Ele se afastou de mim e seu rosto, levemente inchado, atraiu minhas mãos. Fiquei contornando os seus traços, tentando resgatar neles aquele adolescente que havia deixado Vincent para estudar na Inglaterra. Ele fechou os olhos e suspirou quando passei meus dedos em volta dos seus olhos. A pele dele estava mais macia que antes, bem mais. Ele começou a fazer o mesmo no meu rosto. Traçava cada linha. Meus olhos se fecharam quando ele chegou à minha boca... Desenhando seu formato com o polegar. Ardeu. Ardeu como se seu dedo fosse mágico. Queimou. Queimou como se seu dedo fosse feito de brasa.
Minha respiração estava absurdamente irregular. E, de repente, ao me lembrar do singelo beijo que trocamos dez anos atrás, senti como se meu estomago abrigasse borboletas; borboletas que, naquele instante, faziam voos rasantes por ele. Parei de acariciar o rosto de Noah e abri os olhos para mergulhar novamente nos dele. No lugar dos tão conhecidos tons de verdes, encontrei as orbes negras. Não duvidava que os meus próprios olhos estivessem da mesma cor. Ele aproximou o rosto do meu e, mesmo que um alerta em minha cabeça dissesse que eu tinha que me afastar, eu não consegui me mover um único centímetro.
Meu coração parou por alguns segundos quando Noah começou a roçar o nariz por minhas bochechas; minhas mãos foram parar em seus ombros, provavelmente um comando involuntário para que ele se afastasse. Coisa que não aconteceu.
Noah beijou meus olhos, minha testa, minhas bochechas, arrancando suspiros que estavam presos. Eu tive plena consciência das minhas lágrimas no momento que elas começaram a cair; ele voltou a beijar meus olhos, tão carinhosamente que as minhas mãos acabaram encontrando os fios de seus cabelos.
— Sinto como se tivesse passado uma eternidade longe de você. – ele falou contra meu rosto com uma voz extremamente rouca — Você não faz ideia do quanto o seu cheiro me atormentava todas as noites, Abigail. Isso muito antes de eu ir embora de Vincent... Muito antes.
— Pra onde você mandava as cartas? – perguntei, continuando com a carícia que fazia em sua nuca — Pra onde, Noah?
Ele segurou meu rosto entre suas mãos e fixou nossas miradas, como antigamente; exatamente como ele fazia quando eu lhe pedia para me jurar algo. Seus olhos nunca conseguiram mentir para mim.
— Pra sua casa. – ele respondeu — Durante cinco anos eu lhe enviei cartas, mesmo sem obter qualquer resposta sua. Mas então... – ele parou.
— Então? – o encorajei a continuar.
— Recebi uma carta onde dizia que você iria se casar.
Eu senti a dor em cada palavra que ele pronunciou; a dele e a minha.
— Eu iria me casar? – perguntei como se não tivesse ouvido aquilo; ele não precisou responder — Eu?
Ele pareceu pensar, enquanto eu esperava uma resposta. Qualquer que fosse. Minhas mãos já haviam parado a carícia em seus cabelos, mas as dele continuavam em meu rosto. De uma forma ou de outra, aquilo era como um calmante.
— Não exatamente. – ele disse — Na carta dizia que a filha dos Green iria casar em pouco menos de duas semanas. Então, resolvi parar de escrever. Pensei que você havia cansado de esperar ou... Ou que tivesse dito aquilo por dizer.
Eu não deveria, mas ri. Aquilo não era nada engraçado, mas mesmo assim eu ri. Talvez eu estivesse nervosa demais para ter qualquer outro tipo de reação.
— Karoline, Noah. – falei, ainda sorrindo — Era Karoline, não eu.
As mãos dele escorregaram do meu rosto e eu me perguntava por que estava segurando um sorriso, quando deveria estar furiosa com ele. Mas a cara que Noah fazia não me deixava outra opção. Eu não conseguia distinguir qual era exatamente a expressão que ele levava no rosto agora. Havia passado da surpresa para a confusão. Da confusão para a raiva. E, de repente, nada. Noah estava parado. Quieto demais.
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Abby & Noah
Roman d'amourAbigail Green e Noah Hughes vivem na pequena cidade de Vincent. Se conheceram ainda crianças, quando Abby tinha seis anos e Noah nove. Os três anos de diferença entre eles não influenciou na amizade que construíram. Porém, no verão de 1901, sete ano...