Capítulo 3

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Depois daquele dia em que Mingyu jantou conosco, ele começou a frequentar nosso apartamento. Eu o vejo quase todos os dias agora, mas de alguma forma é diferente, sua presença aqui não causa a mesma reação que as amigas de Ae Ra, não de um jeito ruim. Posso ver que minha humana se sente bem quando ele está por perto e os dois estão sempre juntos fisicamente como se desejassem ocupar o mesmo espaço num lugar só.

Já não é mais estranho quando ele chega de noite e bate na porta. Ae Ra sempre fica feliz quando ele chega, agora o cãozinho alegre é ela, ambos parecem ter uma necessidade física de ficar grudados, sem espaço nenhum entre eles. Qual é o conforto nisso? Nossas noites de filme ganharam mais um membro e o cheiro de livros velhos e flores se misturava com o de café e caramelo.

Só não havia me acostumado quando ela não voltava para casa. Podia ouvir seus passos e sua voz no corredor, mas ela passava direto pela porta e entrava no apartamento do lado. Que audácia me deixar aqui sozinho...

Agora eu tinha que dividir a atenção da minha humana com aquele lá. Tudo bem que ele me dá atenção também, até ganhei uma nova coleira, mas apesar de tudo ele ainda é um estranho — mesmo depois de meses — e amanhã vou descobrir todos os podres daquele... Humano.

Será que ele merece tanta confiança assim?

>>>

O dia amanheceu quente, algo raro, e tão radiante quanto o sol lá fora Ae Ra saía do apartamento. Imagino eu que para o seu trabalho na tal floricultura.

Como uma velha rotina ela bota comida e água para mim antes de sair, tentei ser o mais dócil possível para Ae Ra não desconfiar do meu plano. Logo ela se despede e sai pela porta.

Mingyu sempre sai depois dela, então eu tenho tempo de sobra para comer e pensar na melhor rota de fuga. Vai ser mais fácil do que meu plano de dominar o mundo, com certeza. Quando ouvi a porta se abrir no corredor eu já estava pronto, dei um tempo para ele sair e descer pelo elevador e então saí pela pequena janela do banheiro. Será difícil me misturar e não ser visto, mas farei meu melhor para não ser descoberto.

O humano que roubou minha humana de mim está a pé, o que é um conforto porque não o perderei de vista. Ele anda por longos cinco quarteirões até chegar em uma arrumada cafeteria, reconheço o cheiro de café misturado com caramelo que Mingyu sempre carrega consigo.

Observo tudo do outro lado da rua, em cima de um parapeito. O lugar era grande e haviam pelo menos outras três pessoas ali, vestidas com as mesmas roupas arrumadas e claras que o humano Kim. Eles parecem felizes em vê-lo, principalmente a mulher que fica atrás do balcão, diferente de Ae Ra a humana é alta e com seus fios muito mais claros, quase loiros e curtos. Os dois parecem ser muito próximos, não como ele e minha humana, era... Diferente?

Que complicado...

A humana loira parecia o querer por perto, da mesma maneira que Ae Ra indica isso, mas ele não corresponde da mesma forma. É muito unilateral. Mingyu parece ter afeição por ela, mas não dá mesma forma que age com a minha humana, a relação dele e da minha humana é quente, pega fogo, mas com essa aí não chega nem perto de morno.

Fico ali por um bom tempo, escondido nas sombras, balançando minha cauda de um lado para o outro para ver se o tempo passa mais rápido. Alí era um tédio, pessoas entram, se sentam e comem. Apenas isso. É um entra e sai louco de pessoas que nunca acaba. Mingyu anda de um lado para o outro o dia inteiro, carregando bandejas, canecas e outras coisas para os humanos que estão sentados às mesas.

Decido ficar ali até o fim do dia, como garantia de que não perderia nenhum detalhe. O céu começa a escurecer em um belo crepúsculo e já estava me convencendo de que foi uma grande perda de tempo ter vindo apenas para julgá-lo quando ele finalmente sai daquele lugar em que ficou entocado o dia inteiro.

Mingyu sai acompanhado da mulher loira, eles conversam animados pelo caminho contrário ao lugar onde ele e Ae Ra moram. Os sigo de longe, afinal não queria ser reconhecido e usando essa coleira que ele me deu não será difícil de descobrir que estou na sua cola. Os humanos entram em um lugar claro, cheio de coisas brilhantes espalhadas e cobertas por vidros limpissimos. Ouvi Mingyu dizer que era uma joalheria e que ele queria entrar para comprar algo que havia esquecido para sua surpresa.

