IV - Fim de Jogo

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Puxei o ar com força pulando para fora daquele pesadelo. Meu estômago se revirou gritando socorro. Sentei e observei o cenário em volta, assustada na escuridão; os dedos das mãos doíam, cravados na colcha colorida de crochê desbotada. A porta totalmente aberta me deu a visão panorâmica de Jayden caminhando na ponta dos pés sem olhar para dentro do quarto.

— Ei!

— Deus todo poderoso! — Ele virou — Você quer me matar, Chapman?

Ele adentrou no quarto com os sapatos nas mãos e uma caricatura nova. Seu nariz estava vermelho e inchado, assim como a boca cortada, denunciando que eu perdi alguma coisa. Ou melhor, algumas.

— Eu já estava indo embora. Dei um pulo no banheiro antes de dar o fora.

— O que aconteceu com você? E eu? Eu desmaiei?

Minha cabeça doía tanto que eu mal conseguia ergue-la. Ele desviou os olhos, provavelmente envergonhado.

— A última coisa que eu me lembro foi de você ter roubado meu cigarro e depois...

— Sua droga, você quer dizer. — Respondi.

— Mas você quis, Chapman. — Ele apontou, erguendo os ombros — E depois, você saiu correndo e se enfiou no banheiro. Eu tentei te segurar, mas a única coisa que lembro depois disso foi de ter acordado de novo, no mesmo canto da boate, sentindo a dor de uma baita pancada na cara. Quando eu olhei no espelho estava assim, e depois eu te encontrei sentada no bar falando nada com nada e te trouxe pra casa.

Aquela foi a primeira vez em que eu usei qualquer tipo de coisa que não fosse meu cigarro inocente; talvez por isso eu tivesse passado do ponto. Me comportei como a criança que foi pela primeira ao shopping e envergonhou a mãe enquanto se jogava no chão esbravejando. Poderia não ter sido tão ruim assim, calculando que o lugar estava tão cheio que parecia uma lata de sardinha. Provavelmente ninguém teria notado ou dado importância, mas ainda assim, eu queria deletar aquilo da memória.

— Me desculpa, Jay. Eu estou morrendo de vergonha desse fiasco.

— Não esquenta, Chapman. Foi a primeira vez que eu apanhei, e ainda por cima nem me lembro de nada, isso é para os bons. Se o covarde soubesse de onde eu venho, não tentaria de novo.

Nós rimos, sabendo que aquilo era bizarro e imaturo. Ele segurou minha mão, gemendo de dor por mexer os lábios rapidamente.

— A gente devia fazer mais isso, Chapman.

— Ficar doidão?

— Não! O inverno já t á quase aí. Você sabe que a gente vai ter que fazer umas trinta horas extras naquele maldito restaurante, não sabe? Esse povo só sabe comer macarrão com almôndega, todo maldito dia. Poderíamos sair mais vezes, eu prometo cuidar de você na próxima.

O convite não me parecia dispensável, mas eu sabia que assim que acordasse ia me arrepender. O mundo mal estava girando em perfeita ordem depois de tantas doses, então me recusei a deixar a Billie impulsiva sair para se divertir, pelo menos naquele momento.

— Você está no último ano do ensino médio, Jay. Tem que estudar pra entrar na faculdade e treinar pro seu teste de basquete. Assim que você tiver um tempinho livre na sua agenda, me liga. Você pode vir aqui em casa, me ajudar a levar minha mãe bêbada pro quarto, e depois a gente joga baralho. Da última vez foi legal, né?

— Nosso tipo de diversão é peculiar. — Afirmou. — Mas eu topo. Desde que você me deixe te beijar de novo, no final.

— Você é muito esperto. — Coloquei as mãos em seu peitoral rindo, nervosa demais para pensar.

END GAME - REVISAOOnde histórias criam vida. Descubra agora