Capítulo Quatro - Corvo

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-Vincent...

Um forte cheiro podre me fez acordar do que parecia ter sido um sono muito longo. Eu estava deitado sobre algo desconfortável que machucava minhas costas. Ao me levantar para ver o que me incomodava, pude ver pela fraca luz que iluminava o local, um pé humano.

Argh!! disse pondo a mão sobre minha boca. Olhei em volta e percebi que estava em uma sala não muito grande, mas cheia de cadáveres.

A última coisa de que me lembrava, era de estar seguindo um garoto loiro e então... Natallie! O garoto havia a desmaiado. Será que ela estava bem? Pensei.

Aproximei-me das portas de saída e olhei por uma das pequenas janelas a procura de algum vigia. O corredor longo e largo de paredes bege e iluminação muito fraca aparentava estar vazio. Abri uma das portas de metal e saí silenciosamente.

Embora a arquitetura do local fosse bastante moderna, não parecia haver câmeras, o que me deixou um pouco aliviado. O largo corredor tinha pisos sujos que refletiam a luz das grandes janelas que estavam nos andares acima. As paredes revestidas de mármore possuíam várias rachaduras, como se um terremoto de baixa escala tivesse abalado o local. Ao lado da sala pela qual eu havia saído, havia outra, e outra, e assim sucessivamente ao longo do corredor deserto.

Andei de vagar, tentando ficar próximo das paredes, a procura de algum som, mas, o que eu estava procurando? Eu não fazia a mínima ideia de onde Natallie poderia estar e muito menos, de onde eu estava.

Um grito agudo e familiar interrompeu meus pensamentos. O grito vinha de uma sala no fim do corredor. Apressei meu passo para chegar até lá e fiquei parado ao lado da porta semiaberta. Havia alguém falando lá dentro.

-... Eu não sei de nada seu desgraçado! - disse uma voz familiar.

- Claro... Então você está me dizendo que seu pai nunca conversava sobre o trabalho no café da manhã? - perguntou calmamente uma voz grave e firme.

- Não! Como eu lhe disse, meus pais se separaram quando eu tinha nove anos e eu fui morar com minha mãe! Não é o suficiente pra você?

- E esse símbolo em seu rosto?

- Eu tenho desde pequena!

Imediatamente me lembrei da cicatriz que Natallie possuía na bochecha.

- Eu não acredito em suas palavras. Já que não quer me contar, farei a informação sair de você.

O dono da voz grave apanhou algo de metal.

- Ecosta isso em mim mais uma vez e eu vou... SEU FILHO DA PUTA! - Exclamou a dona da voz aguda.

Ouvi um grito de dor e desespero e logo em seguida, um cheiro de carne queimando.

Não aguentei mais e entrei na sala.

Natallie estava deitada sobre uma mesa de mármore com o dorso de sua roupa rasgado deixando a mostra seus pequenos seios. Seus braços e pernas estavam presos por grossas correntes que saiam das laterais da mesa. Ao seu lado, um homem alto vestido de um terno preto com riscas de giz, pressionava uma barra de ferro quente contra o peito da dela, que gritava de dor.

- Olha só quem apareceu para a festa. Minha mãe dizia que ''quem é vivo, sempre aparece'', mas no seu caso, eu podia jurar que não apareceria, Sr. Walker. - disse o homem ironicamente.

Fiquei em silencio fitando seus profundos olhos verdes. Ele se dirigiu a uma mesa de metal aos fundos da sala e colocou a barra de ferro em um balde de água. Enquanto se distraía limpando suas mãos, aproveitei para correr até Natallie e livra-la das correntes.

- Sabe... - dizia o homem tirando um maço de cigarros de um de seus bolsos e apanhando um - É realmente muito interessante você estar aqui, vivo... - ele acendeu o cigarro e tragou-o - Um de meus homens garantiu que havia enfiado uma bala em seu peito.

- Vejo que superei suas expectativas então. - disse colocando Natallie em meus braços.

- Você acha mesmo que conseguirá sair daqui facilmente? Eu tenho vários homens esperando vocês do lado de fora desta sala.

Olhei para a porta pelo canto dos olhos e os vi parados a partir da porta pela qual eu havia entrado.

- Vamos ver quem corre mais rápido então. - disparei na direção do corredor.

- Boa sorte! - gritou o homem atrás de mim. As pessoas começaram a correr na nossa direção.

- Ali Vincent! - disse Natallie agarrada em volta do meu pescoço. A minha direita havia uma porta que levava as escadas de emergência. Corri até lá e chutei a porta.

Precipitei-me para descer as escadas, mas havia ainda mais pessoas chegando, subi os degraus o mais rápido que pude. Quebrei a porta que levava ao terraço sem querer saber se estava aberta ou não. Ao avistar a borda do edifício, senti uma onda de adrenalina tomar conta do meu corpo.

- NEM PENSE NISSO! - Gritou Natallie por cima de meu ombro.

Tomei impulso, apertei-a em meus braços e pulei o mais alto que pude.

O forte vendo batia em meu rosto enquanto eu caia para frente. Olhei para baixo tentando ver onde iríamos aterrissar. Toda aquela adrenalina simplesmente sumiu do meu corpo quando vi que cairíamos no mar aberto próximos a um penhasco. Antes que eu pudesse pensar em algo, mergulhamos na água gelada. Tentei segurar Natallie, mas as ondas me jogavam, cada vez mais, contra as pedras. Tentei me agarrar a um tronco de arvore que estava preso entre duas rochas, mas uma grande onda me arremessou contra elas. Ao afundar, vi meu sangue flutuando em volta de mim. Tudo começou a escurecer. Os pensamentos foram desaparecendo, até que só pude ouvir uma voz sussurrando em meus ouvidos:

- Vincent...

†††

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