Noiva. A minha exclamação fora alta demais ou eu estava muito perto deles, porque Adelaide se virou e com ela os demais. Os olhos de Noah foram direto aos meus e novamente senti como se os ossos do meu corpo estivessem dissolvendo. Percebi seu semblante de surpresa... Era óbvio que ele havia me reconhecido. Assim como o reconheci. Cortei a conexão das nossas miradas e voltei minha atenção para Adelaide. A lamentação nos olhos dela era tão explícita que doeu. Doeu ainda mais.
— Abigail. – notei a tensão na voz de Ade ao sussurrar meu nome.
Apenas balancei a cabeça em forma de aceno e virei de costas para eles. Comecei a caminhar para fora dali, controlando-me ao máximo para não sair correndo. Senti as primeiras lágrimas rolarem por minha face e tratei de engolir o soluço que subia por minha garganta. Ouvi Adelaide me chamar, mas não me dei ao trabalho de parar ou responder. Continuei andando; dessa vez, mais rápido. Eu só queria estar o mais longe possível dali para conseguir respirar. Para poder deixar as lágrimas saírem à vontade. Para poder liberar os soluços que estavam machucando a minha garganta.
Então, quando vi que estava a uma distância segura, corri. Corri sem rumo. Corri com as lágrimas embaçando a minha visão e os soluços rompendo minha garganta. Notei algumas pessoas me olhando, talvez, perguntando-se o que teria acontecido. Cheguei a uma praça e sentei em um dos bancos que haviam por lá. Não conseguia respirar. Meu coração doía tanto. Era como se alguém o estivesse segurando em suas mãos e apertando. Apertando com toda a sua força. E esse alguém era Noah.
Ele havia me feito prometer que não me casaria, que o esperaria voltar, para quê? Para trazer consigo, depois de tantos anos, uma noiva? Como fui boba de acreditar que ele sentia algo por mim, que não apenas amizade. Aquele beijo que ele me deu, quando partiu, não significou absolutamente nada para ele. Foi o mesmo que um beijo na testa ou no rosto. Eu estava decepcionada. Estava com raiva. Estava ferida demais. Senti a presença de alguém ao meu lado e tratei de enxugar meu rosto. Não que isso fosse adiantar alguma coisa - já que meus olhos se encarregariam de dizer que estava chorando -, mas o fiz.
— Você está bem?
Meus olhos se encontraram com os dele assim que virei à cabeça. Novamente, a surpresa estava pintada em seus belos olhos. Como Noah havia me encontrado? O que ele fazia aqui, parado ao meu lado, quando sua noiva deveria estar o esperando? Sua noiva. Essa palavra nunca mais sairia da minha cabeça.
— Abigail? – ele chamou novamente quando não obteve resposta. – Fale comigo. – insistiu e eu permaneci muda, apenas lhe acusando com o meu olhar. – Por favor, fale alguma coisa.
— Vá embora. – sussurrei e senti as lágrimas transbordarem novamente; Noah tentou passar o polegar para secá-las, mas afastei-me. – Não me toque. Nunca.
Eu falei aquilo com tanta raiva que ele se assustou. Levantei-me logo em seguida. Já que ele não iria embora, eu iria. Sua mão agarrou meu braço, impedindo-me de sair dali. Tentei puxar, sem precisar dirigir qualquer palavra a ele. Mas Noah sempre fora muito mais forte que eu.
— Espere!
— Você ficou surdo? – virei para ele; a dor que eu estava sentido transformou-se toda em raiva. – Eu disse para não me tocar, Noah. – olhei para a mão que prendia meu braço, como uma garra. – Se não me soltar agora, gritarei.
— Abigail... Não faça assim. – ele pediu com uma voz tão melosa, que me lembrei daquele Noah de dez anos atrás. – Eu senti tanto a sua falta.
— Oh, meu Deus! Como você consegue? – tentei controlar uma risada histérica. – Como consegue ser tão absolutamente mentiroso? Tão completamente egoísta?
— Abigail, escute...
