Capítulo 2-Coriane

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Quando chego no meu quarto vou direto pro banheiro para tomar um banho mais que merecido, adoro o meu banheiro é tão simples que por uns segundos penso que tudo na minha vida é. Ele é branco com alguns detalhes em vermelho, cor da minha casa Calore, o mesmo é com o resto do quarto. Tiro minha roupa colada com um pouco de dificuldade, solto o meu cabelo, faz tempo que não o corto, agora ele bate no meu quadril, ele é uma mistura das fibras do cabelo da minha mãe e meu pai, liso na raiz como mamãe, e cacheado nas pontas como o de papai, é castanho como dos dois, mas ao contrária do deles, quando o sol bate nos meus fios eles ficam com um tom avermelhado. Fico me olhando por alguns segundos no espelho, sou branca de mais, mas gosto de como sou, especialmente dos meus olhos, por que são mel, quando a luz bate ficam verdes, verdes igual os do papai. Entro no chuveiro, a água morna bate no meu peito e sinto uma camada de sujeira saindo de mim, sinto uma onda de alívio tomando conta de mim enquanto sou refrescada pela água. Terminando meu banho saio da água com os cabelos pingando por todo o quarto, a tia Gisa me mataria se visse isso, dado ao pensamento dou um sorriso. Abro meu guarda roupa, e escolho uma calça de couro preta com um cropped vermelho de manga comprida e coloco minhas botas preferidas de salto, são pretas em estilo militar, rapidamente amarro os cadarços e coloco meus brincos, são como uma constelação cada um representa alguém, peguei essa ideia da minha mãe, são três no total: Um representa meu pai, outro minha mãe e outro meu tio Shade. Não cheguei a conhece-lo mas mamãe sempre conta histórias sobre ele, e sinto que ele teria me entendido então uso um em homenagem pra ele, embora eu já esteja homenageando ele com meu nome do meio, Shadow, mamãe diz que é uma forma feminina de Shade que ela criou, eu gosto. Terminado isso, penteio meus cabelos molhados, e saio do quarto pra encontrar com Bash.

     Chegando no jardim, noto logo sua silhueta alta, ele está vestindo um terno preto com alguns detalhes em prata, cor da casa de uma de suas mães, cor da casa Samos. Ele está muito magro, acho que mal tem comido nos últimos, as mães dele tem cobrado de mais do coitado. Quando ele me escuta chegar, vira seu rosto e me deparo com seus olhos tão verdes quanto a grama na primavera, ele não é tão másculo quanto qualquer outro cara da casa Samos, mas é bonito ao seu jeito. Seus cabelos lisos ruivos meio alaranjados se destacam na sua pele clara, eu acho tão fofo as suas sardinhas. Ele é como uma escapatória pra mim, e eu a dele, quando estamos sozinhos não precisamos fingir ser quem não somos. Posso parar de mentir e sorrir sempre, e ele pode parar de ser durão o tempo todo. Quando ele me vê corre na minha direção e me abraça, me erguendo no chão e me girando. Ele estava em Rift por uma semana, então estava com saudade de mim e eu dele. O abracei de volta sorrindo de felicidade, aos poucos ele diminui a velocidade do giro e me coloca no chão sorrindo, ele me dá um beijo na testa e eu passo meus braços ao redor do seu peito, um abraço mais contido agora. Embora estejamos juntos há seis meses, nunca nos beijamos, por que seria informal pra duas pessoas tão importantes da corte, então só ficamos nos abraços.

-Senti sua falta, Bash...- Ele me interrompe colocando o dedo na minha boca.

-Não fala nada...só vamos aproveitar o momento, tá bem? - Eu balanço a cabeça em afirmativo. Crescemos juntos, então não precisamos de palavras pra nós comunicar. Ele interrompe meus pensamentos quando me afasta, e pega minha mão para darmos uma volta. Depois de 5 minutos andando em silêncio, o que foi uma tortura pra mim, eu finalmente quebro o silêncio.

-Desculpa, não consigo ficar calada- Eu falo, Bash se coloca na minha frente e começa rir sinceramente.

