SETE ANOS DEPOISPor toda a minha vida tive que ser forte, uma vez após a outra a vida me batia, como uma onda tentando arrastar-me para o fundo. Entretanto eu nunca me deixava afundar, sempre tentei manter minha cabeça acima da água, agora parecia que estava me afogando e tudo o que queria era deixar a água invadir meus pulmões e me levar para um lugar bem fundo onde pudesse fechar os meus olhos e descansar até a dor passar.
Respiro profundamente. Necessitava ser forte, não por mim, mas pelos meus sobrinhos. Eu era tudo o que eles tinham agora.
Caminho pela enorme casa que era o sonho de qualquer família, um sonho que meu irmão teve por muito tempo, agora estava tudo acabado. Alcanço o quarto do meu sobrinho e bato na porta, ouço sua voz suave falando para que eu entrasse.
— Ei, carinha, como está indo?
Ele já estava vestido com seu terno azul marinho e em frente ao espelho, tentando ajustar sua gravata.— Estou tentando colocar essa gravata, mas não estou conseguindo, acho que meus dedos são muito pequenos.
— Eu posso ajudar você com isso.— Eu digo me aproximando dele e agachando na sua frente, meus dedos rapidamente fazem o nó na pequena gravata. — Está pronto.
Andy ajusta os óculos no rosto e se fita no espelho. Ele estava muito silencioso e isso me preocupava, tinha chorado quando recebeu a notícia, mas agora pouco falava.
— Você está pronto para ir?
— Sim. — Ele acena. — Nós vamos na sua moto?
— Você quer ir na minha moto? — Indago acariciando seus cabelos, ele era muito parecido com meu irmão e comigo, tinha os mesmos cabelos loiros e olhos castanhos.
— Sim, eu não quero andar em um carro.
Ele desvia o olhar e sinto meu coração sendo espremido no meu peito.— Tudo bem, nós podemos ir na minha moto hoje. — Eu me ergo estendendo a mão para ele.— Vamos lá?
Andy coloca sua pequena mão na minha e caminhamos para fora do quarto, passamos pelo quarto de Holly e vejo a babá sentada na poltrona ao lado do berço, onde o bebê de apenas dez meses dormia tranquilamente, sem fazer ideia do que aconteceu com seus pais, quando crescesse não se recordaria deles.
— Obrigada por cuidar dela. — Digo a babá, que era uma senhora latina com um pouco mais de trinta anos, ela era babá dos garotos há um tempo e parecia abalada também.
— Não precisa agradecer.
Eu aceno e caminho com Andy até o lado de fora, minha moto estava estacionada na frente, retiro o capacete na parte de trás da moto e coloco na cabeça de Andy, tendo certeza de que estava bem preso. O levanto fazendo com que ele sente-se na moto e logo subo também puxando seus braços a minha volta.
— Me segure firme. Ok? — Comando, girando a chave na moto e dando partida logo em seguida, eu dirijo devagar e com cuidado até o local do enterro.Aquele dia era ensolarado, como quase todos os dias em Los Angeles, exceto que naquele dia parecia errado que o sol não se escondesse, nem que do céu não caísse gotas de chuva tamanha tristeza que deveria estar sentindo.
Haviam muitas pessoas lá, algumas que nunca tinha visto, meu irmão era famoso afinal, me aproximo das cadeiras onde minha mãe já estava sentada e sento-me ao lado dela, não importa quão ruim ela foi como mãe no passado, acho que ela era uma das únicas que entendia como me sentia.
Ela não olha para mim, seu rosto fixo a frente, como se nem mesmo estivesse ali. Shannon, uma amiga, dá-me um sorriso pequeno e aceno para ela. Andy senta ao meu lado e a cerimônia começa, eles seriam enterrados lado a lado, acho que gostariam assim. Eu pego a pequena mão de Andy na minha querendo lhe passar tanta força quando pudesse.
