Capítulo Seis - Gralhas

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Em Carmelo as coisas estavam indo muito bem. O abrigo que George nos levara, era muito confortável - dois grandes andares em um edifício no centro da cidade. Nós, que tínhamos sobrevivido à intoxicação e, por algum motivo referente a isso, não tínhamos mais a necessidade de dormir tanto quanto antes; alternávamo-nos em vigiar o prédio durante a noite. 

Os dias passavam rápido, e fomos conhecendo uns aos outros cada vez mais. Katherine nos contou que ela e sua irmã tinham fugido de casa para ir ao cinema quando a bomba explodiu. George as encontrara desmaiadas próximas a bilheteria um mês depois da intoxicação. 

A historia de Julia, George e Lucas já vinha de muito antes de todo o caos. George era dono de uma empresa têxtil muito poderosa em Litlle Islands, a Oran Ltda. Eles moravam juntos em um apartamento na área rica da cidade e estavam voltando da França no dia em que a cidade foi tomada. 

O intenso inverno estava começando a dar lugar à primavera quando Lucas sugeriu sairmos um pouco do isolamento e dar uma volta na praia de Carmelo, o que era seguro já que os poucos vampiros que se arriscavam sair na luz do sol, não nos atacavam. 

          - Praia? Qual é o seu problema? – perguntou George retoricamente lançando um olhar significativo a Lucas. 

        - Vai ser legal! Não aguento mais essa prisão – reclamou Lucas, referindo-se ao apartamento. 

- Nem eu! – disseram as gêmeas Lewis em uníssono. 

   George ficou alguns segundos em silêncio para repensar. 

          - O que vocês acham? – perguntou olhando para mim e Natallie, que estava ao meu lado sentada no sofá. 

- Ah, para mim tanto faz – respondi. 

- Para mim também – confirmou Natallie. 

   Lucas comemorou alegremente. 

       - Agora são... – George olhou para o seu relógio de pulso - 14h30... 17h00 em ponto quero todos aqui. Não podemos arriscar ficar fora depois do anoitecer. 

        - A praia é a quinze minutos daqui, vamos andando para não chamar a atenção – disse David, o mulato de cabeça raspada. 

- Vamos indo então – concordou George. 

 Saímos cautelosamente do edifício prestando máxima atenção nos mínimos sons, por sorte – muita sorte – as estradas estavam praticamente vazias, a não ser pela garota que caminhava lentamente no fim da rua, coberta de sangue. Ela parecia não nos perceber e seu olhar não era fixo em nada. 

         - Não saiam de vista! – gritou George quando, Katherine, Elizabeth e Lucas correram pela areia da praia gritando alegremente. 

- As 16h45 no quiosque perto do ponto de pesca? – Perguntei para confirmar. 

         - Sim, e tentem não se perder. – Respondeu George indo na direção das crianças junto de Julia. 

- E você David, vem com a gente? – Perguntei. 

   Ele olhou pensativo para o mar. 

- Bom - ele nos olhou - não tenho muito o que fazer por aqui. 

Caminhamos em direção aos rochedos que dividiam a praia das docas de desembarque. Ficamos em silêncio até uma parte do caminho. Natallie parecia pensativa. 

- Nunca pensei que o mundo acabaria mesmo assim... – comentou. 

-Assim como? - perguntou David. 

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