrevê-lo é que percebi isso.
Senti necessidade de estabelecer corretamente as relações, não queria que a história ficasse rasa e se resumisse unicamente aos beijos. Cada um dos parágrafos é muito importante para a contextualização. Então, preparem o fôlego e boa leitura!

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Mike Wheeler gostava muito de dias chuvosos.

Não os dias chuvosos convencionais, aqueles em que uma simples torrente de água cairia por um curto período de tempo em alguma parte da tarde --- embebendo as ruas da pequena Hawkins em uma breve tempestade de verão --- para logo depois ser substituída pela luz ofuscante do astro solar suspenso no céu.

Na verdade, seus dias chuvosos favoritos eram aqueles em que a água se prendia ao céu como se fizesse parte dele, caindo com a mesma constância e fluidez de uma cachoeira em movimento, forjando uma sinfonia bastante característica no simples contato com as telhas de sua casa e regando os ares da cidade com umidade suficiente para que ele pudesse senti-la até os ossos, mesmo estando completamente seco e aquecido no interior de seu quarto.

Mike gostava desses dias porque, quase sempre, eles significavam uma única coisa: horas inteiras confinado no porão de sua casa, junto aos seus melhores (e únicos) amigos, jogando D&D, lendo quadrinhos, ouvindo a única estação de rádio que seu velho aparelho ainda era capaz de sintonizar e comendo todos os doces que sua mesada de não mais que cinco dólares ao mês podia comprar.

Ele gostava dos outros dias também, aqueles em que chuva era algo impensável, em que o calor era mais que bem-vindo e o céu era pincelado com um azul intenso, quente e quase sobrenatural de tão profundo. As tardes tão longas que pareciam durar uma vida inteira.

Dias em que crianças de toda a vizinhança eram vistas aos montes, permeando as ruas do primeiro ao último quarteirão do bairro.

Dias em que ele, Lucas, Dustin e Will passavam horas apostando moedas em partidas de bolinhas de gude, fabricando carrinhos de rolimã, jogando no Fliperama local ou correndo uns atrás dos outros como se suas vidas dependessem disso.

No final, estavam todos de volta pra casa, com as roupas empoeiradas e os rostos corados, ouvindo as broncas dos pais e fingindo estar arrependidos, quando na verdade, sabiam que fariam tudo de novo no dia seguinte.

Esses eram bons momentos também, mas de alguma forma eles não carregavam o mesmo peso de quando estavam sozinhos no porão e os únicos sons que ouviam eram os da chuva caindo silenciosamente lá fora e o barulho de suas risadas quando algum deles contava uma piada divertida ou fazia alguma jogada esperta durante uma partida de xadrez.

Mike, de fato, gostava bastante desses dias.

Porém, infelizmente, esse não estava sendo um deles.

Lá fora chovia, mas dentro da residência dos Wheelers não havia barulho algum além dos roncos de seu pai que ressonava tranquilamente no andar de cima e os sons de alguma música pop que Nancy ouvia no último volume em seu Walkman enquanto estudava para a temida semana de provas que se aproximava.

Todos os seus amigos pareciam tê-lo deixado na mão.

Dustin fora passar o final de semana na casa da avó que morava na cidade vizinha, prestando-lhe a visita que ele prometeu fazer já há algum tempo e Lucas havia ido num retiro da igreja com a família.

4/4 & +1 • BYLER (Stranger Things)Onde histórias criam vida. Descubra agora