Aos poucos abri meus olhos ao perceber que havia um garoto ruivo e cheio de sardas gritando ao meu lado:
- Ele está acordando!
Em ato de defesa, tentei me levantar, mas estava cansado demais para isso. Sentia meu corpo mais pesado que nunca e minha cabeça latejava dolorosamente. Estávamos em uma sala com paredes brancas e lisas com apenas uma grande janela retangular atrás da cama em que eu estava e uma porta a minha frente.
- Opa, calma aí morceguinho - Natallie estava a minha direita, vestia um moletom cinza escuro, calças Jeans e um tênis simples. Provavelmente, alguém havia a emprestado as roupas - eles salvaram nossas vidas, você ainda não tá bem.
- Encontramos vocês dois na praia da Little Islands University – completou o garoto ruivo.
Little Islands é um conjunto de ilhas que formam o lugar em que vivo. É uma pequena cidade dividida em dois distritos. O distrito de Doring, o qual eu moro que é a área urbana da cidade, e o Distrito de Carmelo, que é uma área mais industrial. Existe uma terceira ilha onde se localiza uma Universidade.
- Sua amiga nos contou tudo que aconteceu com vocês nos últimos dias – disse um homem mulato de cabeça raspada encostado na moldura da porta – sou David Foucan. – Seu sotaque francês era inconfundível.
- E onde estamos? – perguntei mais fraco do que esperava.
- Bem vindo a USS Enterprise! – disse o garoto ruivo com empolgação – Sou Lucas Oran, prazer!
- O que? Nós estamos em uma nave espacial? – perguntei surpreso.
- Infelizmente, não... Mas pode chamar disso se quiser! – respondeu Lucas.
- Lucas e sua imaginação fértil! – disse um homem de meia idade entrando no quarto acompanhado de uma mulher e um par de gêmeas de cabelos curtos e escuros– Sou George Collins. Essa é Julia Webb – ele apontou para a mulher loira ao seu lado.
- Katherine e Elisabeth Lewis – disse uma das garotas.
- Este é só nosso pequeno barco, Vincent. Desculpe pelo incomodo de meu filho – disse George fitando Lucas.
- Não foi nada, mas se não for muito incômodo, alguém, por gentileza, poderia me trazer um copo de...
Como um apagão inesperado, meus pensamentos esvaíram-se completamente. O que antes era apenas uma forte dor de cabeça se tornou algo insuportável e foi se espalhando pelo meu corpo até eu não poder mais distinguir a dor da realidade. Ouvi uma voz muito distante dizer – Ou gritar – algo como ‘’ Ele está transitando! ‘’.
O que aquilo significava? Eu estava morrendo? A morte parecia estar se tornando algo familiar. Ouvi novamente algo muito distante, ainda mais baixo ‘’ Dê isso para ele ‘‘.
Eu estava em completa escuridão, uma longa e assustadora escuridão. Virei-me a procura de algo para focalizar minha visão, mas não havia nada. Fechei meus olhos, tentei sentir algo, uma mínima sensação, qualquer coisa – havia algo – senti alguém me observando, senti o desespero subir pelo meu corpo. Era como se uma gota fria no meio de um banho de água quente tivesse feito caminho contrário pelas minhas costas. Abri meus olhos e vi. Ela estava lá. Uma pequena luz no fim do túnel. Era como se ela me chamasse – quase podia ouvi-la sussurrar meu nome – tomei fôlego, mesmo sem saber se eu tinha um corpo, e comecei a correr na direção da luz. Corri o mais rápido que pude. Corri até sentir somente a ponta dos meus pés tocarem o chão. Corri até sentir que meus pulmões iriam explodir a qualquer momento, mas havia algo errado, não com meus pulmões, mas sim com a luz. Ela não estava ficando mais intensa. Eu não estava me aproximando dela, estava me distanciando. Não importava o quão rápido eu corresse, ela só se afastava – não desista! – não adiantava, eu não podia alcançá-la. – corra mais rápido! – ela está mais longe. – pule!