O padre realiza um pequeno sermão e em seguida uma mulher de voz grave canta uma música sobre olhar para Deus nos momentos difíceis enquanto os caixões são baixados para terra.
I look to you. I look to you. And when all my strength is gone. In you I can be strong
Nesse momento algo chama minha atenção, algo não, alguém. Meu olhar a encontra, como sempre fez, no momento em que ela entrava no ambiente sabia que ela estava lá, como se houvesse um botão dentro de mim que me conectava e me atraía em sua direção.
Era como se visse um fantasma, tantas vezes imaginei como seria vê-la novamente, o que diria, o que faria. Tantas vezes.
Kalinda.
Tudo o que consigo fazer é ficar parado enquanto meu coração troveja em meu peito, meu sangue parecia correr mais rápido em minhas veias e mau conseguia ouvir a música, ou qualquer outra coisa, enquanto o sangue bombeava em meus ouvidos ao observar-la caminhando a frente vestindo-se de forma impecável com um vestido preto de botões, o tecido se grudando as curvas do seu corpo e nos seus pés calçava saltos baixos, seus longos e lisos cabelos negros estavam soltos e revoando com o vento, no seu rosto ela usava grandes óculos escuros e nas mãos carregava um buquê de flores.
Com o tempo me convenci de que ela não era tão linda quanto recordava, não poderia ser, mas de nada adiantou tentar me enganar, Kalinda estava mais linda do que nunca.
Ela não era mais uma menina, tinha se tornado uma mulher exuberante. Engulo em seco sentindo meus lábios e garganta secos.
— Quem é ela? — Shannon pergunta, mas eu não conseguia falar. A sua pergunta atraí a atenção de Andy que olha na direção de kalinda e se levanta imediatamente correndo até ela.
Sabia que quando foi embora dos Estados unidos kalinda foi morar na Rússia e se tornou uma grande dançarina, ela e Catherine mantiveram contato e agora ela vivia em Nova York, Andy a amava e passou as últimas férias de verão com ela.
Kalinda fica de joelhos e o abraça apertado acariciando os cabelos do menino, depois de um tempo eles se separaram e Kalinda se ergue pegando a mão de Andy e o levando até onde os caixões estavam, ela divide o buquê de flores e da metade deles a Andy, antes de dividi-los e jogar as flores sobre os dois caixões, o garoto a segue, é quando vejo seu pequeno corpo tremendo antes de se agarrar aos quadris de Kalinda, me ergo e caminho até eles.
Ela olha para mim quando apoio a mão na cabeça de Andy acariciando os seus cabelos, não conseguia ver seus olhos por trás dos óculos, mas vejo a forma como sua garganta se move quando engole em seco.
Assisto o momento em que ela leva a mão ao rosto tirando os óculos escuros. Kalinda tinha os olhos mais bonitos, grandes e expressivos olhos castanhos esverdeados.
Ela nunca conseguia esconder nada do que sentia, mas agora encarando seus olhos, não poderia dizer o que se passa na sua cabeça. Seus olhos estavam vermelhos e inchados como se tivesse chorado muito. Catherine e ela eram como irmãs, inseparáveis, deveria ser difícil para ela também.
No passado sempre que Kalinda estava triste eu a abraçava e dizia que tudo ficaria bem. Dessa vez nada ficaria bem. Como poderia ficar quando dois filhos perderam seus pais? Ela deveria saber melhor que ninguém como aquela dor se sentia.
Kalinda não diz nada, o que ela faz é baixar o olhar e a cabeça em comprimento. Gostaria de perguntar o motivo pelo qual ela se foi sem se despedir e o porque de nunca mais voltar; Nunca mais voltar para mim.
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Querido Destino - DEGUSTAÇÃO
RomansaLivro completo disponível na Amazon [+18] Liam e Kalinda viveram uma grande paixão no passado, os dois órfãos encontraram um no outro uma família e o primeiro amor. Separados pelo destino, cada um seguiu seu caminho, até que depois de sete anos um...