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Fazia três semanas que ele a seguia.

Tentava passar sempre despercebido, o intuito não era de a assustar. Precisava apenas de ter a certeza de que se tratava mesmo dela — coisa que percebeu logo no primeiro par de horas em que levou isto para a frente — e de como haveria de se aproximar. Não que fosse difícil de a reconhecer, o seu rosto angelical não havia mudado nada em comparação às fotografias estampadas nos vários jornais de há alguns anos atrás. Além disso, já se haviam cruzado algumas vezes na universidade, embora não conscientemente.

Aproximar-se, contudo, seria um pouco mais complicado do que procurar por notícias passadas das quais já tinha mais do que conhecimento.

Andava devagar ao longo da rua, fundindo-se entre a multidão que aproveitava o final fresco da tarde do início do verão. Katniss encontrava-se a uns quatro metros à sua frente a virar para uma rua estreita à sua esquerda. Caleb levou um longo minuto a fazê-lo também, para não ser suspeito. Mal sabia ele que se tinha descuidado e a jovem já o havia notado há algumas, poucas, ruas atrás.

Dobrou a esquina, caminhou ao longo da rua estreita e dobrou outra. E, então, foi surpreendido com um golpe desferido bem nas partes baixas. Caleb murmurou umas pragas, fletindo-se sobre si mesmo e encostou-se à parede, descendo sobre esta. Ainda em pose de luta, e olhando em volta à procura de pessoas a quem pudesse eventualmente pedir ajuda, Katniss perguntou com a voz quebrada:

— Quem és? Porque me estás a seguir?

O rapaz levou um longo minuto a responder, entorpecido.

— Não era assim que esperava começar uma conversa contigo. — Confessou ele, a recompor-se com dificuldade.

Embora destemida, Katniss estava também perturbada; não o conhecia e ele poderia realmente magoá-la, especialmente depois do que fizera.

Sendo assim e apercebendo-se da situação em que se metera, começou por dar um passo atrás, de seguida outro, e virou-se por completo para começar a correr. Ouviu-o chamar pelo seu nome, mas nem por isso parou. Ao virar para a próxima rua, por intento, olhou para trás e viu que ele se preparava para a perseguir.

Correu de volta às ruas principais, lotadas, e chegou a tempo de apanhar um autocarro que estava mesmo para fechar as portas.

Pagou rapidamente ao condutor, que a olhou com desdém, e avançou para a última fila de bancos. Ao enxergar pelo vidro viu-o, do lado de fora, a deter-se. O autocarro avançou com um solavanco e Katniss obrigou-se a sentar, respirando fundo.

Uma senhora idosa sentada perto de si assistia-a incessantemente e teve de se ajeitar, apercebendo-se de que estava toda despenteada.

Desviando o olhar e ainda com o coração em mãos, obrigou-se a observar pela janela, levando com o sol amanteigado na cara, para perceber se o rumo do veículo a conduziria a casa. O que ela ainda não sabia era que, o verdadeiro significado de casa havia ficado para trás. Com ele.

Zac estava cansado.

O facto de manter dois empregos ao mesmo tempo começava realmente a afetá-lo. Dormira apenas quatro horas naquela noite devido ao turno extra que havia decidido fazer na fábrica, de modo a ter horas livres para quando Nicole chegasse.

Punha a última dúzia de pão na grande fornalha quando viu Caleb no exterior da padaria. O rapaz espreitou para dentro desta, usando a palma da mão para fazer sombra e acenou a Zac. Fez-lhe sinal para que abrisse a porta.

Este, por sua vez, sorriu e abanou a cabeça avançando para a entrada. Rodou a chave e Caleb entrou abraçando o amigo. Não tinha mesmo remédio.

— Temos de falar. — disse sem demoras, seguindo para uma mesa.

Almas CondenadasOnde histórias criam vida. Descubra agora