Em Carmelo as coisas estavam indo muito bem. O abrigo que George nos levara, era muito confortável - dois grandes andares em um edifício no centro da cidade. Nós, que tínhamos sobrevivido à intoxicação e, por algum motivo referente a isso, não tínhamos mais a necessidade de dormir tanto quanto antes; alternávamo-nos em vigiar o prédio durante a noite.
Os dias passavam rápido, e fomos conhecendo uns aos outros cada vez mais. Katherine nos contou que ela e sua irmã tinham fugido de casa para ir ao cinema quando a bomba explodiu. George as encontrara desmaiadas próximas a bilheteria um mês depois da intoxicação.
A historia de Julia, George e Lucas já vinha de muito antes de todo o caos. George era dono de uma empresa têxtil muito poderosa em Litlle Islands, a Oran Ltda. Eles moravam juntos em um apartamento na área rica da cidade e estavam voltando da França no dia em que a cidade foi tomada.
O intenso inverno estava começando a dar lugar à primavera quando Lucas sugeriu sairmos um pouco do isolamento e dar uma volta na praia de Carmelo, o que era seguro já que os poucos vampiros que se arriscavam sair na luz do sol, não nos atacavam.
- Praia? Qual é o seu problema? – perguntou George retoricamente lançando um olhar significativo a Lucas.
- Vai ser legal! Não aguento mais essa prisão – reclamou Lucas, referindo-se ao apartamento.
- Nem eu! – disseram as gêmeas Lewis em uníssono.
George ficou alguns segundos em silêncio para repensar.
- O que vocês acham? – perguntou olhando para mim e Natallie, que estava ao meu lado sentada no sofá.
- Ah, para mim tanto faz – respondi.
- Para mim também – confirmou Natallie.
Lucas comemorou alegremente.
- Agora são... – George olhou para o seu relógio de pulso - 14h30... 17h00 em ponto quero todos aqui. Não podemos arriscar ficar fora depois do anoitecer.
- A praia é a quinze minutos daqui, vamos andando para não chamar a atenção – disse David, o mulato de cabeça raspada.
- Vamos indo então – concordou George.
Saímos cautelosamente do edifício prestando máxima atenção nos mínimos sons, por sorte – muita sorte – as estradas estavam praticamente vazias, a não ser pela garota que caminhava lentamente no fim da rua, coberta de sangue. Ela parecia não nos perceber e seu olhar não era fixo em nada.
- Não saiam de vista! – gritou George quando, Katherine, Elizabeth e Lucas correram pela areia da praia gritando alegremente.
- As 16h45 no quiosque perto do ponto de pesca? – Perguntei para confirmar.
- Sim, e tentem não se perder. – Respondeu George indo na direção das crianças junto de Julia.
- E você David, vem com a gente? – Perguntei.
Ele olhou pensativo para o mar.
- Bom - ele nos olhou - não tenho muito o que fazer por aqui.
Caminhamos em direção aos rochedos que dividiam a praia das docas de desembarque. Ficamos em silêncio até uma parte do caminho. Natallie parecia pensativa.
- Nunca pensei que o mundo acabaria mesmo assim... – comentou.
-Assim como? - perguntou David.