Prólogo

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Eventualmente, perdeu a conta de há quanto tempo lá estava — talvez três semanas, um mês, não tinha muita certeza. Também, para quê contabilizar o tempo se já só havia certezas de uma única coisa? — ele não aguentava mais.

Katniss dissera, naquele dia, que o iria tirar dali, mas lá no fundo, ele sabia que era pouco provável. Ela é uma rapariga forte, perspicaz com certeza, mas será isso o suficiente? É arriscado, ousado, perigoso e os amigos nunca a deixariam cometer tal atrocidade.

Ameaçaram aumentar o tempo da estadia, apenas pelas poucas confusões criadas. Não há fuga por ali. Pelo menos, já se havia conformado de que iria ficar uns sete ou oito anos, talvez mais. Sabia que merecia. Talvez ele até morra ali sufocado pelos seus inúmeros erros, sufocado pela solidão que o pequeno espaço lhe transmite.

A luz fraca a piscar por cima da cama torna a situação ridícula, irónica até, como se quisesse explodir de exaustão, mas ainda houvesse um resto de esperança. Na verdade, tudo é ridículo: a roupa que o obrigam a usar, a minúscula cela, a rotina, os guardas que acham que são — e não são de certo modo? — os donos de tudo aquilo, os prisioneiros que o subestimam sarcasticamente com o olhar; tudo tem o seu lado ridículo.

O olhar de gozo que toda a gente mantêm sobre ele dá-lhe raiva.

"Foi preso por roubos se calhar, ou por drogas, nada demais." — ouviu uma altura enquanto andava pelo pátio; mal sabem eles o quanto o seu coração pesa por sede de uma vingança cruel que o escurece a cada dia que passa.

Caleb suspirou pesadamente, tombando a cabeça para a frente, pousando-a nos seus joelhos ralados cobertos pelo pano gélido das calças largas acinzentadas.

Pronto e agora? — questionava-se diariamente. Sentiria ele orgulho quando tudo terminasse? Mas, pelo quê? Pela sua infantilidade? Por manipular pessoas? Pela sua sede de poder? De uma vingança que poderia nunca chegar? Por estar a desiludir Katniss?

Não, não iria haver orgulho ali, mas não podia desistir. Não agora. Não o fazia por gosto, mas por uma necessidade. Uma necessidade vil que, aos olhos de alguns, não tinha perdão. Teria perdão aos olhos de Katniss?

Caleb não entendia o que a rapariga tinha na cabeça. Não entendia o porquê da sua persistência, o porquê de ainda não se ter afastado, de ser a única a acreditar nele e nas suas teorias, o porquê de ainda não ter desistido dele. Deles.
Ou talvez soubesse e apenas não quisesse aceitar.

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