— Não! – gritei. – Escute, você. – controlei o tom da minha voz, porque algumas pessoas estavam olhando. — Fique longe de mim, Noah. Começando de agora... – puxei meu braço com mais força e consegui me soltar. – Finja que não nos conhecemos. Que nunca nos vimos na vida. Eu não quero mais saber de você. Eu não te conheço.
— Não me diga essas coisas! – pude notar a raiva em seus olhos. – Não fale assim comigo. Não quando eu sofri tanto tempo por você.
Agora sim.
A gargalhada histérica que eu prendia saiu com tudo. Esse Noah cínico que estava na minha frente, não lembrava em nada o que conheci na minha infância. Não lembrava em nada o Noah que guardei em meu coração. O que me pediu que esperasse por ele. O que eu achei que sentia algo por mim.
— Do que você está rindo?
— Da sua capacidade de mentir! Onde aprendeu? Em Londres? Ou você sempre foi um bom mentiroso e eu não havia me dado conta?
— Abigail, pare com isso! Pare de me falar essas coisas! Você não sabe... Não faz ideia do quanto está me magoando.
— Oh, você está magoado? – lágrimas e mais lágrimas rolavam por meu rosto, sem que eu me importasse agora. – Pelo amor de Deus! Pare com isso, Noah! Pare, você. Não percebe o que está fazendo comigo? Está matando meu coração.
Eu coloquei a mão sobre o meu peito e senti a carta que sempre carregava ali. As frases escritas por Noah há dez anos invadiram minha mente e me fizeram perceber o quanto eu havia sido boba em acreditar que ele sentiria minha falta. Ele ainda estava parado, olhando-me, quando tirei aquele papel, já envelhecido, e atirei nele.
Noah pareceu meio confuso e abaixou para pegar o papel no chão, dando-se conta do que era. Ele me olhou e eu notei seus olhos cheios de lágrimas. Confesso que senti vontade de abraçá-lo, como fazia quando éramos crianças e ele estava chateado com alguma coisa. Mas me lembrei de todos os anos que perdi esperando que ele voltasse, enquanto ele se divertia com Morgana. A mulher com cara de boneca. Com traços de uma princesa. Tão superior a mim.
— Fique com suas mentiras e me deixe em paz.
— Você nunca respondeu nenhuma das minhas cartas, Abigail.
— Cartas? Quais cartas, Noah? - ele estava sendo tão absurdamente cínico. – Eu nunca recebi uma carta sua.
Ele pareceu surpreso com a minha resposta e isso me deixou confusa. Mas eu já estava cansada demais. Demais mesmo. Precisava ir embora dali e parar de pensar em coisas que estavam me machucando cada vez mais.
— Boa noite, Noah. – disse e virei para ir embora, mas não antes de comentar algo que estava engasgado. – A propósito, a sua noiva é muito bonita.
Não esperei que ele respondesse. Para o bem do meu coração e da minha sanidade, saí dali e fui direto para a minha casa. Papai e mamãe estavam na sala, conversando sobre algo que não prestei atenção. Apenas os cumprimentei com um boa noite e fui para o meu quarto. Minha mãe ainda tentou saber o que tinha acontecido. Eu disse, apenas, que não estava me sentindo bem e que iria tentar dormir cedo. Ela perguntou se eu iria à missa com ela no dia seguinte e eu disse que sim. Conversar com Deus sempre me fazia bem e agora eu precisava esclarecer algumas coisas no meu coração. Contrariando os meus planos, passei a noite chorando até dormir.
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Oláááá!!!
A reação da Abby foi bem previsível, né? Acho que eu faria o mesmo. E vocês?
E quais serão essas cartas que o Noah disse que mandou? E por que a Abby não recebeu nenhuma?
Gostaram do capítulo? Que tal uma estrelinha?
Beijos <3
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Abby & Noah
RomanceAbigail Green e Noah Hughes vivem na pequena cidade de Vincent. Se conheceram ainda crianças, quando Abby tinha seis anos e Noah nove. Os três anos de diferença entre eles não influenciou na amizade que construíram. Porém, no verão de 1901, sete ano...