-Cinco minutos, foi o maior tempo seguido que você ficou sem falar nada, estou impressionado-Ele fala ironizando, eu dou um leve sorriso e um pequeno tapa no seu ombro direito. Ele ri de novo.

-Como foi em Rift? - Pergunto meio apreensiva, ele odeia ir pra lá por que os Samos são uma família bem exigente, para dizer o mínimo.

-Ah, o de sempre, mas não quero falar sobre isso. O que aconteceu por aqui? - Ele diz apontando pro palácio. Tenho que admitir que o palácio é lindo e a capital mais linda ainda, Archeon tem alguma coisa especial que sempre me atrai.

-Você sabe, o de sempre. Acordar, protocolo, sala do trono pra reger um país, almoço, reunião com o conselho das casas, reunião sobre Lakeland, mais protocolo, reger o país, treinar com papai, jantar, dormir, e por aí vai. -Falo como se não desse importância, ou como se isso não fosse tão cansativo que às vezes gostaria de desmaiar no meio de uma reunião só pra me livrar de todo aquele papo.

-Desculpe por não estar aqui pra ser sua fuga, Ane. -Ele diz cabis-baixo.

-Não se preocupe Bash,a culpa não é sua. É que com minha mãe fora, o dever de ser rainha caiu sobre mim. -Como vai ser quando eu não tiver mais meu pai e minha mãe pra me ajudar com tudo isso? Eu não sei, e por enquanto não quero pensar nisso.

-Sabe quando sua mãe volta? -Bash pergunta, como se tivesse medo da resposta.

-Ainda é indefinido, como Montfort é uma república, reuniões podem demorar meses, mas ela disse que de certeza volta pra minha coroação. -Sinto um aperto no peito e um nó na garganta, só de pensar nesse evento e no quão perto ele está.

-Também é seu aniversário Ane, tente não pensar muito nisso, okay? - Bash tem razão, ainda tenho tempo antes de perder totalmente minha liberdade.

-Tenho que ir pra casa senão minhas mães e Élia vão me matar. -Dou risada do pensamento, balaço a cabeça em sinal, pra dizer que está tudo bem, que eu vou ficar bem. Nos abraçamos uma última vez, ele virou as costas e foi embora. Volto pro meu quarto, coloco meu pijama, enquanto faço uma trança de lado no meu cabelo um raio atinge minha escrivaninha deixando um papel a mostra, paro imediatamente o que estou fazendo e vou pegar o papel. É uma forma da minha mãe me enviar mensagens, ela manda um bilhete através de seu raio, quando pego o bilhete, leio as seguintes palavras:

    Oi Ane, espero que esteja tudo bem, embora eu saiba que seu pai controla tudo...

Posso sentir o tom sarcástico da mamãe enquanto leio e dou um leve sorriso...

esse bilhete é pra te dizer que não posso voltar pra casa antes do seu aniversário, foi marcado um encontro com Iris Cygnet e seu filho um dia antes do seu dia. Queria te pedir desculpas, sei o quanto é difícil essa vida, mas prometo te levar mil presentes de Montfort. Tome conta de Shade e do seu pai principalmente...

Deixo escapar um riso triste sem vida, seguro minhas lágrimas...

confio em você, minha garota corajosa e forte, com amor Mamãe...

   Solto o ar que estava guardando quando termino de ler a carta. Pego uma caixa debaixo da cama, é de madeira escura com alguns detalhes dourados é muito grande, a puxo pra fora da cama e sento no chão, quando abro a caixa passo os dedos nos milhares de bilhetes que guardo nela. Desde que aprendi a ler que mamãe me manda cartas, eu guardo todas, em segredo claro, coloco a que acabei de ler, dentro da caixa, quando a fecho é como se alguma coisa dentro de mim estivesse se partindo, empurro ela para debaixo da cama de novo, ninguém sabe dessa caixa, nem Bash, nem meu pai. Levanto do chão e termino minha trança, me jogo na cama e quase que instantaneamente o sono me atinge.

A Próxima Rainha Vermelha (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora