Os dias foram se passando rápido demais. Desde o último encontro com Noah, ele passara a me evitar. E embora eu estivesse sofrendo com isso, tinha que aceitar que era o melhor. Talvez não para mim. As poucas vezes que nos vimos fora na Igreja e sempre sentávamos distantes. Nossos pais, sempre amigos, sentavam-se juntos ou ficavam de prosa depois da missa.
Vincent já estava completamente decorada para as festas de final de ano. Era véspera de Natal e papai havia fechado a mercearia no início da tarde. Naquele dia ajudei mamãe com os afazeres da cozinha, juntamente com Karoline. Após organizar toda a decoração da casa, fui para meu quarto me aprontar. Pus o vestido de cetim azul que Karoline havia me trazido da capital, coloquei um corselet preto por cima para marcar a cintura e o busto, como ela havia me ensinado, e resolvi fazer uma trança em meus cabelos, colocando-a sobre o ombro. Karoline me ajudou a fazer uma leve maquiagem, já que ela insistia que eu passasse pelo menos pó de arroz.
Normalmente, eu não usaria tantas coisas para celebrar essa data, mas papai havia dito que iríamos à fazenda dos Hughes; seria uma passada rápida, apenas para cumprimentá-los e cearíamos em nossa casa depois da missa. Eu estava nervosa porque sabia que hoje Noah não iria me ignorar. Ao menos era o que eu esperava – ou não.
Estávamos todos a caminho da fazenda e meu nervosismo era tão evidente que Karoline pegou em minhas mãos, que tremiam, fazendo com que a olhasse; apenas com esse gesto, minha irmã havia conseguido me passar uma tranquilidade incomum. Ela sorriu e eu retribuí, apertando suas mãos levemente.
Quando paramos de frente àquela escadaria, busquei o ar com força. Mamãe e papai subiram na frente, de braços dados. Assim como Karoline e Oscar. Subi por último, de mãos dadas com Joaquim. Don Richard e Eleonora, como perfeitos anfitriões, estavam logo na entrada; todo ano eles faziam uma grande ceia e convidavam grande parte da cidade. Meus pais os cumprimentaram primeiro, seguidos por minha irmã e meu cunhado. Chegou minha vez de cumprimentá-los
— Feliz Natal! – sorri, recebendo primeiro um abraço de Eleonora.
— Feliz Natal, querida! – Don Richard me abraçou. — Estás muito bela, Abigail.
— Obrigada. – agradeci, sentindo um leve rubor em minha face.
Nós entramos para cumprimentar alguns outros conhecidos e fora inevitável não procurá-lo. Meus olhos varreram cada canto daquela sala, não o encontrando em lugar algum. Adelaide conversava com duas garotas, que julguei serem suas amigas da capital porque se fossem de Vincent, eu as conheceria. Ela sorriu a me ver, falou algo com as garotas e veio em minha direção.
— Abby! – ela me abraçou fortemente; há algum tempo não via Adelaide. — Feliz Natal!
— Feliz Natal, Ade. – retribuí seu abraço.
— Você está linda! – ela comentou, analisando-me ao me afastar. — Esse tom de azul combinou muito com a sua pele.
— Obrigada! Você também está linda. – elogiei.
Meus olhos que, involuntariamente, ainda buscavam por Noah atraíram a atenção da loira ao meu lado. A vi sorrir e sussurrar para que apenas eu ouvisse.
— Acredito que Noah não tardará a aparecer.
— Hum? – fingi não ter ouvido o que ela falara.
— Não tente disfarçar, eu... – ela sorriu, mas logo recolheu o sorriso do seu rosto e seus olhos miravam um ponto fixo.
Curiosa, virei o rosto na direção que Ade estava olhando e pude assistir a cena de Noah e Morgana adentrando a sala de braços dados, como um casal. Como o casal que eram. Ele me olhou por poucos segundos e logo desviou o olhar; engoli o choro. Ele me ignoraria em pleno Natal também. Graças a Deus que não ficaríamos ali por muito tempo. E, atendendo ao meu pedido silencioso, mamãe me chamou.
— Vamos, Abigail.
— Não vão ficar para a ceia? – Adelaide perguntou surpresa.
— Não. – felizmente, pensei em dizer. — Vou indo, Ade... Feliz Natal outra vez.
— Vá falar com Noah. – ela pediu e, imediatamente, eu neguei com a cabeça. — Abigail! É Natal!
— Não vou, Adelaide.
Karoline aproximou-se de nós para me apressar e acabou notando o que estava acontecendo. Obviamente, como duas cúmplices, Karoline ficou do lado de Adelaide.
— Abby, vá apenas desejar um Feliz Natal. – ela argumentou. — Não estamos dizendo para que converse com ele ou qualquer outra coisa... Mas, se não lembra, Abigail, faz parte da boa educação cumprimentar as pessoas.
— Karoline, até onde me consta, você deveria vir me buscar para irmos embora.
— Anda, Abigail Green! – Karoline tentou parecer irritada, se não fosse pelo sorriso. — E ele está olhando para você.
— Ele está com a noiva! – sibilei.
— Disso eu posso me ocupar...
Adelaide mal terminou de falar e já estava caminhando para onde Noah e Morgana estavam. Ela abraçou primeiro a outra e depois o irmão. Minha mãe juntou-se à Karoline e a mim, a fim de saber por que ainda não havíamos ido. Ela logo entendeu quando ele se aproximou de nós. Olhei para os lados e não havia mais ninguém perto de mim, apenas Noah.
Por um momento fiquei hipnotizada com seu olhar sobre mim. Ele tentou ser discreto, mas eu notei como ele me analisava. Por dentro, eu rogava para que ele estivesse gostando do que via. E, como se tivesse lido meus pensamentos, Noah sorriu. O primeiro sorriso sincero que ele me dispensava em dias. Sorri de volta, controlando-me para o sorriso não ser exagerado demais.
— Feliz Natal. – sua voz adentrou meus ouvidos, provocando um sutil arrepio.
— Pra você também. – temi que minha voz saísse falha.
Noah sorriu novamente e, sem que eu esperasse, me deu um abraço. Por um momento pensei que iria desfalecer em seus braços, quando ele sussurrou em meu ouvido:
— Encontre-me no salgueiro.
Noah apartou nosso abraço, deu-me as costas e saiu. O vi cumprimentar algumas pessoas enquanto caminhava para fora da casa. Fiquei parada, atônita, até perceber o olhar de Adelaide sobre mim. Aquele olhar era mais expressivo que qualquer outra coisa. Adelaide estava gritando para que eu fosse atrás do seu irmão.
Consegui fazer minhas pernas se moverem e segui o mesmo caminho que ele havia feito, também falando com alguns conhecidos. Busquei minha família rapidamente e não os vi... Sem querer demorar mais, pois nós precisávamos voltar para casa antes da ceia, fui em direção ao salgueiro. O nosso lugar.
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O Natal chegou na cidade de Vincent... O que vocês pediriam de presente ao Papai Noel?
Acho que sei o que Abby e Noah pediriam...
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Abby & Noah
RomanceAbigail Green e Noah Hughes vivem na pequena cidade de Vincent. Se conheceram ainda crianças, quando Abby tinha seis anos e Noah nove. Os três anos de diferença entre eles não influenciou na amizade que construíram. Porém, no verão de 1901, sete ano...