Uma mulher vem os cumprimentar, mas logo se retira depois de trocar curtas palavras com o humano que minha humana chama de namorado. Logo ela volta, carregando um pano preto cheio de pequenos brilhantes em cima. Os dois têm uma pequena discussão, que não consigo ouvir com clareza até que resolvem colocar um dos anéis no dedo da humana que o acompanha.

Espera! Esse presente não é para a Ae Ra?

Sabia que descobriria algo se o seguisse!

Me levanto do meu ponto de observação e rumo direto para casa, afinal deveria chegar antes da minha humana. Imagino o seu desespero se chegar e não me achar, não costumo sair de dia, principalmente na hora que ela está chegando.

Logo eu adentro o calor do meu lar através da janela do banheiro pela qual saí mais cedo. Tudo estava escuro o que indicava que Ae Ra não havia chegado, em todos esses anos convivendo com ela posso afirmar com certeza que minha humana odeia o escuro, por onde ela passa ela acende uma luz ou abre uma cortina.

Me estico e vou para o meu canto no sofá como se nada tivesse acontecido. Não deu nem tempo de cochilar pois logo a voz inconfundível dela surge no corredor, cantarolando uma música calma. As luzes logo se acendem e ela entra, exausta, carregando sua bolsa em mãos ela se esparrama no sofá ao meu lado. Subo em seu colo e me aninho a ela, pedindo carinho e atenção e consequentemente arrancando uma risada.

— Como foi seu dia meu amor? — levanto as orelhas ao som de sua voz e ela me ajeita em seu colo. — Espero que tenha descansado muito porque eu estou morta.

Me aninho mais a ela e deixo que ela me acaricie enquanto respira fundo e se afunda mais no sofá.

Ouço passos e logo as batidas soam apressadas na porta.

O que esse... Humano veio fazer aqui?

Ae Ra suspira e me tira do seu colo, resmungando ela se levanta, mas logo um sorriso surge em seus lábios quando dá de cara com Mingyu do outro lado da porta. Não mexo um músculo, apenas observo e julgo o cara que possivelmente está traindo a confiança da minha dona.

— Oi... — ele a encara nervoso depois de abraçá-la e deixar um leve selar sobre seus lábios. — Tem um minuto?

Ela acente e o deixa entrar, ainda com aquele sorriso bobo no rosto que não saia de jeito nenhum quando Mingyu está por perto.

— O que quer? — a pergunta feita pela minha humana o deixa assustado. Pude perceber a mudança no meio da confusão que ele está.

— Bom... Não sei como começar isso e eu deveria ter preparado algo especial, mas eu não me aguentei. — a confusão no rosto de Ae Ra mostra que ela está tão perdida quanto eu. — Você é uma mulher incrível, pude perceber isso nos últimos meses. Não sei como você foi gostar de alguém tão distraído quanto eu, mas agradeço por isso do fundo do coração. Sinto que devo te dar algo para retribuir toda a felicidade que você me traz e então finalmente oficializar o que está acontecendo aqui. — levanto as orelhas tentando entender o que estava acontecendo e ele continua a falar depois de pegar uma pequena caixa em seu bolso. — Jung Ae Ra, te conheço a pouco mais de quatro meses, mas meu amor por você não é medido por tempo... O que eu quero dizer é eu te amo, muito. Quer namorar comigo? Oficialmente?

Mingyu diz tudo rápido, mal consegui acompanhar e quando percebi Ae Ra já havia se jogado nos braços dele dizendo que o ama ou algo assim.

Quê!?

Ele não tinha comprado aquele treco para a loira? Por que ele está aqui, dizendo palavras bonitas e abraçando Ae Ra?

Eles se separam e logo ele coloca algo brilhante no dedo dela, não demoro a perceber que é igual ao que ele havia posto na mão da humana loira, se não o mesmo.

Será que eu entendi as coisas errado?

Olhando o sorriso no rosto dos dois e sentindo o jeito que eles estão felizes só consigo pensar que eu errei no meu julgamento.

E no fim Mingyu é um bom humano, que fará minha humana feliz.

Humanos são tão estranhos » » Kim Mingyu Onde histórias criam vida. Descubra agora