Esta não é uma simples história sobre sobrevivência ou monstros. Esse tipo de coisa só acontece em filmes. Aqui, os monstros sempre estiveram entre nós. Os humanos.
No dia vinte e um do mês doze do ano de dois mil e doze o mundo, infelizmente, não acabou, algo muito pior aconteceu. Minha mãe havia me pedido para ir ao supermercado comprar ovos para o café da manhã - naquela noite eu não havia dormido, passara todo esse tempo jogando World of Warcraft. Mesmo cansado, percebi que minha mãe já se preocupava com o que comeríamos na manhã seguinte. Após a morte de meu pai em um acidente no trabalho, as coisas haviam ficado mais difíceis.
No supermercado, fiquei procurando a sessão onde ficavam os ovos por alguns minutos, e quando a encontrei, não achei somente os ovos, mas também, o cara que eu mais odiava em toda a cidade: Gordon Novac. Ele me perseguia todos os dias da semana na escola em que estudávamos. Segundo ele, o fato de eu ser um calouro e ter uma aparência meio estranha, já eram dois ótimos motivos para ser espancado. Eu estava a uma distância de mais ou menos quatro prateleiras dele. Peguei a caixa de ovos e me virei rapidamente na direção contrária, na tentativa de esconder meu rosto e sair discretamente.
Após pagar os ovos e sair do supermercado, eu podia jurar que havia despistado Gordon, mas ao entrar em um beco que dava em um corredor pequeno entre dois apartamentos, lá estava ele me esperando. Voltei para tentar correr, mas um dos amigos mal encarados dele bloqueou minha passagem, me forçando a voltar.
- Você já percebeu como nossos caminhos se cruzam todos os dias Vincent? Parece que você gosta de apanhar - disse ele socando meu estômago.
Curvei-me de dor, ele aproveitou para me dar uma joelhada no rosto e me empurrar contra a parede.
- Seu merda! Não é nem capaz de se defender. Um dia você vai me agradecer por te fazer homem! - Ele tomou distância para me dar um belo soco.
O barulho de uma explosão tirou a atenção de Gordon, salvando meus dentes. Andamos até a calçada, a fim de ver o que havia acontecido.
Quase no fim da rua, uma nuvem de fumaça que cobria os arranha-céus se alastrava por todo o caminho. As pessoas saíam de seus carros curiosos, mas ninguém sabia do que se tratava, até então. Um garoto que gritava com seus pais para voltarem para dentro do carro foi o primeiro a ser alcançado pela nuvem de cor escura, seguido pela sua família e assim sucessivamente com as pessoas próximas. Elas tossiam desesperadamente e então cediam ao chão. Foi o suficiente.
Todos corriam agora na contramão a fim de salvar suas vidas.
- Tá esperando o que aberração? CORRE! - Disse Gordon disparando junto à multidão.
Hesitantemente, corri junto com ele. O desespero fazia as pessoas esbarrarem umas nas outras na luta pelo espaço de fuga. Atrás de mim, pessoas caíam cedendo a nuvem e aproveitadores saqueavam lojas e corpos desacordados, mas inevitavelmente, também eram pegos pela escuridão que se aproximava cada vez mais rápido de mim.
- Alguém me ajuda, por favor! - Gritava uma mulher com seu bebê ensanguentado nos braços.
Distraído, tropecei em alguém que desmaiara a minha frente e fui jogado contra o asfalto pelo resto da multidão que corria exasperada. A nuvem já estava sobre mim quando virei meu corpo para cima. Foi quando senti um sabor de sangue descer pela minha garganta.
Olhei a minha volta, vi uma garotinha loura chorando a procura de sua mãe. A minha direita, um casal se protegia atrás de uma caixa de correio - eles olhavam um para o outro procurando segurança. Senti o sabor amargo chegar ao meu peito e tossi tentando fazê-lo sair, mas foi em vão. A garotinha a minha esquerda havia desaparecido, o casal a minha direita estava morto. Os prédios desapareceram na escuridão, as pessoas acalmaram-se e subitamente, tudo ficou em silêncio.
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