Capítulo 4

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Muita coisa havia mudado por aqui. Em mais de dois anos que Mingyu apareceu em nossas vidas tudo havia virado de cabeça para baixo. Fotos dos dois enfeitavam o móvel da sala, roupas dele se misturam com as dela no cabideiro perto da porta, o cheiro de café e caramelo está a tanto tempo no ambiente que nem estranho mais e já me era comum vê-lo entrar pela porta quase todos os dias ao lado de minha humana.

Hoje era um dia especial, pelo menos para mim, a chuva caía lá fora e deixava tudo melhor com aquele barulho gostoso de se ouvir, a noite estava fria e a lua iluminava o apartamento escuro e silencioso. Eu tinha a casa inteira só para mim depois de muito tempo dividindo com os dois. Eles saíram assim que anoiteceu e desde então, curto minha breve solidão.

Não me leve a mal, amo a companhia dos dois e ser paparicado, mimado e o centro das atenções, contudo, gosto de curtir meu próprio momento sozinho, ouvindo a chuva cair calma contra o vidro da janela.

Mas eu sabia que logo eles voltariam e meu momento acabaria tão rápido quanto o passarinho desesperado que fica no térreo do prédio.

Não demorou nem um minuto e os passos apressados soaram no corredor. O tec tec irritante e alto indicava que ela vinha na frente, suas botas batiam com força no piso e isso não é um bom sinal. Algo aconteceu, sem sombra de dúvida.

— Me espere! — a voz dele soa e ela aperta o passo até a porta.
Me assusto quando a porta se abre em um tranco, fazendo um barulho alto o suficiente para me fazer pular no sofá. Ae Ra deve estar louca ou algo do gênero. Sabia que algo estava fora do normal, mas já o motivo eu não faço ideia.

— Pode me dizer o que aconteceu lá pra te deixar assim? — A voz do humano sou calma, mas eu sabia que ele estava mais preocupado que tudo.

— Não foi nada de mais, só coisas da minha cabeça, não se preocupe. — ela diz, colocando suas coisas sobre a mesa sem nem ao menos olhar para ele.

Mingyu arqueia as sobrancelhas como se não tivesse acreditado e devo comentar que ele está certo, nem eu acreditei. As mãos dele circulam a cintura de Ae Ra e prefiro apenas ver aonde isso vai parar.

— Me diz... Não vou poder consertar nada sem saber o que fiz de errado.

— Quer mesmo saber? — Ae Ra finalmente se vira para encará-lo, sua voz soa zangada e eu quase me encolho ao ouvir esse tom firme e baixo, que ela sempre usa comigo quando eu faço algo errado. — Então me responde uma pergunta. Você já percebeu ou só finge que não notou para manter sua amizade?

— Do que está falando?

— Estou falando de Shin Sungyeon. — ela diz devagar e ele quase se afasta. — Não me leve a mal, não tenho nada contra ela. Sempre me tratou bem, é uma amiga incrível para você e eu também não devo me meter na amizade de vocês.

Tento entender o que ela diz, mas tudo o que roda a minha cabeça é o nome que ela disse e quem seria esse humano?

Seria a mulher loira que anda pra lá e pra cá com Mingyu?

— O problema é que você ainda não notou o que ela sente por você ou prefere não notar. — dessa vez ele a segura pelos ombros e faz um carinho onde suas mãos tocam.

— Ela é apenas minha amiga. — é estranho vê-lo ser tão cauteloso com ela, o homem quase sempre é animado com a voz alta e alegre, mas agora parece estar pisando em gelo fino. — Não tem porquê ter ciúme.

Palavra nova, sentimento novo e mais uma coisa que não faço ideia do que seja.

— Ciúme? Vai um pouco além disso. — ela respira fundo e olha para baixo. Levanto as orelhas para conseguir ouvir melhor. — Ela é alta, bonita, te conhece a muito tempo. Vê como ela olha para você? Vê a forma como ela sorri quando você está falando com ela?

Mingyu a encara espantado e recua um passo. Se antes cautela era sua prioridade agora ele parecia desapontado, quase como se ela tivesse o agredido, contudo, Ae Ra nem mesmo encostou nele.

— Não pense que estou supondo que você me trairia, confio em você, mas... Me corta o coração ver que você nota os sorrisos sugestivos e os retribui... Comparada à ela eu sou uma mísera poeira.

— Entendo... Estamos juntos há dois anos. Foram dois anos ao seu lado, dizendo o quanto você é importante para mim e o quanto eu te amo, mas parece que tudo foi jogado ao vento. — Mingyu fala tão baixo que nem entendo como consegui ouvi sua voz. Ele dá mais um passo para traz e ela finalmente o encara. — Parece que nada foi o suficiente para te fazer perceber que você é a pessoa certa para mim, eu só queria que você conseguisse se ver pelos meus olhos e se amar com metade da intensidade que eu te amo. — ele solta um longo suspiro. — Acho melhor eu ir para casa.

Ele dá as costas e me deito, esperando ouvir a voz de Ae Ra pedindo para ele ficar, mas tudo o que ouço é o barulho da porta se abrindo e fechando logo depois. Os passos de Mingyu ecoam pelo corredor e somem quando ele entra em seu apartamento.

Ouço um baque e só consigo correr até a figura encolhida da minha dona no chão, que mantinha suas mãos no rosto e as pernas junto ao corpo. Tento chamar sua atenção, tocando em suas pernas e miando para que ela me ouça. Suas mãos logo me pegam e me puxam para junto de seu corpo em um abraço desajeitado e molhado de recentes lágrimas.

— Eu não sou tudo isso Rainy. — Sua voz embarga e soa chorosa, bem diferente do tom firme. — Não vai demorar até que ele descubra.

Não entendi o que estava acontecendo, muito menos o porquê aconteceu, só queria ficar ali com ela até ver um sorriso em seu rosto novamente.

Humanos são tão estranhos » » Kim Mingyu Onde histórias criam vida. Descubra agora